O cineasta libanês de Lampião
A imigração árabe está tão presente no cotidiano brasileiro que tem participação até na história de um dos grandes mitos do país, o cangaceiro Lampião. Foram mãos da colônia as responsáveis por fazer as únicas imagens de Virgulino Ferreira da Silva, quando lutou contra o coronelismo no Brasil, na primeira década do século passado. O cineasta se chamava Benjamin Abrahão Botto, e, mesmo sem ser profissional, fez, entre os anos de 1935 e 1937, filmagens do cangaceiro e seu bando, no interior do Nordeste.
O que um libanês foi fazer na caatinga nordestina atrás do temido Lampião? A resposta nem os pesquisadores sabem ao certo. Segundo o escritor Antonio Amaury Corrêa de Araujo, que tem onze livros publicados sobre Lampião, é possível deduzir que a motivação foi econômica. “Acredita-se em dois fatores importantes. Primeiro, o Lampião já era uma lenda e Benjamin queria o desafio de entrevistar, fotografar uma lenda. Segundo, ele estava sendo remunerado e bem remunerado”, diz o jornalista Artur Aymoré, autor do livro “O Outro Olho de Lampião – A imprensa e o cangaceiro”, publicado neste ano.
É preciso dizer que Benjamin chegou do Líbano, na época em que seu país pertencia ao Império Turco Otomano, ainda jovem. Assim como muitos árabes, Benjamin chegou com um nome, Jamil Ibrahim, e adotou um outro, Benjamin Abrahão Botto, quando desembarcou, conta Araujo. Os registros históricos indicam que ele chegou a ser mascate e depois a ter uma loja de armarinhos. Seu destino, porém começou a se desenhar para os lados de Lampião quando foi ser secretário de Padre Cícero. Relata Araujo que Benjamin conheceu o cangaceiro por meio do Padre Cícero, em 1926, em Juazeiro, no Ceará.
O trabalho de registro do bando apareceu depois da morte do sacerdote. “Uma empresa alemã contatou uma pequena agência cinematográfica que havia em Fortaleza (Ceará) chamada AbbaFilmes. A AbbaFilmes contatou o Benjamin e perguntou se ele gostaria de encarar esse desafio. Era um desafio porque ele era procurado pela polícia em sete estados”, diz o jornalista Aymoré. Benjamin conseguiu chegar até o bando e teve acesso, então, até a simulações de ataques por parte dos cangaceiros. “O Benjamin era um homem extremamente sociável, acolhedor e conseguiu convencer Lampião de que o documentário reforçaria a sua imagem como destemido, lutador pela justiça social”, diz Aymoré.
A filmagem, porém, não deu seus frutos de imediato. "O filme chegou a ser exibido uma única vez em Fortaleza, mas durante a sessão de cinema a polícia invadiu o local e as pessoas que estavam ali acabaram não assistindo o filme por inteiro. A polícia apreendeu o filme e ele ficou encostado lá, jogado num depósito da Polícia Federal durante mais de 25 anos”, relata Aymoré. Anos depois, cineastas conseguiram resgatar o material e extrair dele nada mais do que 15 minutos. As cenas, aliás, estão no filme "Baile Perfumado", feito pelos diretores Lírio Ferreira e Paulo Caldas sobre Benjamin na década de 90.
Mas e Benjamin, o que foi feito dele após as filmagens? A sua vida, na verdade, foi muito curta no pós-Lampião. Ele foi assassinado alguns meses depois. E se há muitas informações desencontradas sobre a vida de Benjamin Abrahão Botto, há ainda mais a respeito da sua morte. O escritor Araujo chegou a conversar com um delegado, Enésio Mariano, que estava na casa ao lado da qual Benjamin foi morto.
“A morte dele foi um tanto quanto confusa. O que se sabe é que ele mantinha relações com a mulher do sapateiro, que era deficiente. Mas o Benjamin também tinha filmado o Lampião, pessoas importantes que tinham relacionamento com Lampião, e eu acho que essa foi a causa da morte dele. Como ele mantinha relacionamento com essa mulher, não sei até onde foi que colocaram na cabeça do sapateiro que ele precisava dar um fim no Benjamin. O genro e o filho do sapateiro mataram o Benjamin com 42 facadas”, diz Araujo.
O escritor Aymoré também desconfia da versão da morte por ciúmes e afirma que considera a versão de que foi a própria polícia a autora do crime a mais plausível. "O governo federal estava muito empenhado na captura do Lampião. Eles (os policiais) consideraram aquilo uma desvalorização, um cidadão estrangeiro vai e filma Lampião e os policiais não conseguem se aproximar”, explica o jornalista e escritor.
Dos demais detalhes da vida de Benjamin há poucos registros históricos. Teria vindo da cidade de Zahlé, diz Araujo. Também há notícias de que era muito simpático e até mulherengo. Uns dizem que era solteiro, outros que era casado e que teve até um filho. "Segundo se conseguiu saber, ele realmente tinha vocação para o cinema, tinha uma paixão pelo cinema e queria fazer disso uma profissão, ele tinha o sonho de ser cineasta. Essa versão, aliás, foi confirmada pelo filme Baile Perfumado", diz Aymoré.
O que um libanês foi fazer na caatinga nordestina atrás do temido Lampião? A resposta nem os pesquisadores sabem ao certo. Segundo o escritor Antonio Amaury Corrêa de Araujo, que tem onze livros publicados sobre Lampião, é possível deduzir que a motivação foi econômica. “Acredita-se em dois fatores importantes. Primeiro, o Lampião já era uma lenda e Benjamin queria o desafio de entrevistar, fotografar uma lenda. Segundo, ele estava sendo remunerado e bem remunerado”, diz o jornalista Artur Aymoré, autor do livro “O Outro Olho de Lampião – A imprensa e o cangaceiro”, publicado neste ano.
É preciso dizer que Benjamin chegou do Líbano, na época em que seu país pertencia ao Império Turco Otomano, ainda jovem. Assim como muitos árabes, Benjamin chegou com um nome, Jamil Ibrahim, e adotou um outro, Benjamin Abrahão Botto, quando desembarcou, conta Araujo. Os registros históricos indicam que ele chegou a ser mascate e depois a ter uma loja de armarinhos. Seu destino, porém começou a se desenhar para os lados de Lampião quando foi ser secretário de Padre Cícero. Relata Araujo que Benjamin conheceu o cangaceiro por meio do Padre Cícero, em 1926, em Juazeiro, no Ceará.
O trabalho de registro do bando apareceu depois da morte do sacerdote. “Uma empresa alemã contatou uma pequena agência cinematográfica que havia em Fortaleza (Ceará) chamada AbbaFilmes. A AbbaFilmes contatou o Benjamin e perguntou se ele gostaria de encarar esse desafio. Era um desafio porque ele era procurado pela polícia em sete estados”, diz o jornalista Aymoré. Benjamin conseguiu chegar até o bando e teve acesso, então, até a simulações de ataques por parte dos cangaceiros. “O Benjamin era um homem extremamente sociável, acolhedor e conseguiu convencer Lampião de que o documentário reforçaria a sua imagem como destemido, lutador pela justiça social”, diz Aymoré.
A filmagem, porém, não deu seus frutos de imediato. "O filme chegou a ser exibido uma única vez em Fortaleza, mas durante a sessão de cinema a polícia invadiu o local e as pessoas que estavam ali acabaram não assistindo o filme por inteiro. A polícia apreendeu o filme e ele ficou encostado lá, jogado num depósito da Polícia Federal durante mais de 25 anos”, relata Aymoré. Anos depois, cineastas conseguiram resgatar o material e extrair dele nada mais do que 15 minutos. As cenas, aliás, estão no filme "Baile Perfumado", feito pelos diretores Lírio Ferreira e Paulo Caldas sobre Benjamin na década de 90.
Mas e Benjamin, o que foi feito dele após as filmagens? A sua vida, na verdade, foi muito curta no pós-Lampião. Ele foi assassinado alguns meses depois. E se há muitas informações desencontradas sobre a vida de Benjamin Abrahão Botto, há ainda mais a respeito da sua morte. O escritor Araujo chegou a conversar com um delegado, Enésio Mariano, que estava na casa ao lado da qual Benjamin foi morto.
“A morte dele foi um tanto quanto confusa. O que se sabe é que ele mantinha relações com a mulher do sapateiro, que era deficiente. Mas o Benjamin também tinha filmado o Lampião, pessoas importantes que tinham relacionamento com Lampião, e eu acho que essa foi a causa da morte dele. Como ele mantinha relacionamento com essa mulher, não sei até onde foi que colocaram na cabeça do sapateiro que ele precisava dar um fim no Benjamin. O genro e o filho do sapateiro mataram o Benjamin com 42 facadas”, diz Araujo.
O escritor Aymoré também desconfia da versão da morte por ciúmes e afirma que considera a versão de que foi a própria polícia a autora do crime a mais plausível. "O governo federal estava muito empenhado na captura do Lampião. Eles (os policiais) consideraram aquilo uma desvalorização, um cidadão estrangeiro vai e filma Lampião e os policiais não conseguem se aproximar”, explica o jornalista e escritor.
Dos demais detalhes da vida de Benjamin há poucos registros históricos. Teria vindo da cidade de Zahlé, diz Araujo. Também há notícias de que era muito simpático e até mulherengo. Uns dizem que era solteiro, outros que era casado e que teve até um filho. "Segundo se conseguiu saber, ele realmente tinha vocação para o cinema, tinha uma paixão pelo cinema e queria fazer disso uma profissão, ele tinha o sonho de ser cineasta. Essa versão, aliás, foi confirmada pelo filme Baile Perfumado", diz Aymoré.
Fonte: ANBA - Agência de Notícias Brasil Árabe