Massacre em Faixa de Gaza
Israel iniciou no último sábado (27/12) o que seu governo vem considerando “a última ofensiva” contra o Hamas, acusado por Israel e Estados Unidos de ser um grupo “terrorista”. Nos três primeiros dias de violentos ataques aéreos, os mortos já passam de 300, e os feridos já são mais de um milhar, incluindo centenas de crianças e mulheres não envolvidas em atividades militares. Além disso, milhares de reservistas israelenses foram convocados, e o Exército vem concentrando tropas e tanques na fronteira com a Faixa de Gaza, preparando-se para uma incursão terrestre. É certamente – pelo menos no que diz respeito ao numero de mortos entre os palestinos – a pior ação israelense desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967.
O pretexto usado pelo governo sionista para deslanchar mais este ataque contra a população palestina foram os foguetes caseiros disparados por militantes do Hamas contra as cidades ao sul de Israel. Há porém um grave problema nesta afirmação: não leva em consideração que os foguetes disparados pelo Hamas não são a origem do problema, mas uma reação à continuada e ilegal ocupação sionista da Palestina. Além disso, há de se considerar que nos últimos quatro anos (desde o fim da Segunda Intifada), os foguetes palestinos causaram a morte de oito civis israelenses, enquanto os constantes bombardeios à Faixa de Gaza deixaram mais de 1.500 palestinos mortos e mais de 5.000 feridos. É o que se chama, em linguagem diplomática, “reação desproporcional”...
Desproporcional e contraproducente. Sob o ponto de vista da política realista, não é inteligente atacar com tamanha violência um povo que luta para se libertar (como a farta história das lutas anti-coloniais o confirma). Embora em curto prazo o resultado possa satisfazer a opinião pública israelense – pois certamente cessarão os ataques com foguetes contra as cidades ao sul de Israel – o resultado em longo prazo tende a ser o oposto, uma vez que a mais esperada conseqüência do massacre da população palestina e destruição de sua sociedade e seu país é a radicalização. A cada líder ou membro do Hamas morto por Israel, outros militantes surgirão. A cada criança ou mulher inocente morta por Israel, maior será a sede por vingança.
Guerra e Política
Neste sentido, o ataque a Gaza explica-se mais pela dinâmica da política israelense do que sob o ponto de vista militar – lembra-se que foram convocadas eleições legislativas em Israel para o início de fevereiro, e as pesquisas indicam ampla liderança da extrema-direita capitaneada pelo ex-primeiro ministro Benjamin Netanyahu. Assim, o triunvirato formado por Ehud Olmert (primeiro-ministro), Ehud Barak (ministro da defesa) e Tzipi Livni (ministra das relações exteriores e, aparentemente, ex-futura-primeira-ministra), decidiu por uma jogada bastante comum na política israelense: a radicalização do conflito com os palestinos com o conseqüente “endurecimento” da ação militar – vendida à opinião pública israelense como uma “reação firme contra o terrorismo palestino”. O trio Olmert-Barak-Livni, assim, tem pouco mais de um mês para mostrar a correção de suas políticas – e, prevendo-se a óbvia diminuição do lançamento de foguetes palestinos contra Israel, pode-se estimar que o massacre ora empreendido em Gaza acabe por salvar a atual coligação no poder, levando a águia Tzipi Livni a assumir a cadeira de primeira-ministra.
Deve-se considerar ainda, entre os fatores que pesaram para desencadear a operação, a proximidade da troca presidencial nos Estados Unidos, a ocorrer no dia 20 de janeiro. Aparentemente, pouco mais de 20 dias é do que o exército israelense precisa para 'liquidar o Hamas', restando outros tantos dias para o governo israelense beneficiar-se da ilusória sensação de vitória.
Pária internacional
O Estado de Israel apresenta-se hoje como o país que demonstra o maior desprezo pelo Direito Internacional e pelos Direitos Humanos. Em seus 60 anos de existência, poucos foram os momentos em que foi buscada a convivência harmoniosa com seus vizinhos árabes, enquanto os períodos de vilania predominaram em quase todos os governos sionistas, fossem de “esquerda” ou de direita. Seu futuro é duvidoso. Falta-lhe moral, falta-lhe humanidade, falta-lhe a memória para recordar o que sofreram os judeus nas mãos dos nazistas nas décadas de 1930 e 1940.
Israel é hoje o mais desprezível dos países.