..أنشودة المطر عَيْنَاكِ غَابَتَا نَخِيلٍ سَاعَةَ السَّحَرْ ، أو شُرْفَتَانِ رَاحَ يَنْأَى عَنْهُمَا القَمَرْ . عَيْنَاكِ حِينَ تَبْسُمَانِ تُورِقُ الكُرُومْ وَتَرْقُصُ الأَضْوَاءُ …كَالأَقْمَارِ في نَهَرْ يَرُجُّهُ المِجْدَافُ وَهْنَاً سَاعَةَ السَّحَرْ كَأَنَّمَا تَنْبُضُ في غَوْرَيْهِمَا ، النُّجُومْ … وَتَغْرَقَانِ في ضَبَابٍ مِنْ أَسَىً شَفِيفْ كَالبَحْرِ سَرَّحَ اليَدَيْنِ فَوْقَـهُ المَسَاء ، دِفءُ الشِّتَاءِ فِيـهِ وَارْتِعَاشَةُ الخَرِيف ، وَالمَوْتُ ، وَالميلادُ ، والظلامُ ، وَالضِّيَاء ؛ فَتَسْتَفِيق مِلء رُوحِي ، رَعْشَةُ البُكَاء كنشوةِ الطفلِ إذا خَافَ مِنَ القَمَر ! كَأَنَّ أَقْوَاسَ السَّحَابِ تَشْرَبُ الغُيُومْ وَقَطْرَةً فَقَطْرَةً تَذُوبُ في المَطَر … وَكَرْكَرَ الأَطْفَالُ في عَرَائِشِ الكُرُوم ، وَدَغْدَغَتْ صَمْتَ العَصَافِيرِ عَلَى الشَّجَر أُنْشُودَةُ المَطَر … … مَطَر … مَطَر … مَطَر تَثَاءَبَ الْمَسَاءُ ، وَالغُيُومُ مَا تَزَال تَسِحُّ مَا تَسِحّ من دُمُوعِهَا الثِّقَالْ .
por Bader Shaker Al-Sayyab, tradução de Khalid Tailche
Seus olhos são dois bosques de palmeiras na aurora
ou duas varandas de onde a lua se afasta.
Quando seus olhos sorriem, as folhas de uva brotam
e as luzes dançam como as estrelas
num rio encrespado pelo remo no despertar da aurora,
brilhando nas profundidades dos seus olhos
e se afogando em tristeza e ternura,
como o mar dominado pelas mãos da noite,
com seu calor de inverno, tremor de verão,
a morte, o nascimento, e as trevas
e a luz desperta dentro da minha alma o tremor do pranto
é um êxtase selvagem que abraça o céu
como o delírio de uma criança que teme a lua!
Como se o arco-íris fosse bebendo as nuvens
e gota a gotaas vertessem em água da chuva
O riso dos meninos gorjeia nas parreiras
e quebra o silêncio dos pássaros nas árvores
A canção da chuva
Chuva…
Chuva…
Chuva…
A tarde bocejou e as nuvens ainda
derramam suas lágrimas pesadas.
Como um menino
a balbuciar antes de dormir, querendo sua mãe
Há um ano, quando acordou, não a encontrou e insistiu
Diziam-lhe:
“voltará depois de amanhã,
Sem falta voltará”
e sussurrará aos amigos que ela está lá
ao pé da colina dorme
num sonho eterno
servindo-se da terra e água da chuva,
como um pescador tristonho a recolher a rede
amaldiçoando as águas e o destino,
espalhando o canto onde se eclipsa a lua
Chuva…
Chuva…
Você sabe que tristeza provoca a chuva?
e como as calhas soluçam quando ela cai?
e como faz o solitário se sentir perdido?
Sem fim, como o sangue vertido, como os famintos,
como o amor, como os meninos, como os mortos…
Isto é a chuva!
Suas pupilas me levam com a chuva,
e através das ondas do golfo, os relâmpagos banham
a costa do Iraque com estrelas e conchas,
querendo nascer igual ao sol,
mas vem a noite e as cobrem com um manto de sangue.
Grito ao golfo : “ Oh! golfo,
Oh doador das pérolas, de conchas e ruínas!”
E me volta o eco
como um soluço
“Oh! golfo
Oh doador das pérolas, de conchas e ruínas ..!”
Quase ouço o Iraque guardando os trovões
armazenando os relâmpagos nas planícies e nas montanhas,
e quando se afastam, os homens acabam com o resto.
O vento de Thumod não deixou
qualquer resto no vale.
Quase posso escutar as palmeiras bebendo a chuva,
as aldeias gemem,
e os imigrantes lutam com os remos
e as velas, os temporais do golfo e os trovões, cantando:
Chuva…
Chuva…
Chuva…
No Iraque há medo e fome
Os grãos são espalhados na época da colheita
para satisfazer os corvos e os gafanhotos,
esmagando os celeiros e as pedras
uma moenda que gira nos campos… e ao redor dela, homens/
Chuva…
Chuva…
Chuva…
Quantas lágrimas derramamos na noite da partida
E percebemoscom medo
Que seriamos acusados de provocar a chuva.
Chuva…
Chuva…
Desde que éramos pequenos, o céu
se cobria com as nuvens no inverno
e caíam os cântaros da chuva,
e a cada ano,/ quando a terra se cobria de ervas,/
sentíamos fome,
nunca passou um ano que o Iraque estivesse sem fome,
Chuva…
Chuva…
Chuva…
E em cada gota de chuva
vermelha ou amarela da cor das rosas,
cada lágrima dos famintos e dos nus
e cada gota derramada de sangue dos escravos
é um sorriso que espera uma nova boca
ou um mamilo que floresce na boca do recém-nascido
no jovem mundo do amanhã, o doador da vida!
Chuva…
Chuva…
Chuva…
o Iraque será coberto de ervas com a chuva…
Grito ao golfo : “ Oh! golfo,
Oh! doador das pérolas, de conchas e ruínas!”
e me volta o eco
como um soluço
“Oh! golfo
Oh! doador de pérolas, de conchas e ruínas!”
O golfo espalha seus grandes tesouros
sobre as areias: espuma de sal, e as conchas,
e os restos de um miserável afogado
do imigrante que bebeu a morte
do fundo das águas do golfo,/
quando no Iraquehá mil víboras que bebem o néctar
de uma florque o Eufrates alimenta com orvalho.
Ouço o eco
Que se repete no golfo
“Chuva…
Chuva…
Chuva…”
Em cada gota de chuva
vermelha ou amarela da cor das rosas,
cada lágrima dos famintos e dos nus
e cada gota derramada de sangue dos escravos
é um sorriso que espera uma nova boca
ou um mamilo que floresce na boca do recém nascido
no jovem mundo do amanhã, o doador da vida
E caem os cântaros da chuva.