O Instuto da Cultura Árabe (CArabe) lança o 25º verbete de sua série dedicada a aprofundar o conhecimento sobre o mundo árabe. A proposta é esclarecer conceitos, evitar distorções e oferecer informações consistentes, reforçando o compromisso da instituição com a difusão cultural e a construção de uma sociedade crítica e bem informada.
Sionismo
O sionismo é um movimento nacionalista colonial responsável pela constituição do Estado de Israel na Palestina. Para Edward Said, o sionismo não deve ser entendido apenas como ideologia nacionalista, mas como processo histórico e material de colonização e negação da autodeterminação palestina.
Suas raízes remontam ao século XIX, quando cristãos ocidentais defenderam o “retorno” dos judeus à Terra Prometida por razões religiosas. Lord Shaftesbury cunhou, em 1853, a frase “um povo sem terra para uma terra sem povo” em defesa da colonização judaica da Palestina. O “sionismo cristão” continua como grande fonte de apoio a Israel em países como EUA e Brasil, particularmente em denominações fundamentalistas religiosas.
Ainda no século XIX, alguns judeus migraram a Jerusalém por motivos religiosos, no chamado “sionismo romântico”. O sionismo político foi fundado pelo jornalista austro-húngaro Theodor Herzl. Após acompanhar o Caso Dreyfus (1894), concluiu que o antissemitismo europeu não teria solução e que a “questão judaica” deveria ser resolvida com a criação de um Estado judeu fora do continente. Inspirado no nacionalismo romântico alemão, Herzl convocou o Primeiro Congresso Sionista em 1897, em Basileia, que definiu a Palestina como destino da colonização, legitimada pelo discurso do “retorno” à “Terra Prometida”.
Inserido no contexto do imperialismo europeu, o sionismo sempre buscou apoio de potências coloniais. Em 1917, obteve suporte dos britânicos, e desde então manteve alianças com França e, sobretudo, os Estados Unidos. Entre os apoiadores imperiais de Israel sempre estiveram notórios antissemitas, como o premiê inglês Winston Churchill e o assessor de Donald Trump, Steve Bannon.
Para justificar a colonização da Palestina, construiu uma visão orientalista dos palestinos como povo sem vínculo com a terra e que poderia ser removido. Esse imaginário fundamentou a Nakba, em 1948, quando 800 mil palestinos foram expulsos e 500 vilarejos destruídos para a criação de Israel.
Bruno Huberman é professor de Relações Internacionais da PUC-SP. Autor de “Colonização Neoliberal de Jerusalém” (Educ, 2023). Doutor e mestre em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas (UNESP/UNICAMP/PUC-SP) com período sanduíche na SOAS (School of Oriental and African Studies), University of London, Reino Unido. Vice-líder do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais (GECI/PUC-SP) e integrante do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT/INEU).