Ciclo de Conversas do ICArabe: Salem Nasser aborda histórico e fronteiras do Mundo Árabe

Ter, 17/05/2016 - 00:02
Teve início na última sexta-feira (13) a primeira palestra do Ciclo de Conversas sobre Cultura Árabe e Islâmica, promovido pelo ICArabe em parceria com a Livraria Martins Fontes, em São Paulo. O ex-presidente do Instituto e professor de Direito Internacional da a FGV, Salem Nasser, falou para mais de sessenta pessoas sobre o tema “De Sykes-Picot aos nossos dias – as fronteiras do Oriente Médio”.

“A questão palestina é fundamentalmente político-territorial: entender como o território foi perdido, voltar no tempo e pensar nas fronteiras”, afirmou Nasser. “A história do Oriente Médio é de diversas humilhações no século XX, o que inclui a criação do Estado de Israel e as suas diversas operações militares. Durante séculos, os árabes também viram uma decadência sob o Império Otomano. Também houve a mudança das fronteiras sobre as duas potências da época, a França e o Reino Unido, a impossibilidade de escolhermos o nosso próprio destino”, disse.

O Acordo de Sykes-Picot dividiu o Oriente Médio entre áreas de influência das duas nações em 1916 e as consequências da divisão são vistas como justificativas para os conflitos atuais. “A questão vai se relacionar com o sectarismo na religião, nos grupos étnicos que conviveram ao longo da História. A questão sectária vai se apresentar como explicação. Hoje em dia, em certa medida, é apresentada não só como origem do problema, mas como solução”, afirmou Nasser sobre a ideia de separar os grupos em diferentes regiões.

O professor, porém, discorda dessa visão. “Quando se faz muitas vezes a crítica ao Sykes-Picot, fala-se que a divisão deveria ter sido outra. Criaram, por exemplo, um Líbano que tinha cristãos e xiitas. Mas seria uma coisa impossível, não havia essa separação estanque, apenas regiões de preponderância (de etnias ou grupos religiosos), o que existe ainda hoje”, declarou. “Claro que quando existe uma guerra civil, as pessoas tendem a ir cada um para o seu lado.”

Salem ressaltou que é necessário discutir no Brasil o Mundo Árabe, normalmente visto pelos aspectos territorial e religioso. “O ICArabe faz esse esforço para apresentar esses dois temas para quem normalmente conhece pouco.”

Para a estudante Marilia Gouveia, 19, a primeira palestra do Ciclo trouxe um tema muito interessante. “A América Latina e o Oriente Médio se assemelham na condição de subdesenvolvimento, o colonialismo que também pegou a gente. É importante discutir para se construir a emancipação do imperialismo”, defendeu.

O Ciclo tem coordenação de Heloisa Abreu Dib Julien, secretária geral do ICArabe, com apoio de Yasmin Fahs, Natalia Nahas Carneiro Maia Calfat e Jamile Abou Nouh, membros da Diretoria do Instituto.

A próxima palestra do ciclo será no dia 30 deste mês com o escritor Plinio Freire e o tema “O pavão, a rosa e a trama – a tapeçaria persa”. Outros palestrantes serão o escritor Milton Hatoum, curador da Mostra Mundo Árabe de Cinema, Geraldo Adriano Campos, e a professora do Departamento de Letras Orientais da USP, Safa Jubran. Serão mais cinco seminários até julho, todos das 19h30 às 21h30.

Programação:

(30/05) “O pavão, a rosa e a trama – a tapeçaria persa” – Plinio Freire

(08/06) “Ficção, Memória e História” – Milton Hatoum

(21/06) “Literatura Árabe e suas traduções no Brasil” – Safa Jubran

(18/07) “Cinema Árabe na atualidade” – Geraldo A. Godoy

(22/07) “O véu e o conflito da visibilidade” – Plinio Freire