Em encontro com leitores, Milton Hatoum fala sobre seu próximo livro
O escritor descendente de libaneses Milton Hatoum conversou com leitores na última segunda-feira (27) sobre suas obras e o novo livro que está escrevendo, que tem o título provisório de “O lugar mais sombrio” e trata da história de grupo de jovens, no contexto da ditadura militar em São Paulo (SP) e em Brasília (DF). O bate-papo ocorreu no auditório da Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, na zona sul de São Paulo, promovido pelo grupo Lente Cultural.
“Era um romance que eu queria escrever sobre uma trajetória em Brasília e em São Paulo, mas não deu certo, porque eu não tinha um distanciamento (da realidade representada). Era algo mais jornalístico (que estava fazendo). Queimei os manuscritos e, vinte anos depois, comecei a escrever ‘Cinzas do Norte’”, contou ao público. De acordo com o escritor, a intenção é que os novos manuscritos fiquem prontos até julho ou agosto deste ano, para que a a obra seja publicada ainda em 2017. O romance “Cinzas do Norte” foi publicado em 2015 baseando-se no cotidiano de Manaus (AM), Rio de Janeiro (RJ) e Londres, capital da Inglaterra, também no contexto da ditadura militar no Brasil.
Hatoum falou sobre o contato com os locais sobre os quais escreve. “Escrevi ‘Dois Irmãos‘ quando estava em São Paulo. O mais importante é a imaginação, como você constrói o imaginário”, afirmou em referência à obra ambientada em Manaus, cidade onde Hatoum nasceu, que foi transformada em série televisiva.
O escritor ainda tratou do tema da política na literatura, presente em suas obras. Ele afirmou que seus livros não chegam a ser romances políticos. “A política pode estar na vida dos personagens e em sua trajetória, mas o romance político tem outra dimensão”, afirmou o escritor, que foi perseguido pela ditadura quando estudante de Arquitetura da USP (Universidade de São Paulo), época em que começou a escrever pela primeira vez “O lugar mais sombrio”.
Participou também do bate-papo o mestre em História pela FFLCH-USP, Plinio Freire, que analisou a obra de Hatoum, e entre outros tópicos, abordou a forma como os livros ambientam Manaus. “É inevitável não ter a sensação de que estamos na Amazônia, longe de onde estamos (em São Paulo)”, refletiu.