Confira o 24º verbete da série do ICArabe, que busca oferecer uma compreensão aprofundada e precisa sobre o mundo árabe, evitando equívocos e simplificações. Em sintonia com a missão da instituição, a iniciativa difunde conhecimento de forma criteriosa, contribuindo para uma sociedade mais bem informada e consciente.
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Arabismo
Arabismo é a palavra de origem árabe, ou veiculada pelos árabes, que passa a fazer parte do léxico de determinada língua. Esse processo ocorre, principalmente, pelo empréstimo linguístico de culturas em contato.
O verbete recebe muitas definições em distintos dicionários, sendo caracterizado como todo tipo de herança árabe na Península Ibérica.
O Dicionário Houaiss define arabismo como “expressão característica da língua árabe; palavra, construção ou expressão próprias da língua árabe numa outra língua”. Já o Dictionnaire de Français Larousse introduz um elemento cultural no conceito, uma “construção, expressão própria da língua árabe; característica própria da civilização árabe”.
O domínio muçulmano no território ibérico e o consequente prestígio da cultura árabe-islâmica na região foi fator essencial de transmissão de inúmeras palavras de origem árabe aos então peninsulares. Esta influência foi alargada em outros períodos temporais por via de contato como, por exemplo, com as populações do Norte da África.
Segundo o léxico de origem árabe proposto por João Baptista Vargens, dos 769 arabismos registrados, entraram no português 25 pelos malês, negros muçulmanos escravizados, perfazendo 3,25% do total, e 12 pelos imigrantes árabes, principalmente, libaneses e sírios. A maioria do léxico herdado dos africanos pertence ao campo semântico da religião, alterações ou corruptelas (desvio ou modificação da norma padrão) do árabe corânico; já os vocábulos oriundos do Crescente Fértil referem-se, notadamente, à gastronomia. Entre os principais exemplos dos arabismos no português podemos citar palavras como açúcar, açafrão, alface, álcool, álgebra, azeite, entre outras. Há, também, mudanças de ordem semântica, como por exemplo, ‘az-zabib’ (que no árabe significa passas ou fruto seco) e no português atual foi apropriado como ‘acepipe’ (petisco sofisticado).
Como acontece nos processos de empréstimos linguísticos, as palavras de origem árabe obedeceram ao sistema fonêmico da língua portuguesa e, desse modo, fonemas sofreram transformações ou foram suprimidos, em algumas situações.
Referências bibliográficas
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2001
VARGENS, João Baptista M. Léxico português de origem árabe: subsídios para os estudos de filologia. Rio Bonito, RJ: Almádena, 2007
ZAIDAN, Assaad. Letras e História: mil palavras árabes na língua portuguesa. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Escrituras Editora: EDUSP, 2010
Cristina Ayoub Riche é diretora cultural do Icarabe desde 2024. Mestre e Doutora em História das Ciências, Técnicas e Epistemologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é graduada e pós-graduada em Letras, Educação e Direito. Foi professora do Setor de Estudos Árabes e chefe do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ, tendo integrado a equipe que produziu o primeiro Dicionário árabe-português-árabe (1988) coordenado pelo Prof. Alphonse Nagib Sabbagh. Professora aposentada do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro e foi Ouvidora-Geral da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Criou e implementou a Ouvidoria-Geral do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ex-presidente do Instituto Latinoamericano del Ombudsman/Defensorías del Pueblo (ILO) e da Comissão Executiva da Red Iberoamericana de Defensorias Universitárias (RIdDU). Acadêmica da Academia Líbano-brasileira de Letras, Artes e Ciências e editora da Revista Libanus. É mediadora de conflitos e consultora com mais de 25 anos de experiência como ouvidora e na gestão de conflitos. Integrou a Comissão de Mediação de Conflitos da OAB-RJ. Tem livros e artigos publicados nas áreas de Letras, Educação, Direito e sobre a lei de arbitragem, mediação de conflitos e ouvidorias públicas.