A 9ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, que começou dia 13, em São Paulo, celebrará a relação da arte cinematográfica com outras artes, como a música. O músico tunisiano Raouf Jemni, de 16 anos, será um dos convidados especiais da Mostra, apresentando-se ao lado dos brasileiros Cláudio Kairouz (qanoun) e Junior Pita (violão), na segunda-feira, dia 25 de agosto, no Cineclube Latino-Americano, na sessão “Diálogos Árabe-Latinos” da Mostra.
Além do show, a programação no Memorial contempla filmes latino-americanos com temáticas relacionadas aos países árabes, destacando-se “Nem Sempre me Vesti Assim”, documentário da brasileira Betty Martins, que aborda a relação de mulheres muçulmanas no Reino Unido com o uso do véu. O argentino Edgardo Bechara, diretor do Latin Arab International Film Festival, é um dos convidados especiais da Mostra. Ele participará, no dia 22 de agosto, sexta-feira, do debate “Cinema Latinoarabe”, juntamente com Betty Martins, Diogo Faggiano, diretor do filme “Bashar”, e Mathias Mangin, diretor de “Dona Rosa” (veja programação completa em http://www.mundoarabe2014.icarabe.org/index.html
Raoulf é um virtuoso no qanoun, instrumento árabe de cordas que o tornou conhecido em seu país ainda na infância. Junto com Cláudio Kairouz, Raouf formou, há dois anos, o duo 156 Strings, inovando a maneira de executar um repertório tradicional de música.
O jovem ressalta a importância do evento, que celebra as relações humanas, para o cinema e para a disseminação da cultura do mundo árabe. “É muito interessante, principalmente pela oportunidade de mostrar em um país distante filmes árabes que não costumam ser muito divulgados no mundo. É uma iniciativa de grande valor.”
O músico já se apresentou ao público brasileiro em outras oportunidades. Desta vez, fará apresentação com com os brasileiros Claudio Kairouz e Junior Pita, mostrando um repertório especialmente selecionado para a Mostra.
Raoulf conta que desde muito pequeno gostava de observar os grupos musicais clássicos se apresentarem. Em algum momento chamou-lhe a atenção um instrumento que poucos dominavam: o qanoun. Falaram-lhe das dificuldades de tocá-lo e isso, além do timbre, o instigou a estudá-lo. Era um instrumento, segundo ele, com menor quantidade de alunos nos grupos, diferentemente do violino e outros instrumentos musicais. “Quando disseram que o qanoun exigia muita dedicação porque era difícil, tive vontade de aprender e experimentar esta dificuldade”, afirma.
Ele considera o trabalho que desenvolve com Cláudio Kairouz um projeto notável, que mostra como a música pode aproximar não só duas culturas tão distantes, como também duas gerações diferentes. “A música tem o poder de encurtar as distâncias.”
A Mostra
Com curadoria de Geraldo Adriano Godoy de Campos, diretor cultural do ICArabe, e Soraya Smaili, esta edição celebra, especialmente, as relações humanas, após alguns anos com produções voltadas para temáticas mais explicitamente políticas. “Não se trata de negar a dimensão políticas de tais espaços, como nas microrrelações familiares. Ao contrário. Apenas busca-se enfatizar o papel que o segredo e o indizível desempenham na produção das sociabilidades, em quaisquer sociedades. Evidentemente, as transformações políticas continuam demonstrando sua vitalidade, mesmo perante contradições”, ressalta o curador Geraldo Adriano Godoy de Campos.
Dividida em quatro sessões – “Panorama Mundo Árabe”, “Cinema Palestino”, “Cinema Egípcio Contemporâneo” e “Diálogos Árabes-Latinos” -, a 9ª Mostra Mundo Árabe de Cinema apresenta destaques do cinema palestino como “Omar”, primeiro filme palestino indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O ator e músico de alaúde Samer Bisharat, do elenco de “Omar”, esteve na cerimônia de abertura e participou de encontros com o público. Esta sessão traz ainda “Um mundo que não é nosso”, um dos grandes filmes árabes dos últimos anos, que trata de um campo de refugiados palestinos no Líbano.
Também em “Cinema Palestino”, o documentário “Diários”, de May Odeh, apresenta sua narrativa baseada nas vidas de três mulheres que, após um ataque militar devastador, tentam reconstruir seu cotidiano, em meio à ocupação israelense e ao controle das autoridades religiosas.
A sessão “Cinema Egípcio Contemporâneo” foi idealizada pela curadoria para trazer ao Brasil alguns dos filmes de destaque da nova geração de cineastas egípcios.
Além disso, a Mostra de 2014 traz ao Brasil “Zelal”, o primeiro registro cinematográfico de um hospital psiquiátrico no Egito, da experiente Marianne Khoury, um dos nomes fortes do cinema daquele país. Marianne Khoury e Alaa Karkouti, criador de algumas das maiores revistas de cinema no mundo árabe, estarão no Brasil e terão encontros e debates com o público (veja convidados e programação abaixo).
Em “Panorama Mundo Árabe”, o objetivo é apresentar a diversidade da produção cinematográfica contemporânea dos países árabes que foi exibida nos festivais internacionais durante os últimos 2 anos. Premiado em 2013, no Festival Internacional de Dubai, o marroquino “Adiós, Carmen”, de Mohamed Amin Benamraoui, presta uma grande homenagem à própria arte cinematográfica.
Inédito no Brasil, “Rock the Casbah”, de Laïla Marrakchi, conta com um elenco de peso, com nomes como Hiam Abbass, Nadine Labaki e Omar Sharif, vivendo personagens de uma família marroquina que sofre uma ruptura após a chegada da filha mais nova, que vive nos Estados Unidos e trabalha como atriz.
Cada vez mais inserida no cenário cinematográfico internacional, a Mostra Mundo Árabe de Cinema amplia suas parcerias: além do Latin Arab International Film Festival, a edição 2014 consolida uma parceria entre o Instituto da Cultura Árabe e a MAD Solutions, um dos mais importantes atores no campo cinematográfico no Oriente Médio.
Confira a programação da Mostra em http://www.mundoarabe2014.icarabe.org/index.html
Página da Mostra no Facebook: https://www.facebook.com/pages/Mostra-Mundo-%C3%81rabe-de-Cinema/329005973932264?ref=bookmarks
Diálogos Árabe-Latinos
Diálogos Árabe-Latinos nos convida a submergir nos universos audiovisuais que entrelaçam a América Latina e o Mundo Árabe. Hoje nos congregamos nas telas, juntos perante o desafio de aprender, crescer e compartilhar a circularidade do espaço-tempo.
Bashar
Bashar
Brasil, Egito | 2014 | 19 min.
Gênero Ficção. Média-metragem
Direção Diogo Faggiano
Idioma Árabe e inglês
Elenco Rami Jarah, Saleh Fekry
Sinopse
Com entrevistas reais – como aquela feita com o ativista Rami Jarah, que permeia o filme – e outras ficcionais, além de cenas de arquivos mostrando discursos de Bashar Al-Assad, da Síria, o filme é um pequeno estudo sobre a situação do país.
Biografia
Formado em cinema pela Escola de Comunicação e Artes (ECA), da USP, Diogo Faggiano é também diretor do curta-metragem de ficção Zeit to the Geist (2011) e do documentário La Ultima Frontera (2012) filmado em Sumatra, na Indonésia. Finaliza atualmente seu primeiro longa, A Revolução do Ano, sobre a Primavera Egípcia de 2011.
Dona Rosa
Brasil | 2013 | 15 min.
Gênero Documentário
Direção Mathias Mangin e Lucas Mandacaru
Idioma Português
Sinopse
Através da história de Rosa, nascida na alta classe de imigrantes libaneses de São Paulo, mostra-se um breve panorama dessa sociedade no século 20. A romântica história com o marido, Rachid, médico de origem modesta, a viuvez precoce e o apego ao trabalho – Rosa continua trabalhando aos 95 anos – tornam o filme um registro amoroso de uma personagem singular.
Biografia
O brasileiro Lucas Mandacaru estudou fotografia, roteiro e cinema em São Paulo, Paris e Berlim. Formado no Istituto Europeo di Design (IED), trabalhou por cinco anos em produtoras de cinema brasileiras e, em 2012, foi diretor de produção do Sonhar TV, uma iniciativa do Ministério da Cultura e da Cinemateca Brasileira. Mathias Mangin é franco-brasileiro e estudou administração na EDHEC Business School, cinema na New York Film Academy e roteiro na Fémis, em Paris. Além de vários curtas-metragens e videoclipes, dirigiu e produziu o documentário de média-metragem Next Year in Bombay (2010), selecionado para diversos festivais internacionais.
Nem sempre me vesti assim
Reino Unido | 2013 | 35 min.
Gênero documentário
Direção Betty Martins
Idioma Inglês com legendas em português
Sinopse
Três mulheres muçulmanas de diferentes etnias que vivem na Inglaterra falam de sua relação com a religião e o uso do véu – o hijab, que cobre cabeça e pescoço, e o niKab, que revela só os olhos. O foco é o uso do véu como um processo íntimo, numa perspectiva tanto particular
quanto crítica – mais do que um hábito religioso, pode ser também um processo de identidade social e política.
Biografia
A pesquisadora, escritora e diretora Betty Martins mora na Inglaterra há 9 anos, onde se tornou mestre em estudos de cultura e mídia pela South Bank University. Ela dirigiu outros dois documentários naquele país, Remembering and forgetting México (2010) e When the souls arrive: reclaiming the dead (2011).
Exibições:
Sexta-feira, dia 22/08/2014
20h: Bashar (15’)/Dona Rosa (15’)/Nem Sempre Me Vestí Assim (34’)
Sábado, dia 23/08/2014
20h: Meu amor me espera no oceano (80’)
Domingo, dia 24/08/2014
19h: A Ilha (34’)/Santidade (37’)
Segunda-feira, dia 25/08/2014
19h: O conhecimento é o começo (115’)
Serviço:
Mostra Mundo Árabe de Cinema – “Diálogos Árabe-Latinos” – no Cineclube Latino-Americano, de 22 a 25 de agosto
22 de agosto (sexta-feira) – 19h30
Mesa de Debate – Cinema Latinoarabe. Debatedores: Edgardo Bechara, Betty Martins, diretora do filme “Nem sempre me vesti assim”, Diogo Faggiano, diretor do filme “Bashar”; Mathias Mangin, diretor do filme “Dona Rosa”.
25 de agosto (segunda-feira) – 19h30
Apresentação Musical Latinoarabe. Coquetel e Show de Música Árabe, com os brasileiros Junior Pita (violão ) e Cláudio Kairouz (qanoun) e pelo tunisiano Raouf Jemni (qanoun).
Cineclube Latino-Americano – Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664 Portão 8 – Barra Funda (Memorial da América Latina)
11 3823-4782
Ingressos: R$ 5,00
