O ICArabe apresenta um novo verbete de sua série especial, iniciativa dedicada a ampliar o conhecimento sobre o mundo árabe por meio de informações aprofundadas e de fontes confiáveis. A série reforça o compromisso da instituição com a valorização do saber, o combate a estereótipos e a promoção de uma compreensão crítica e fundamentada da realidade árabe.
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O estudo do intelecto é um dos temas mais importantes e discutidos pelos filósofos muçulmanos, sobretudo na Idade Média. Vejamos a noção de intelecto de acordo com Avicena.
Intelecto[1] é a saúde mental primordial do homem. Sua definição é, por exemplo, uma faculdade pela qual se faz a distinção entre feiura e beleza. Intelecto também é chamado aquilo que o homem adquire de leis universais por meio da experiência, e é definido como significados agrupados na mente, premissas a partir das quais vantagens e objetivos são descobertos.
Em outro sentido, diz-se que o intelecto é uma disposição louvável que pertence ao homem em seus movimentos, seu repouso, sua fala, suas escolhas. Esses três sentidos são aqueles em que o homem comum usa o nome ‘aql.
Entre os filósofos, ele tem vários significados (ou modalidades de intelecto). Vamos, aqui, nos ater a quatro tipos de intelecto: 1) intelecto especulativo (‘aql Naẓarī). É uma faculdade da alma que recebe as quididades[3] (mahiyāt) das coisas universais. 2) intelecto prático (‘aql ‘amalī). É uma faculdade da alma que é princípio motor da faculdade apetitiva (quwa šawqīya) em direção ao que ela escolheu em particular em função de um fim pretendido.
3) o intelecto material. É uma faculdade da alma preparada para receber as quididades das coisas abstratas dos assuntos (mujarada ‘an al-mawād) de coisas materiais. 4) Intelecto adquirido (‘aql mustafād). É uma quididade abstrata da matéria (mujarada ‘an al-māda), fortemente gravada na alma por meio de uma atuação vinda do exterior.
[1] Intelecto ou inteligência. Mas, em português o termo inteligência suscita outros significados, inclusive, metafóricos.
[3] Quididades; plural de quididade, ou seja, essência necessária de algo, o que faz uma coisa ser o que ela é.

Jamil Ibrahim Iskandar é graduado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, com mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, doutorado em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e pós-doutorado em Filosofia Medieval árabe pela Universidade Complutense de Madrid – Espanha. É professor titular (Sênior) de filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. É autor dos livros: Avicena – A Origem e o Retorno (Martins Fontes) e Compreender Al-Farabi e Avicena (Vozes), e, atualmente, está na fase final da tradução da Física de Avicena, todos com textos inédito do árabe para o português. Possui trabalhos publicados no Brasil e no exterior. Na área de metodologia científica, é autor do livro Normas da ABNT para Elaboração de Trabalhos Científicos (Juruá), que está na sétima edição. Seus estudos, pesquisas e escritos são, prioritariamente, sobre filosofia e filósofos do mundo árabe-islâmico. É professor Sênior de filosofia medieval árabe-islâmica da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – campus Guarulhos. Em 2015, foi professor pesquisador no Departamento de Artes do Islã do Museu do Louvre de Paris. É membro pesquisador da Bibliothèque Nationale de France – Paris. É membro efetivo da SIEMP – Société Internationale pour l’Étude de la Philosophie Médiévale – Leuven, Bélgica e parecerista da Editora ROUTLEDGE – London and New York.
 
									 
					