Lula homenageia comunidade árabe no Monte Líbano

Qua, 31/03/2010 - 13:12

No dia 25 de março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou de um jantar em comemoração ao Dia Nacional da Comunidade Árabe no Brasil, promovido pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira no Clube Monte Líbano, em São Paulo. Estiveram presentes diversos representantes de entidade árabes do país, entre eles o Instituto da Cultura Árabe (ICArabe), e autoridades políticas.

O evento reuniu cerca de mil pessoas e contou com a presença do governador do Estado de São Paulo, José Serra, do prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab, da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e de mais cinco ministros (de origem árabe). Compareceram ainda o presidente da Câmara Federal, Deputado Michel Temer, os senadores Romeu Tuma e Eduardo Suplicy, vários deputados federais, estaduais e vereadores, os 13 embaixadores árabes credenciados no Brasil, o presidente da FIESP Paulo Skaf e várias outras personalidades. Entre os membros da diretoria do ICArabe que participaram do jantar estavam Heloisa Abreu Dib Julien, 1ª secretária do Instituto, Gabriel Sayegh, secretário-geral, e José Farhat, conselheiro fiscal.

Em seu discurso, que realizou de improviso, Lula homenageou a comunidade árabe no Brasil e ressaltou a importância desse povo para o desenvolvimento do país. “Nós devemos muito a vocês, porque o povo árabe ajudou o Brasil a ser o que o Brasil é. Vocês ajudaram a economia brasileira, a cultura, a medicina, a arte”, disse o presidente. Entretanto, a maior parte da fala de Lula foi dedicada às relações internacionais e comerciais entre o Brasil e o oriente Médio, principalmente sobre os esforços do país em participar ou mediar um eventual processo de paz entre Israel e a Palestina. “Eu posso dizer para vocês que o Brasil pode dar uma contribuição extraordinária para ajudar a construir a paz no Oriente Médio”, garantiu o presidente. Para ele o Brasil não é inferior aos Estados Unidos ou à Europa nessa mediação e rebateu críticas de que estaria sendo pretensioso ao se envolver na questão.

Lula criticou Israel por ter construído o muro de 750 km que corta a Cisjordânia. “Não é uma coisa nobre para o século XXI. Eu me senti em uma eclusa, tanto para ir para a Palestina quanto para voltar. Você para num local, fecha as portas, desce do carro, entra num outro carro, e aí atravessa”, contou.

As declarações sobre a paz foram encerradas com a citação da situação do Irã. “Não quero que se repita no Irã o que aconteceu com o Iraque”, disse. “As grandes potências inventaram a mentira das armas químicas e até agora ninguém mostrou nada”. Ele lembrou ainda que invadiram o estado iraquiano, derrubaram e mataram Saddam Hussein “e até agora não existem sinais de que o Iraque está mais tranquilo do que estava antes, porque as mortes lá estão acontecendo às dezenas, às centenas e aos milhares”, destacou. Lula disse ainda que quer que o Irã tenha o direito de enriquecer urânio para produzir energia elétrica, para cuidar da indústria farmacêutica e para produzir remédios, assim como o Brasil também tem.

Lula foi o primeiro chefe de estado brasileiro a viajar pelo Oriente Médio. Antes dele, apenas Dom Pedro II havia feito o mesmo roteiro. Desde o início de seu governo, entre 2003 e 2009, o volume de negócios entre o País e o mundo árabe cresceu 167%. Ao reforçar a importância das relações comerciais com o Oriente Médio, o presidente lembrou que a diversificação do comércio exterior ajudou o país a superar a crise econômica do ano passado. “Sem isso, teríamos afundado”, explicou.

Para José Farhat, a celebração da data com a presença do presidente da república foi muito importante já que homenageou a saga de todos os árabes que vieram ao Brasil, lutaram e se enraizaram. “Lula tem procurado estreitar as relações com o mundo árabe, não somente do Brasil e sim de toda a América do Sul, com não um mas com todos os países árabes”, afirma. Segundo ele o discurso do presidente demonstrou, principalmente, que ele entendeu o drama palestino e a luta pela paz no Oriente Médio, evitando que se faça no Irã aquilo que foi feito no Iraque. “O ICArabe se fez representar neste evento tão importante para a paz, pois, sem paz, não há espaço para a cultura”, ressalta. 

 

Relações comerciais X processo de paz

Apesar das críticas que fez a Israel sobre a forma como aquele Estado vem castigando a Palestina, o governo do presidente Lula não deixou de também investir em relações comerciais com o mesmo. Em 2005, Lula iniciou o processo de desenvolvimento do Tratado de Livre Comércio (TLC) Mercosul-Israel, que foi ratificado pelo Congresso Nacional brasileir e passou a vigorar no final de 2009. Assim, não foi só o interesse no comércio com os países árabes que aumentou.

Na opinião de Arlene Clemesha, professora de história árabe e diretora do Centro de Estudos Árabes da Universidade de São Paulo, Brasil, "o processo de paz só será reaberto se o Estado de Israel se sentir fortemente pressionado para isso. Em 1990, para levar Israel à mesa denegociações na Conferência de Madri, os EUA congelaram 10 bilhões em negociações de empréstimo. Hoje, o Braisl é o terceiro maior importador mundial do Estado de Israel e deve usar essa posiçãpo como meio de pressionar aquele Estado a atender as exigências da ONU e da Lei Internacional, como, por exemplo, parar toda construção em assentamentos e desocupar Jerusalém oriental".