Jihad contra o Papa ou contra a verdade?
Mais uma vez causa consternação a imagem dos muçulmanos formando uma frente internacional para atacar o Papa e exigir desculpas. De Bin Laden à Irmandade Muçulmana, da al-Jazeera à al-Arabiya, do Paquistão à Turquia, renasceu agora aquela sub-reptícia aliança transversal e universal, que se manifestou aos brados na época das charges sobre Maomé. E que mostra, de forma manifesta, que a raiz do mal é a ideologia cega do ódio que impera entre os muçulmanos, deturpando a fé e o Corão, violando a razão e turvando a mente.
Causa mais uma vez consternação que seja a al-Jazeera a difundir no mundo árabe e muçulmano a mensagem distorcida das palavras do Papa. A emissora do Qatar, que se faz de porta-voz real do mundo árabe, foi (como quase sempre) a primeira a transmitir uma série de apelos de personalidades políticas e religiosas sobre “as afirmações ofensivas do Papa sobre o Islam”, exigindo desculpas (em tom de indignação e ultraje, sem nenhuma argumentação racional e sem nenhum argumento justificativo) e sem explicar de forma alguma quais teriam sido as “ofensas”. Al-Arabiya, normalmente mais moderada, não quis perder a ocasião, e repetiu o conceito de “ofensas” do Papa, e a partir daí os sites muçulmanos tiveram um crescendo de sentimentos de afronta e revolta, perdendo cada vez mais o foco da questão: tanto que o fórum web da al-Qaeda limitou-se a concluir sinteticamente que “o Papa ofendeu o Profeta”.
As afirmações de Bento XVI, citando o imperador bizantino Manuel II Paleólogo, sobre a difusão do Islam por meio da espada, tanto por parte do Profeta Muhammad dentro da península arábica, como por parte dos seus sucessores no resto do mundo (com raras exceções), são um fato histórico indiscutível (se bem que no ambiente fundamentalista muçulmano atual, os fatos históricos indiscutíveis são de fato discutíveis, vejam o exemplo de Ahmadinejjad questionando o Holocausto). Negar essa realidade histórica, presente até mesmo no Corão, e tratá-la de ofensa acusando o Papa por mencioná-la, é mais uma demonstração da constante manipulação da verdade, da história e da justiça por parte dos fanáticos, e só pode provocar mais demência por parte das massas incultas bombardeadas por essas falsidades.
Por que será que esses mesmos “muçulmanos” que agora levantam uma jihad de palavras contra o Papa, e tampouco os muçulmanos moderados, não se erguem contra os verdadeiros profanadores do Islam e da mensagem profética, contra os terroristas que massacram outros irmãos muçulmanos em nome de Allah mesmo e mandam para o “martírio” depois da lavagem cerebral crianças e adolescentes, contra os extremistas islâmicos que afirmam (como no site da Irmandade Muçulmana) que os judeus comem crianças, contra os governos fundamentalistas (como o Sudão) que promovem o genocídio de populações não muçulmanas inermes, contra os pregadores do ódio (aiatolás, cheques e clérigos) que usam, abusam e distorcem o Corão para impingir às massas conceitos aberrantes e interpretações monstruosas (como Ragab Hilal Hamida, deputado da Irmandade Muçulmana, que afirmou numa sessão do Parlamento egípcio que o Corão justifica e aprova o terrorismo); em suma, contra todas as posições ultrajantes e brutais e as pseudo-ideologias que nós fazem sentir vergonha de sermos muçulmanos?
É claro mais uma vez que a frente do ódio dentro do mundo muçulmano agarra-se a qualquer pretexto para instilar sua mensagem aberrante por meio da distorção dos fatos e das palavras, das mentiras, das exagerações em má-fé, da omissão e da ignorância generalizada das populações oprimidas pelos regimes totalitários. Os pretextos mudam de mês em mês, mas a fúria cega das reações é sempre a mesma. Isso mostra que o problema é inerente ao Islam, transformado pelos extremistas (que sejam wahabis, takfiris, talibans, xiitas, Irmãos Muçulmanos, qaedistas, hamasistas, hezbollahs, jihadistas, e outras tantas legendas do ódio, cujo simples número mostra a profundidade e vastidão do problema) numa ideologia fascista cujo objetivo não é a adoração de Deus e a salvação da alma, mas a imposição de um poder pseudo-teocrático e totalitário a todos aqueles que não partilham seu delírio. Isso mostra que o problema é profundamente arraigado no mundo muçulmano e no mundo árabe, que apesar do imenso patrimônio de cultura e civilização, estão aos poucos se deixando permear e subverter por aqueles que rejeitam qualquer noção de cultura e civilização, em nome da brutalidade e do fanatismo.