Artistas da Bienal de São Paulo se dissociam do financiamento de Israel
A informação foi publicada pelo artista plástico, arquiteto e escritor libanês Tony Chakar, o mesmo que divulgou em sua página oficial do Facebook o manifesto de repúdio na semana passada.
"A grande maioria dos artistas desse evento não apenas mostrou que tem agência ao demandar transparência referente ao financiamento de eventos culturais, mas também levantou a questão fundamental de como o financiamento pode comprometer e minar seu trabalho. Além disso, a luta por autodeterminação do povo palestino se reflete nos trabalhos de muitos artistas e participantes da Bienal, envolvidos com direitos humanos e lutas populares em escala global. A opressão de um é a opressão de todos", diz trecho da carta lançada nesta segunda.
Henrique Sanchez, membro do Movimento Palestina para Tod@s (Mop@t), formado por ativistas da causa palestina que atua no Brasil desde 2008, avaliou que a desvinculação do apoio de Israel à Bienal foi uma importante vitória do movimento internacional de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) em relação à solidariedade ao povo palestino.
“Foi uma importante vitória no sentido de se contrapor à normalização cultural do Estado israelense e suas inúmeras violações do direito internacional. Abre também precedentes para a construção de amplas ações, iniciativas e campanhas de boicote cultural no Brasil", diz.
Leia a seguir os documentos divulgados pelos artistas:
Nós, a maioria dos artistas e participantes da 31ª Bienal de São Paulo, que nos opusemos a qualquer associação de nossos trabalhos com o financiamento do Estado de Israel, tivemos, hoje, nosso apelo ouvido pela Fundação Bienal de São Paulo.
Há uma semana fomos confrontados com o fato de que o Estado de Israel figura como um dos financiadores da exposição como um todo, o que, para a maioria de nós, é inaceitável. Após negociações coletivas, a Fundação Bienal de São Paulo se comprometeu a desassociar claramente o financiamento israelense do financiamento total da exposição. O logo do Consulado de Israel, que havia sido apresentado como patrocinador master do evento, agora será relacionado aos artistas israelenses que receberam aquele apoio financeiro específico. Essa transparência será aplicada a todos os financiamentos nacionais para artistas na Bienal.
Nós, artistas e participantes da 31ª Bienal São Paulo, recusamos apoiar a normalização das ocupações conduzidas continuamente por Israel na Palestina. Acreditamos que o apoio cultural do Estado de Israel contribui diretamente para manter, defender e limpar suas violações de leis internacionais e direitos humanos.
Os artistas deste evento não apenas mostraram que têm organização ao demandar transparência referente ao financiamento de eventos culturais, mas também levantaram a questão fundamental de como o financiamento pode comprometer e minar a razão de existência de seus trabalhos.
A luta por autodeterminação do povo Palestino se reflete nos trabalhos de muitos artistas e participantes da Bienal, envolvidos com direitos humanos e lutas populares em escala global.
A opressão de um é a opressão de todos.
Carta aberta à Fundação Bienal de São Paulo,
Nós, artistas participantes da 31ª Bienal de São Paulo, fomos repentinamente confrontados, a poucos dias da abertura da exposição, com o fato de que a Fundação Bienal de São Paulo aceitou financiamento do Estado de Israel e de que o logo do Consulado de Israel está presente no pavilhão, nas publicações e no website do evento.
Enquanto o povo de Gaza retorna aos escombros de suas casas destruídas pelo exército israelense, nós achamos inaceitável receber o apoio cultural de Israel. Ao aceitar esse financiamento nosso trabalho artístico mostrado na exposição está sendo implicitamente utilizado para limpar as continuadas agressões conduzidas por Israel e suas violações da lei internacional e de direitos humanos. Nós recusamos essa tentativa de Israel de normalizar sua presença no contexto deste importante evento cultural brasileiro.
Com essa declaração, apelamos à Fundação Bienal que recuse o financiamento e atue sobre a questão antes da abertura da exposição.
1. Agnieszka Piksa
2. Alejandra Riera
3. Ana Lira
4. Andreas Maria Fohr
5. Asier Mendizabal
6. Chto Delat collective: Dmitry Vilensky, Tsaplya Olga Egrova, Nikolay Oleynikov
7. Danica Dakic
8. Débora Maria da Silva and Movimento Mães de Maio
9. Erick Beltran
10. Etcetera... / Federico Zukerfeld/Loreto Garin Guzman
11. Farid Rakun
12. Francisco Casas y Pedro Lemebel (Yeguas del Apocalipsis)
13. Gabriel Mascaro
14. Graziela Kusch
15. Grupo Contrafilé
16. Gulsun Karamustafa
17. Halil Altindere
18. Heidi Abderhalden
19. Imogen Stidworthy
20. Ines Doujak
21. Jakob Jakobsen
22. John Barker
23. Jonas Staal
24. Lia Perjovschi and Dan Perjovschi
25. Liesbeth Bik and Jos van der Pol
26. Lilian L'Abbate Kelian
27. Loreto Garin
28. Luis Ernesto Díaz
29. Mapa Teatro-Laboratorio de Artistas
30. María Berríos
31. Maria Galindo & Esther Argollo, Mujeres Creando
32. Mark lewis
33. Marta Neves
34. Michael Kessus Gedalyovich
35. Miguel A. López
36. Nilbar Güres
37. Otobong Nkanga
38. Pedro G. Romero Archivo F.X.
39. Prabhakar Pachpute
40. Rolf Abderhalden
41. Romy Pocztaruk
42. Ruanne Abou-Rahme Basel Abbas
43. Sandi Hilal and Alessandro Petti
44. Santiago Sepúlveda
45. Sergio Zevallos
46. Sheela Gowda
47. Tamar Guimarães e Kasper Akhøj
48. Thiago Martins de Melo
49. Tiago Borges
50. Tony Chakar
51. Voluspa Jarpa
52. Walid Raad
53. Ximena Vargas
54. Yael Bartana
55. Yonamine
Fonte: Brasil de Fato