Ibn Ammar e o jogo de xadrez
A taifa de Sevilha sofria ameaça iminente: o exército de Afonso VI de Castilha estava próximo. Contam que teria sido assim, esperança e reino perdidos para o norte cristão, não fosse o estrategema articulado e conduzido por Ibn Ammar. O vizir de Al Mu’tamid mandou fazer um tabuleiro de xadrez de qualidade artística inigualável: peças de aloé e sândalo incrustadas de ouro. Ao partir para negociar com os castelhanos, Ibn Ammar levou o tabuleiro que, habilmente, mostrava aos cortesãos no acampamento. Afonso VI era reconhecido apaixonado pelo jogo de xadrez e seus subordinados não tardaram em lhe contar sobre o magnífico tabuleiro. Cartada prevista, Ibn Ammar propôs um jogo entre ambos desde que Afonso concordasse com sua condição: se perdesse o vizir ficaria sem o tabuleiro; se o desafortunado fosse o cristão, assinaria um acordo com Ibn Ammar. O líder castelhano já ouvira falar da astúcia do vizir de Al Mu’tamid, e considerou a aposta suspeita. De seu lado, Ibn Ammar já se ocupara, antes, de subornar o séqüito castelhano que convenceu seu senhor a aceitar a proposta. A contra partida seria um blefe, e além, a corte lhe assegurou estar unida contra a audácia dos mouros e responderiam à altura da insolência. Estavam, líder e cortesãos, subornados ou não, inebriados com a raridade do tabuleiro de xadrez.
Jogador no amplo sentido do verbo, Ibn Ammar deu cheque mate à Afonso VI da Castela, o mesmo que perseguiu El Cid durante anos. O golpe de risco calculado disputava a autonomia de Sevilha e, ao saber qual era o teor da aposta, Afonso VI não escondeu a cólera impotente de presa emboscada: Ibn Ammar exigiu que o exército castelhano se retirasse das fronteiras do reino. Sevilha seguiu alandaluza.