As folhas do cedro ou as sombras da consciência?

Qui, 05/08/2010 - 11:08

Em um texto denso de lugares, pessoas e fatos, o autor da peça “As folhas do cedro”, Samir Yazbek, narra a história de um imigrante árabe do Líbano no Brasil. O texto versa sobre o dilema enfrentado por esses estrangeiros, principalmente do Oriente, de não conseguir separar-se do passado e da incapacidade de abraçar o presente. As perguntas levantadas são dolorosas. Quem somos? O que pretendemos? A fuga do passado e do presente representa uma alternativa real em uma existência fragmentada?

O intelectual palestino Edward Said descreve os imigrantes em geral e os exilados, em especial, como os “fora-do-lugar”, sendo “lugar” o espaço físico e espiritual. A experiência vivida por eles é descrita por Said como “ruptura incurável entre o Eu mais íntimo e um lugar primário, muitas vezes, imaginário”.

Não há respostas no texto de Samir Yazbek, apenas perguntas e questionamentos. O texto mexe com a ferida, deixa aberta e não prescreve analgésicos. Há insinuação, apenas insinuação de que a solução encontra-se dentro de nós, na reconciliação com nossa consciência, que tantas vezes tentamos ignorar ou oprimir.

A musicalidade da peça, que canta a perda, a saudade e as terras distantes, deixou minha alma nua, inquieta, trêmula e triste. Quantas transamazônicas restam mais para descobrir o sentido da minha vida, com sua complexidade passada e atual em um lugar que quero amar e longe do lugar que não quero esquecer?

O dilema é enfrentado também pelos nativos da terra, não apenas pelos imigrantes, isto é, a questão básica da existência humana nesse mundo atual. Um mundo sem alma ou, mais precisamente, um mundo de alma metálica.

Para entrar no paraíso prometido desse mundo, você precisa renunciar seu passado, sua tradição, as poucas certezas da sua vida, os arrimos que sustentam sua alma em troca de uma ilusão. E para acabar sua vida só.

A peça, o texto, são muito agradáveis, mas amargos. Tão amargos como um café feito à maneira árabe: tem um gosto inesquecível, tocante, chocante, mas refrescante.

Obrigado a todos os responsáveis, dos quais nomeio alguns: Samir, Hélio, Daniela, Gabriela, Marina, Mariza, Douglas etc. pela felicidade triste, pelos calafrios que me causaram na alma!

Abdel Latif Hasan Abdel Latif é palestino.