Entrevista: tradutora Safa Jubran contribui para divulgação da literatura árabe no Brasil
Acadêmica é vencedora de um prêmio nacional e outro internacional na área
Por Jéssica Marques
A tradutora Safa Jubran contribui diretamente para a divulgação da literatura árabe no Brasil, difundindo assim a cultura da região. A acadêmica é vencedora de um prêmio nacional e outro internacional nesta área de atuação.
“Como tradutora, contribuo para a divulgação da literatura árabe, permitindo a disponibilização de títulos ao leitor brasileiro em língua nacional, e, assim fazendo, estarei encurtando distâncias, atenuando estranhamentos, alargando horizontes, permitindo o diálogo intercultural através da literatura, enfim, dando a oportunidade aos leitores de língua portuguesa de ter acesso a esta literatura tão rica”, disse.
Confira a entrevista do Instituto da Cultura Árabe – ICArabe com Safa Jubran, na íntegra:
ICArabe - Como surgiu o seu interesse pela área de língua e literatura árabes?
Safa Jubran - Desde pequena, gostava de árabe, era minha matéria preferida na escola, cresci gostando de ler e quando me estabeleci no Brasil, continuei meus estudos na USP, me formei em Língua, Literatura e Cultura Árabe, pelo Departamento de Letras Orientais. Na mesma Universidade, obtive o Mestrado e Doutorado e onde leciono desde 1992, sendo Livre Docente em Língua Árabe.
ICArabe - Até o momento, quantos livros você já traduziu do árabe para o português?
Safa Jubran - Só para contar os romances, foram 11, tendo ainda mais quatro no prelo que sairão no próximo ano. Atualmente, fazendo a programação para os próximos três anos.
ICArabe - Em sua visão, qual a importância do seu trabalho de traduzir essas obras?
Safa Jubran - Como tradutora, contribuo para a divulgação da literatura árabe, permitindo a disponibilização de títulos ao leitor brasileiro em língua nacional, e, assim fazendo, estarei encurtando distâncias, atenuando estranhamentos, alargando horizontes, permitindo o diálogo intercultural através da literatura, enfim, dando a oportunidade aos leitores de língua portuguesa de ter acesso a esta literatura tão rica.
ICArabe - Quais prêmios nesta área de língua árabe e literatura você recebeu ao longo de sua carreira?
Safa Jubran - Foram dois. Um nacional em 2014, da Academia Brasileira de Letras, pela tradução de E nós cobrimos seus olhos, de Ala Aswany e o outro internacional em 2019, Sheikh Hamad Award for Translation and International Understanding, pelo conjunto de obras traduzidas ao português.
ICArabe - A que fatores atribui seu sucesso nesta atuação?
Safa Jubran - Eu não sei se tenho sucesso, ou se busquei ou busco isso, eu apenas faço meu trabalho com amor e dedicação. Amo a língua e a literatura árabes e faço tudo que estiver ao meu alcance para divulgá-las.
ICArabe - Quais são os principais desafios profissionais que você enfrenta como tradutora? Como faz para superá-los?
Safa Jubran - Como tradutora, os desafios são de fazer crescer o interesse pela literatura árabe, e isso só pode ser feito através da tradução e publicação das obras. Um outro grande desafio é levar a literatura brasileira até o leitor árabe e para isso é preciso estimular o interesse das editoras do Mundo Árabe, que na verdade, já existe, mas muito tímido.
ICArabe - Que avanços ainda são necessários no que diz respeito à difusão da cultura e literatura árabe no Brasil?
Safa Jubran - A meu ver, faltam atitudes efetivas e mais sérias da parte de indivíduos e de entidades árabes do Brasil, de apoio a quem produz e publica esta literatura traduzida. Eu penso que empresários, com inciativa individual, ou conjunta, através, por exemplo, do braço cultural da Câmara de Comércio Árabe-Brasil, poderiam apoiar projetos de tradução. Isto em termos de custo é mínimo para quem apoia, mas pode ser muito para quem recebe para desenvolver o trabalho. Isso é prática no munda inteiro seria bom copiá-la.
ICArabe - Por que estes pontos são importantes e como garantir que estes avanços ocorram?
Safa Jubran - Hoje em dia, já temos no Brasil excelentes tradutores de árabe, temos editores e editoras interessadas, o que falta, muitas vezes, é esse incentivo do setor privado, estímulo que podemos observar quando se trata de outras culturas e outras literaturas.
ICArabe - Como estimular o interesse das gerações mais jovens pela cultura árabe?
Safa Jubran - Eu realmente não sei responder a isso, quero dizer, eu não tenho fórmula para isso, mas entendo que antes de tudo é preciso apresentar ao jovem os produtos culturas de nível, disponibilizá-los em todos suas faces e a literatura é uma delas, além de promover eventos culturais, ofertando-os a maior número de pessoas. Penso que ao oferecer uma educação de boa qualidade aos jovens já estimula o interesse neles pela cultura em geral e não só árabe.