al-Andaluz.
A escritora Marcia Ludmila nos brinda com este belo poema. Boa leitura!
Nos campos de al-Andaluz
Semeados por culturas diversas
Nos albores dos séculos X e XI
Brotavam aos olhos o arroz e os frutos cítricos.
Em Valéncia, ou em Elvira
– futura Granada de Espanha –
O canto dos muezzin
A despertar os homens para o trabalho,
Para o campo repleto de laranjas, limas e limões.
O murmúrio das águas a tocar
As rodas dos moinhos
– rodas d’água –
Como nos versos do poeta Ibn Waddah que,
Em Múrcia,
No século XII descrevia
Como que, surpreendido,
“O rugido do leão e as contorções da serpente”
Para simbolizar o som e o movimento das águas nas rodas,
Nas pás do moinho insigne
Nas voltas que o tempo dá
Na complexa eternidade dos dias.
Dias caiados de sol,
De luz e branca cor
Reflexo dourado dos botões
Das laranjeiras, dos pés de lima
E do fragrante olor cítrico dos limões
A refrescar o olfato
E abrasar os sentidos
Para lembrar aos homens no campo
O perfume de açucena da mulher que os esperava
Envolta em véus
– velada musa, musa amada –
A deitar cravos e macis na vasilha
Ao fogo dos dias.
Cálidas noites de al-Andaluz
Refrescadas pelo som das rodas d’água
Mergulhadas em luz,
Pedriscos e fagulhas
De lua.
No leito as peles nuas
– macias e morenas,
pálidas e maduras –
Fremiam ao som da água pura,
Da lima descascada,
Do damasco mordiscado
E abandonado no prato
Pousado no tapete.
A água a infiltrar-se nas ranhuras das pedras
A despejar vida onde vida havia.