"É um grande mérito fazer com que as pessoas reflitam sobre o contexto árabe”, diz jornalista sírio Alaa Karkouti na abertura da 10ª Mostra Mundo Árabe de Cinema
Comemorando 10 anos da iniciativa de apresentar a cultura árabe ao Brasil por meio do cinema, a 10ª Mostra Mundo Árabe de Cinema teve início nesta quarta-feira (12), em São Paulo, com a presença de convidados internacionais no CineSesc-SP para a exibição do filme “Sotto Voce”. A produção do diretor marroquino Kamal Kamal, aborda o drama de um grupo de argelinos tentando fugir para o Marrocos durante a Guerra da Argélia. Inédito no Brasil, o filme de 2013, vencedor do Grande Prêmio do Tangiers National Film Festival, comoveu o público que lotou a sala do Cinesesc.
Referência na indústria cinematográfica do mundo árabe, o jornalista e crítico de cinema sírio, Alaa Karkouti, convidado especial da Mostra, falou sobre o valor das “trocas culturais”. “O mundo árabe tem uma grande cultura e uma grande diversidade cinematográfica e de filmes, como no Brasil e na América Latina. Esta exposição, fazendo agora 10 anos, é o que precisamos. O que mais precisamos é de mais janelas para trocas culturais”, salientou. "É um grande acerto desta Mostra fazer com que as pessoas reflitam sobre o contexto árabe”, completou ele, que hoje mora no Egito e é fundador da MAD Solutions, um dos primeiros estúdios independentes de cinema e de consultoria voltado para o mundo árabe e parceiro da Mostra do ICArabe.
Outro convidado do evento foi Maher Diab, ilustrador, artista visual e que trabalhou como o principal designer na revista Arab World Good News Cinema. "Recentemente, o que tem acontecido na Europa é que muitas fundações têm cortado a parte cultural", observou. "É muito interessante que no Brasil, em vários lugares que você vá, como aqui hoje, a maioria ainda está interessada na cultura. O Brasil não é só de brasileiros. Muitas pessoas são de diferentes tendências, de diferentes culturas, é muito interessante."
Prestigiando a abertura, o secretário Municipal de Cultura da São Paulo, Nabil Bonduki, destacou a importância do evento. "É a consolidação dessa mostra aqui em São Paulo e no Brasil. É muito importante chegar à décima edição e certamente teremos uma vida longa para a Mostra Mundo Árabe de Cinema", afirmou.
Ao ICArabe, o secretário Adjunto de Cultura do Estado de São Paulo, José Roberto Sadek, pontuou: "Para conhecer uma cultura, não basta a gente ler as notícias que os jornais põem, nem os guias de turismo. Você precisa se colocar em contato com textos poéticos, textos estéticos. Um dos excelentes veículos de explicação cultural, de transmitir uma cultura, é o cinema, porque você vê os hábitos, os modos, tudo embalado em uma roupa estética", disse.
Cultura Árabe no Brasil
O curador da Mostra, Geraldo Adriano Godoy de Campos, avaliou seu significado para a cultura brasileira em seus dez anos de existência. “Todos os filmes que foram mostrados ao longo destes 10 anos tiveram um papel importante para revelar um mosaico que acaba mostrando o quão complexo é aquilo que nós chamamos de mundo árabe", declarou. "Complexo no sentido também de heterogêneo, de diversificado. Revelou que essa noção de "mundo árabe" é muito mais aberta, mais como um espaço de encontro, na verdade, do que como um bloco fechado. Esta foi uma grande conquista.”
Para o presidente do ICArabe, Salem Nasser, “tem um aprendizado que vai se sedimentando de que há uma riqueza muito grande na produção artística no mundo árabe, especificamente nessa linguagem, que é a do cinema", ressaltou. "É claro que é difícil abarcar tudo, mas trabalhar essa diversidade é talvez a grande missão.”
A reitora da Unifesp, uma das fundadoras do ICArabe e idealizadora da Mostra, Soraya Smaili, afirmou sentir-se realizada ao ver o evento comemorar 10 anos de vida. “É uma grande realização ver que aquela semente que foi plantada há dez anos, que era pequena e foi regada, cresceu muito”, disse. Soraya também refletiu sobre o público-alvo do evento. “Não é uma mostra para um público fechado, para os descendentes, é uma mostra para dialogar com a sociedade brasileira, a cultura brasileira, porque também faz parte dessa cultura. É muito rico, porque sempre temos um diálogo entre essas culturas", defendeu.
Professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser destacou o papel do cinema na divulgação da cultura. "Tem um poder muito grande de colocar em pauta a vida cotidiana das pessoas nos mais diversos ambientes sociais, políticos e culturais e com as mais diferentes perspectivas", disse. “Podemos notar que é muito próximo, em algumas coisas, as desigualdades, a opressão, a violência que aqui também é muito grande, de outras formas, mas nós convivemos com isso também", afirmou.
A mostra comemora a sua década de existência com a expansão para as outras capitais da Região Sudeste: Vitória/ES, Belo Horizonte/MG e para o Rio de Janeiro/RJ.
O próximo evento na capital acontece nesta sexta-feira (14), com a homenagem a Raduan Nassar, no Cinesesc, que terá a exibição de “Lavoura Arcaica” e um bate-papo com Milton Hatoum (veja mais em http://migre.me/rapGR).
No sábado, o Centro Cultural Banco do Brasil – São Paulo receberá Alla Karkouti e o diretor de festivais de música do Marrocos, Brahim el Mazned, no encontro “O Pan-Arabismo e o Pan-Africanismo nas artes: Reflexos no cinema e na música”(saiba mais em http://migre.me/rapJN).
Para informações sobre a Mostra http://www.mundoarabe2015.icarabe.org/
Para ver mais imagens da abertura, acesse a página da Mostra no Facebook .