O Instituto da Cultura Árabe – ICArabe traz mais um verbete da série especial dedicada a ampliar o conhecimento sobre o mundo árabe. A iniciativa reafirma o compromisso do Instituto com a disseminação de informação qualificada, pautada pela responsabilidade e pelo combate a estereótipos – um passo importante para a construção de uma sociedade mais informada e consciente.
Confira a lista completa de verbetes neste link
Sûq, o mercado tradicional
Etimologia
“Sûq” (سوق) é uma palavra árabe com origem em outras línguas semíticas como o aramaico “suqa” e o acádio “suqu(m)” (rua), e denota um tipo de mercado tradicional nas sociedades árabe-islâmicas. O sûq seria o equivalente árabe do persa “wazar”, que nos deu “bazar”.
O sûq na arquitetura islâmica
Segundo a tradição islâmica, assim que o profeta Muhammad chegou à cidade de Medina, ele determinou a localidade do sûq, onde deveria ser realizado o comércio a céu aberto. A partir do século VIII d.C., essa estrutura arquitetônica passou a ocupar centros murados conhecidos como medinas. Hoje, os “aswaq” (plural de sûq) apresentam a forma de galerias cobertas repletas de pequenas lojas (árabe: hanut ou dukkan) semelhantes a cabines abertas na parte da frente.
Ouro, tapetes, calçados, perfumes, cerâmicas…
O sûq costuma receber o nome dos trabalhadores de um dado ofício tradicional que nele vendem suas mercadorias. Os diferentes mercados estão distribuídos na medina segundo o valor e tamanho de seus produtos, bem como a sujeira e o incômodo que podem causar. Dessa forma, são comuns nomes como “Sûq dos ourives”, “Sûq dos alfaiates”, “Sûq dos perfumistas”, entre muitos outros.
Do “açougue” português…
Não à toa, o arabismo “açougue” em língua portuguesa tem origem no árabe andalusino < *al + sáwq, provavelmente em referência ao mercado, onde também se comprava carne em tempos de presença árabe-islâmica na península ibérica. Já o espanhol “azogue” se refere à praça de um vilarejo onde se realiza o comércio popular.
…ao “zoco” tangerino
No espanhol, o arabismo “zoco” designa exatamente esse tipo de mercado no Marrocos, como é o caso do “Zoco chico” (السوق الداخل/ Petit Socco) em Tânger, eternizado na obra de Muhammad Chukri. Em português, também temos a palavra “soco” dicionarizada com o mesmo sentido, ainda que em desuso.
Referências:
“Bazaar, Arab Lands”. Simon O’Meara. Encyclopedia of Islam. Brill, 2011.DOI: https://doi.org/10.1163/1573-3912_ei3_COM_24004
“E os sûqs de Beirute?” por Elias Khoury – Blog Tabla (Trad. Safa Jubran). https://blog.editoratabla.com.br/e-os-suqs-de-beirute/
Pão seco de Muhammad Chukri. Trad. Hugo Maia. Lisboa: Antígona, 2021.
Federico Corriente, Christophe Pereira, Ángeles Vicente. Dictionnaire des emprunts Ibéro-Romans. Vol. 3. Encyclopédie Linguistique D’al-andalus. Berlim/Boston: De Gruyter, 2019.
Pedro Chalmeta Gendrón: El ‘señor del zoco’ en España: edades media y moderna, contribución al estudio de la historia del mercado. Madrid: Institute Hispano-Arabe de Cultura, 1973 [pub. 1974].
Felipe B. Francisco é tradutor e professor na Cátedra de Estudos Árabes da University of Bayreuth (Alemanha). Doutor em Letras (Estudos árabes/ USP) com pós-doutoramento pela Universidade Livre de Berlim (CAPES-Humboldt). Autor do livro The Arabic Dialect of Essaouira (Morocco): grammar and texts (PUZ, 2023). Áreas de interesse: linguística do árabe; dialetos árabes; literatura magrebina; tradução e edição de fontes árabes.