Intervenção e ocupação humanitária e ética
Uma intervenção estrangeira na Síria, por parte dos candidatos a ocupantes salvadores do povo sírio, não pode ser legítima por faltar-lhes a ética e sobrar-lhes a imoral má intenção. Uma intervenção armada humanitária à qual alguns se referem como direito ou dever de ingerência ou ainda responsabilidade de proteger. Em termos práticos, o que cada um e todos nós queremos saber quando se pode intervir militarmente na Síria, obviamente que território estrangeiro, para fazer cessar violações graves e massivas do direito do homem.
Vejam só, se definirmos esta prática partindo do objetivo pretendido, que parte e diz respeito tão somente à boa intenção do estado interveniente, ocorre porém que não se pode subestimar o peso político na ética da intervenção.
Surge então uma pergunta chave: em que medida é ou são desinteressados e procuram realmente proteger o povo sírio: o Estado, ou o grupo de Estados alinhados sob uma só bandeira - como foi o caso na Líbia e está sendo ainda agora o que ocorre no Afeganistão e também até a pouco no Iraque, se é que cessou de fato completamente a intervenção, e que é o espelho daquilo que se quer na Síria? Esta é uma pergunta basilar sobre a qual se constroi uma resposta à sua própria pergunta que ronda as mentes.
Se nos limitarmos a uma crítica realista do critério tradicional de boa intenção, vamos nos deparar imediatamente, de partida, com a necessidade de estudarmos a fundo a pretensão do Estado ou do grupo de Estados na ocupação do território estrangeiro; que pode ir além da elogiável e sempre desejada intervenção por questões humanitárias. Partindo desta premissa fatalmente concluiremos que as intenções dos Estados Unidos ao ocuparem o Iraque não eram, como depois ficaria de fato demonstrado, para proteger o povo iraquiano de um governante cruel, pois o próprio Estado interveniente já vinha matando o povo do país que acabaram ocupando, há anos, com a falta de alimentos e remédios e proibição de exportação do único bem capaz de dar recursos para tocar o dia a dia do país e de sua população, comprometendo uma geração inteira. O que levou os Estados Unidos a ocupar o Iraque não foi proteger os iraquianos, foi dominar um território onde há petróleo que lhe interessa e não estava sendo dominado por si ou pelos seus, um país chave para o domínio de toda a região.
Se, além do caso iraquiano, examinarmos o caso afegão e o líbio, poderemos facilmente ter uma idéia do que se pretende com a ocupação do território sírio e o porquê de todo o caso que está sendo levantado com relação ao Irã, indo desde um programa nuclear que será apenas um entre tantos na região, até a lapidação de uma mulher como se a pena de morte praticada nos estados que aparentemente pretendem ocupar o Irã fosse salutar para a sociedade, só porque é pelo uso da forca, injeção letal, carga elétrica ou outro qualquer método igualmente mortal.
No caso específico da Síria, como é o caso ou outros, não podemos nos limitar a apontar o dedo para acusar os Estados Unidos de mal intencionados que acoberta de chocolate o bolo maldoso da ocupação mal intencionada, pois há muitos interventores, até mesmo árabes, que estão querendo ver o serviço ser feito temendo pelos seus destinos “back home” caso sejam bem sucedidos os levantes em alguns países árabes e mal sucedido o levante que eles incentivam em território sírio. Rodamos e voltamos à ética da intervenção que não passa de uma minúscula agulha num montão de palha, no caso sírio.
Daí a conclusão única da necessidade de reconstruirmos uma ética pragmática mesmo considerando sempre a consequência de uma intervenção humanitária, longe bem distante do critério da boa intenção tendo como base a prevenção contra o uso e o pretexto de cunho humanitário para a ocupação de um país estrangeiro.
Pensando em tudo isto concluímos que uma intervenção estrangeira na Síria, por parte dos candidatos a ocupantes salvadores do povo sírio, não pode ser legítima por faltar-lhe a ética e sobrar-lhe a imoral má intenção.