Falácias em torno de Israel e do sionismo - parte 2
Quem dera me fosse possível escrever sobre cultura árabe. Tenho até uns textos alinhavados e o espaço é propício e a época indicada, mas como dizia o saudoso poeta palestino Mahmoud Darwish (1941-2008): “Haverá um tempo para a poesia numa época de selvageria?”
Chovem lá fora os crimes contra os árabes e semeiam-se falácias na esperança de que irrigadas deem frutos. Uma dessas mentiras é a “oferta generosa feita por Ehud Barak que foi recusada por Yasser Arafat”. Ela contraria o que é real e verificável e, mal passam os dias, alguém repete o mesmo disparate para justificar os seus crimes contra palestinos e jogar a culpa nas vítimas.
De 11 a 24 de julho de 2000, em Camp David, o presidente dos Estados Unidos, William Clinton, reuniu Ehud Barak, a pedido deste, e Yasser Arafat (1929-2004), que muito relutou em comparecer, pois não acreditava que questões espinhosas fossem passíveis de serem resolvidas em poucos dias e tendo somente ele como único representante do povo palestino. Para Barak, a situação era a inversa, pois o que daria a seu povo era um prêmio adicional à conquista das terras.
A “oferta generosa” tinha um preço e este custo era o de mandar às favas o direito internacional que impõe a Israel que se retire dos territórios que ocupa desde 1967 e que desmantele todos os assentamentos lá instalados, inclusive os de Jerusalém oriental.
A “oferta generosa” não passava de uma imposição de paz do vencedor contra o vencido que deveria aceitá-la de joelhos. O Estado palestino que Barak aceitou em Camp David teria soberania limitada, com a vida dos palestinos continuando a ser subordinada aos ocupantes. Nove e meio por cento da Cisjordânia seriam incorporadas pelo estado sionista e dez por cento de toda a margem do Jordão seria alugada a Israel “em longo prazo” e a Cisjordânia seria cortada em três partes, incomunicáveis entre elas, separadas por dois largos blocos contínuos de colônias.
Os territórios palestinos, divididos em três partes, não teriam livre acesso ao exterior, já que as fronteiras ficariam controladas pelo estado hebreu. Quanto aos refugiados, ora os refugiados! As propostas de Barak nem sequer os mencionava.
Barak acenou que Jerusalém seria dividida, mas não disse como ou quando e, assim mesmo, pela reação entre seu povo e entre os judeus através do mundo, principalmente aqueles que são fundamentalistas, mas permanecem no conforto de suas moradas, longe dos campos de batalhas, isto jamais iria acontecer. Os lugares santos, qualquer que fosse a divisão de Jerusalém, para ser capital dos dois estados, ficaria sob controle sionista.
E Ghaza? É fácil: esta ficaria como está até hoje, um campo de concentração sem condições de sobrevivência.
Os palestinos, de seu lado, se impacientavam e só restou a Arafat – que pode ser chamado de tudo, menos de bobo, recusou tudo e voltou para casa. A imprensa, a mando do outro lado, caiu em cima e Arafat foi responsabilizado pelo fracasso, como até hoje ainda se diz, apesar das provas em contrário.
Camp David foi um fracasso parcial, mas não seria o fim do caminho, pois as negociações prosseguiram, algo foi feito, algum avanço aconteceu, mas a população palestina não aguentava mais a situação e passou a não escutar mais, não mais acreditar em qualquer promessa, pois sete anos haviam passado dos acordos de Oslo, dois além dos cinco previstos para o fim da autonomia, a ocupação continuava e a colonização se perpetuava.
Sai Barak de cena e entra Ariel Sharon que em atitude de provocação foi à esplanada das Mesquitas, acompanhado de uma turba e, mais irritados ainda, os palestinos revidaram com a segunda Intifada e, contra suas pedradas, em três dias, o exército sionista matou trinta pessoas e feriu quinhentas.
A verdade é que Barak propôs o inaceitável e Sharon completou o serviço, provocando a ruptura de tudo aquilo que Oslo representou.
A proposta de negociação apresentada pela Liga dos Estados Árabes continua até hoje, no final deste ano de 2012, onde sempre estiveram: Israel nunca respondeu, mas a falácia da “oferta generosa de Barak” continua sempre retumbante.
Artigos assinados são responsabilidade do autor, não refletindo
necessariamente a posição do ICArabe.
Chovem lá fora os crimes contra os árabes e semeiam-se falácias na esperança de que irrigadas deem frutos. Uma dessas mentiras é a “oferta generosa feita por Ehud Barak que foi recusada por Yasser Arafat”. Ela contraria o que é real e verificável e, mal passam os dias, alguém repete o mesmo disparate para justificar os seus crimes contra palestinos e jogar a culpa nas vítimas.
De 11 a 24 de julho de 2000, em Camp David, o presidente dos Estados Unidos, William Clinton, reuniu Ehud Barak, a pedido deste, e Yasser Arafat (1929-2004), que muito relutou em comparecer, pois não acreditava que questões espinhosas fossem passíveis de serem resolvidas em poucos dias e tendo somente ele como único representante do povo palestino. Para Barak, a situação era a inversa, pois o que daria a seu povo era um prêmio adicional à conquista das terras.
A “oferta generosa” tinha um preço e este custo era o de mandar às favas o direito internacional que impõe a Israel que se retire dos territórios que ocupa desde 1967 e que desmantele todos os assentamentos lá instalados, inclusive os de Jerusalém oriental.
A “oferta generosa” não passava de uma imposição de paz do vencedor contra o vencido que deveria aceitá-la de joelhos. O Estado palestino que Barak aceitou em Camp David teria soberania limitada, com a vida dos palestinos continuando a ser subordinada aos ocupantes. Nove e meio por cento da Cisjordânia seriam incorporadas pelo estado sionista e dez por cento de toda a margem do Jordão seria alugada a Israel “em longo prazo” e a Cisjordânia seria cortada em três partes, incomunicáveis entre elas, separadas por dois largos blocos contínuos de colônias.
Os territórios palestinos, divididos em três partes, não teriam livre acesso ao exterior, já que as fronteiras ficariam controladas pelo estado hebreu. Quanto aos refugiados, ora os refugiados! As propostas de Barak nem sequer os mencionava.
Barak acenou que Jerusalém seria dividida, mas não disse como ou quando e, assim mesmo, pela reação entre seu povo e entre os judeus através do mundo, principalmente aqueles que são fundamentalistas, mas permanecem no conforto de suas moradas, longe dos campos de batalhas, isto jamais iria acontecer. Os lugares santos, qualquer que fosse a divisão de Jerusalém, para ser capital dos dois estados, ficaria sob controle sionista.
E Ghaza? É fácil: esta ficaria como está até hoje, um campo de concentração sem condições de sobrevivência.
Os palestinos, de seu lado, se impacientavam e só restou a Arafat – que pode ser chamado de tudo, menos de bobo, recusou tudo e voltou para casa. A imprensa, a mando do outro lado, caiu em cima e Arafat foi responsabilizado pelo fracasso, como até hoje ainda se diz, apesar das provas em contrário.
Camp David foi um fracasso parcial, mas não seria o fim do caminho, pois as negociações prosseguiram, algo foi feito, algum avanço aconteceu, mas a população palestina não aguentava mais a situação e passou a não escutar mais, não mais acreditar em qualquer promessa, pois sete anos haviam passado dos acordos de Oslo, dois além dos cinco previstos para o fim da autonomia, a ocupação continuava e a colonização se perpetuava.
Sai Barak de cena e entra Ariel Sharon que em atitude de provocação foi à esplanada das Mesquitas, acompanhado de uma turba e, mais irritados ainda, os palestinos revidaram com a segunda Intifada e, contra suas pedradas, em três dias, o exército sionista matou trinta pessoas e feriu quinhentas.
A verdade é que Barak propôs o inaceitável e Sharon completou o serviço, provocando a ruptura de tudo aquilo que Oslo representou.
A proposta de negociação apresentada pela Liga dos Estados Árabes continua até hoje, no final deste ano de 2012, onde sempre estiveram: Israel nunca respondeu, mas a falácia da “oferta generosa de Barak” continua sempre retumbante.
Artigos assinados são responsabilidade do autor, não refletindo
necessariamente a posição do ICArabe.