Ciclo de conversas sobre Cultura Árabe e Islâmica: Plínio Freire aborda o tema “O véu e o conflito da visibilidade”
O véu passou a ocupar o centro de uma controvérsia sem precedentes. Apresentado ora como símbolo da fé muçulmana ora como protótipo da opressão feminina – e com frequência ambos – este adereço se transformou numa das mais candentes questões políticas do Islam na modernidade.
O tema, situado na fronteira entre identidade e choque cultural, merece uma compreensão histórica mais ampla. Porque o véu coloca em cena um antigo conflito de visibilidade ainda não resolvido. É onde duas grandes culturas do visível se contrapõem. De um lado, o mundo helenístico e depois cristão que considera a visão como o mais alto dos sentidos. Na medida em que Deus “se mostra” ao homem através do corpo de Cristo, instaura-se para o cristianismo o acesso às imagens. Tudo aquilo que pertencia à ordem do poder-ver assumiu uma enorme importância. Já na cultura islâmica verifica-se o contrário. Desconfia-se do olhar, porque constitui o maior aliado da libido. Ver é abrir a porta do desejo. Ora, o Islã é uma religião da temperança. A cultura árabe-muçulmana baseia-se em dispositivos para evitar o olhar: Allah é uma divindade invisível, a Ka’aba é coberta pela kiswa, as fachadas não têm janelas e sim musharabias. O véu é apenas outro destes dispositivos; e serve para subtrair as mulheres do visível, porque elas são sagradas e preciosas.
Plínio Freire tem extensa vivência de estudos na Itália e no Oriente Médio com foco no renascimento e Cultura Árabe e Islâmica. Também atua como conferencista e docentes em cursos livres do Masp, Museu de Arte Sacra, Casa do Saber, Fundação Ema Klabin, Museu da Arte Moderna e Centro Universitário Maria Antonia/USP.
No dia 2 de agosto, será a vez do diretor e curador da “Mostra Mundo Árabe de Cinema”, Geraldo Adriano Godoy de Campos, apresentar o tema “Cinema Árabe na Atualidade”. Campos é professor de Sociologia das Relações Internacionais na ESPM, pesquisador da Cátedra Edward Said (Unifesp), curador musical da Biblioteca Mário de Andrade, produtor musical e doutorando de Filosofia Política na USP com pesquisa sobre o cinema palestino contemporâneo
O Ciclo tem coordenação de Heloisa Abreu Dib Julien, secretária geral do ICArabe, com apoio de Yasmin Fahs, Natalia Nahas Carneiro Maia Calfat e Jamile Abou Nouh, membros da Diretoria do Instituto.
Serviço
Ciclo de Conversas sobre Cultura Árabe
Livraria Martins Fontes – Av. Paulista, 509
Horário das palestras: das 19h30 às 21h30
22/07, sexta-feira, das 19h30 às 21h30
O véu e o conflito da visibilidade - Plinio Freire
02/08, terça-feira, das 19h30 às 21h30
Cinema Árabe na atualidade - Geraldo Adriano Godoy de Campos