Gabriel Bonduki
Em ‘Meu amor me espera no oceano’ (“My Love Awaits Me By The Sea” ; Jordânia, Palestina, Alemanha, Qatar – 2012), Mais Darwazah recria o universo poético do artista plástico palestino Hasan Hourani e retorna à sua Palestina natal em busca das paisagens e caminhos, de depoimentos marcantes dos habitantes da terra, das cores, vozes, retratos, sons, música, acompanhando os registros desse artista que fez do seu um país quase imaginário, capaz de suportar a situação sufocante a que estava, e ainda está, submetido.
As imagens cuidadosamente justapostas perseguem traços que remetem aos versos e desenhos de seus livros: fotografias da costa, pegadas na areia, ruas de comércio, paisagens de plantações e pastagens, árvores cortadas, numa tentativa de achar o caminho idílico para o mar, e mostrando a ansiosa angústia de todo um povo, entre outras coisas, proibido de sequer se aproximar do oceano.
O mar está diante da antiga rua “Arúss t’il Bahr” (A Noiva do Mar), na cidade de Jaffa, local que passou a ser considerado área de segurança, à qual os palestinos são proibidos de ter acesso.
Num dos depoimentos, Mais Darwazah pergunta ao jovem casal como eles conseguem aguentar, quando acordam todo dia de manhã. Como suportam a vida com toda essa pressão? E a resposta vem dos entreolhares entre os dois, que permanecem quietos, enquanto a mulher apenas declara: “pergunta difícil…”. Já o marido, em outro momento, diz que o que desejam é simplesmente ter uma vida comum e direitos de cidadania que lhes são negados há tanto tempo, em um país do qual se consideram os mais antigos habitantes originais e legítimos cidadãos.
Os mais jovens demostram uma esperança de que logo terão sua cidadania plena reconhecida e sua vida respeitada, a despeito de tudo que já passaram, numa percepção de que a maioria dos povos do mundo já se convenceu da necessidade de compensação imediata e correção das injustiças que contra os palestinos vêm sendo cometidas.
Essa poética percorre todo o filme, numa viagem em que Hasan é o viajante imaginário (“the traveler”), que acompanha Mais Darwazah à procura de uma pureza original, representada pelas águas do mar de Jaffa, em que ele se afogou aos 29 anos.
Hasan está em todo lugar
“A terra verde está coberta de nuvens, a terra sonhada está espremida, sufocada entre o céu e o mar, fechada por todos os lados em todas suas fronteiras. Mas o viajante, porque amava as nuvens, fez das nuvens seu lar, depois que todas as fronteiras ficaram tão rígidas.”
“Ele era um pássaro apaixonado por um peixe, entre os dois havia a tênue linha da água, que eles cortavam juntos por um simples beijo. Essa é sua breve história. Entre um beijo e outro suas vidas seguiram seu curso, no mar vivia um peixe e no céu vivia um pássaro.”
Hasan Hourani (1974-2003)
Mais Darwazah trabalhou em distintos lugares do Oriente Médio com arquitetura, design gráfico e documentários televisivos. Sua carreira no cinema começou com a realização de curta-metragens experimentais. Após concluir sua graduação em arquitetura na Inglaterra, realizou um Mestrado em Direção de Documentários em Edimburgo. Seu filme “Take me home” (54’ 2002) foi exibido em mais de 20 festivais internacionais de cinema. Ela vive e trabalha na Jordânia.
Serviço:
“Meu amor me espera no oceano” na 9ª Mostra Mundo Árabe de Cinema
sábado, dia 23 de agosto, às 20h
Onde: Cineclube Latino-Americano – Memorial da América Latina
Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664 Portão 8 – Barra Funda – 11 3823-4782
Ingressos: R$ 5,00
4 de setembro, às 19h30, e 14 de setembro, às 16h
CCBB-SP – Centro Cultural Banco do Brasil
Sessões de quarta a domingo
Ingressos: R$ 4,00 e R$ 2,00 (meia-entrada)
Cinema: 70 lugares
Rua Álvares Penteado, 112 – Centro – SP
Próximo às estações Sé e São Bento do Metrô
Informações: (11) 3113-3651
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Confira a programação completa da Mostra em http://www.mundoarabe2014.icarabe.org/index.html
