Artistas da Bienal de São Paulo se dissociam do financiamento de Israel

Ter, 02/09/2014 - 16:25
A Fundação Bienal de São Paulo anunciou nesta segunda-feira (01) que não irá mais aceitar o apoio e financiamento de Israel à 31ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, que terá sua abertura na próxima sexta-feira (6). A decisão foi tomada após um grupo formado por 55 artistas lançar uma carta de repúdio ao apoio israelense ao evento.

A informação foi publicada pelo artista plástico, arquiteto e escritor libanês Tony Chakar, o mesmo que divulgou em sua página oficial do Facebook o manifesto de repúdio na semana passada.

"A grande maioria dos artistas desse evento não apenas mostrou que tem agência ao demandar transparência referente ao financiamento de eventos culturais, mas também levantou a questão fundamental de como o financiamento pode comprometer e minar seu trabalho. Além disso, a luta por autodeterminação do povo palestino se reflete nos trabalhos de muitos artistas e participantes da Bienal, envolvidos com direitos humanos e lutas populares em escala global. A opressão de um é a opressão de todos", diz trecho da carta lançada nesta segunda.

Henrique Sanchez, membro do Movimento Palestina para Tod@s (Mop@t), formado por ativistas da causa palestina que atua no Brasil desde 2008, avaliou que a desvinculação do apoio de Israel à Bienal foi uma importante vitória do movimento internacional de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) em relação à solidariedade ao povo palestino.

“Foi uma importante vitória no sentido de se contrapor à normalização cultural do Estado israelense e suas inúmeras violações do direito internacional. Abre também precedentes para a construção de amplas ações, iniciativas e campanhas de boicote cultural no Brasil", diz.

Leia a seguir os documentos divulgados pelos artistas:

Nós, a maioria dos artistas e participantes da 31ª Bienal de São Paulo, que nos opusemos a qualquer associação de nossos trabalhos com o financiamento do Estado de Israel, tivemos, hoje, nosso apelo ouvido pela Fundação Bienal de São Paulo.

Há uma semana fomos confrontados com o fato de que o Estado de Israel figura como um dos financiadores da exposição como um todo, o que, para a maioria de nós, é inaceitável. Após negociações coletivas, a Fundação Bienal de São Paulo se comprometeu a desassociar claramente o financiamento israelense do financiamento total da exposição. O logo do Consulado de Israel, que havia sido apresentado como patrocinador master do evento, agora será relacionado aos artistas israelenses que receberam aquele apoio financeiro específico. Essa transparência será aplicada a todos os financiamentos nacionais para artistas na Bienal.

Nós, artistas e participantes da 31ª Bienal São Paulo, recusamos apoiar a normalização das ocupações conduzidas continuamente por Israel na Palestina. Acreditamos que o apoio cultural do Estado de Israel contribui diretamente para manter, defender e limpar suas violações de leis internacionais e direitos humanos.

Os artistas deste evento não apenas mostraram que têm organização ao demandar transparência referente ao financiamento de eventos culturais, mas também levantaram a questão fundamental de como o financiamento pode comprometer e minar a razão de existência de seus trabalhos.

A luta por autodeterminação do povo Palestino se reflete nos trabalhos de muitos artistas e participantes da Bienal, envolvidos com direitos humanos e lutas populares em escala global.

A opressão de um é a opressão de todos. 


Carta aberta à Fundação Bienal de São Paulo,

Nós, artistas participantes da 31ª Bienal de São Paulo, fomos repentinamente confrontados, a poucos dias da abertura da exposição, com o fato de que a Fundação Bienal de São Paulo aceitou financiamento do Estado de Israel e de que o logo do Consulado de Israel está presente no pavilhão, nas publicações e no website do evento.

Enquanto o povo de Gaza retorna aos escombros de suas casas destruídas pelo exército israelense, nós achamos inaceitável receber o apoio cultural de Israel. Ao aceitar esse financiamento nosso trabalho artístico mostrado na exposição está sendo implicitamente utilizado para limpar as continuadas agressões conduzidas por Israel e suas violações da lei internacional e de direitos humanos. Nós recusamos essa tentativa de Israel de normalizar sua presença no contexto deste importante evento cultural brasileiro.

Com essa declaração, apelamos à Fundação Bienal que recuse o financiamento e atue sobre a questão antes da abertura da exposição.


1. Agnieszka Piksa

2. Alejandra Riera 

3. Ana Lira

4. Andreas Maria Fohr

5. Asier Mendizabal

6. Chto Delat collective: Dmitry Vilensky, Tsaplya Olga Egrova, Nikolay Oleynikov

7. Danica Dakic

8. Débora Maria da Silva and Movimento Mães de Maio

9. Erick Beltran

10. Etcetera... / Federico Zukerfeld/Loreto Garin Guzman

11. Farid Rakun

12. Francisco Casas y Pedro Lemebel (Yeguas del Apocalipsis)

13. Gabriel Mascaro 

14. Graziela Kusch 

15. Grupo Contrafilé

16. Gulsun Karamustafa

17. Halil Altindere

18. Heidi Abderhalden

19. Imogen Stidworthy

20. Ines Doujak 

21. Jakob Jakobsen

22. John Barker 

23. Jonas Staal

24. Lia Perjovschi and Dan Perjovschi

25. Liesbeth Bik and Jos van der Pol

26. Lilian L'Abbate Kelian

27. Loreto Garin

28. Luis Ernesto Díaz

29. Mapa Teatro-Laboratorio de Artistas

30. María Berríos

31. Maria Galindo & Esther Argollo, Mujeres Creando

32. Mark lewis 

33. Marta Neves

34. Michael Kessus Gedalyovich

35. Miguel A. López

36. Nilbar Güres

37. Otobong Nkanga

38. Pedro G. Romero Archivo F.X.

39. Prabhakar Pachpute

40. Rolf Abderhalden 

41. Romy Pocztaruk

42. Ruanne Abou-Rahme Basel Abbas

43. Sandi Hilal and Alessandro Petti

44. Santiago Sepúlveda 

45. Sergio Zevallos

46. Sheela Gowda 

47. Tamar Guimarães e Kasper Akhøj

48. Thiago Martins de Melo

49. Tiago Borges

50. Tony Chakar

51. Voluspa Jarpa

52. Walid Raad

53. Ximena Vargas

54. Yael Bartana

55. Yonamine


 

Fonte: Brasil de Fato