Adonis lança seu livro "Poemas" em encontro com o público em São Paulo
Em sua apresentação sobre o poeta ao público, Michel Sleiman contou passagens da vida do escritor abordando os principais momentos de sua poesia, como, por exemplo, quando Adonis se mudou para Beirute, no Líbano, em 1956, e lá criou, mais tarde, a revista Chiir, com o poeta e crítico Youssef al-Khal e, posteriormente, outra revista intitulada Mawáqif (Posições), ambas importantes referências para a modernização da poesia árabe.
Adonis e Michel recitaram poemas como “Amor” e “Espelho do Sono”, em árabe e português, respectivamente (leia abaixo). “O árabe é a língua da natureza, da pele, da improvisação. Você fala também através de todo o corpo. Eu ainda prefiro o árabe”, ressaltou o poeta, que vive em Paris desde 1985, quando perguntando pelo público se prefere escrever em árabe ou em francês. “O trabalho de tradução de poetas de outras línguas me fez conhecer melhor o meu próprio idioma. Eu me traduzo ao traduzir”, completou.
Adonis não foi só o principal renovador da poesia árabe, realizando uma revolução poética que, no Ocidente, exigiu o trabalho de inúmeros autores de diversas procedências. É, ainda hoje, uma das vozes fundamentais dessa cultura, na qual se destaca pela constante insubmissão à dominante religiosa. Na poesia de Adonis, mais do que a polifonia das várias vozes, encontramos o politeísmo das múltiplas verdades. Contra a certeza de um Deus, a verdade plural das musas. Não por acaso, adotou o nome de um deus pagão para assinar seus poemas – em que a presença da cultura prê-islâmica e pan-mediterrânea é fortíssima. Não se trata somente de um posicionamento poético, mas, sobretudo, político.
Embora entusiasta das manifestações conhecidas como Primavera Árabe, o poeta mantém-se crítico em relação aos desdobramentos, especialmente quando a demanda por liberdade é capturada por fundamentalistas islâmicos e pelas antigas nações coloniais. Também dissente das soluções armadas (seu pacificismo radical fica claro nos poemas sobre Beirute e Nova York, recolhidos nesta antologia). E repugna-o a hipocrisia do Ocidente: “Se os ocidentais querem defender os direitos humanos dos árabes, eles devem começar defendendo os direitos dos palestinos”, observou numa entrevista.
A publicação da antologia Adonis [poemas] (Companhia das Letras, 2012) culmina um trabalho de mais de dez anos do tradutor Michel Sleiman. “O contato com a poesia de Adonis se deu por estímulo do poeta paulistano Haroldo de Campos que o conhecera num encontro de poetas em Verona, ocorrido em 2001”, explica Michel Sleiman. De lá para cá, Michel tem traduzido e divulgado poemas de Adonis em revistas nacionais como Cult, Entrelivros, Coyote, Zunái, Poesia sempre e Metáfora.
A seguir, dois dos poemas com os quais Adonis presentou o público no encontro:
Amor
Me amam o caminho, a casa
e na casa uma jarra vermelha
amada pela água.
me amam o vizinho
o campo, a debulha, o fogo
me amam braços que trabalham
contentes do mundo descontentes
e os arranhões acumulados no peito
exaurido do meu irmão atrás
das espigas, da estação, como rubis
mais rubros que o sangue
Nasci e nasceu comigo o deus do amor
--- que fará o amor quando eu me for?
Espelho do sono
Dorme o herói
vigilante como onda
dorme a terra menina
sem a cabeça e travesseiro
dorm cadáver o pensamento fero e vermelho
órgãos letárgicos ó canais dos humores
do meu corpo e do corpo dos árabes
por onde e como acordo o que dorme?
O autor
ADONIS (pseudônimo de Ali Ahmad Said Esber) nasceu em 1930, num vilarejo da Síria. Estudou filosofia em Damasco. Editou duas revistas literárias (Chiir e Mawáqif), traduziu poetas ocidentais para o árabe e incentivou a produção jovem. Exilou-se no Líbano e, depois, em Paris. Publicou dezenove livros de poesia, além de ensaios e traduções. Em 2011, tornou-se o primeiro poeta árabe a ganhar o Prêmio Goethe, na Alemanha.
O tradutor
Michel Sleiman é autor do livro de poemas Ínula Niúla (Ateliê, 2009) e dos estudos sobre a poesia árabe e as questões ligadas à sua edição e tradução ao português: A poesia árabe-andaluza (Perspectiva, 2000) e A arte do zajal (Ateliê, 2007). É professor da Universidade de São Paulo e presidente do Instituto da Cultura Árabe.
Para mais informações:
www.michelsleiman.blogspot.com.br
www.icarabe.org
http://letrasorientais.fflch.usp.br/arabe/17
O livro
POEMAS
Adonis
Organização e tradução: Michel Sleiman
Apresentação: Milton Hatoum
Capa
Victor Burton
Páginas
262
Formato
14 x 21 cm
PESO (estimado)
0,327 kg
LOMBADA (estimada)
1,5 cm
Tiragem
3000 ex.
PREÇO
R$ 42,00
Previsão de lançamento
29/6/12
ISBN e código de barras
978-85-359-2124-3
Palavras-chave
poesia árabe, Síria, política
E-BOOK