Palestra na FGV marca evento da imigração libanesa no Brasil
Ele também veio ao Brasil para abrir contatos de intercâmbios universitários entre Brasil e Líbano com a Universidade de São Paulo (USP) e universidades do Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul, assim como instituições como o Museu do Imigrante (SP), o Centro de Estudos Árabes-USP e o Instituto da Cultura Árabe (ICArabe). O objetivo destes intercâmbios, diz ele, é sair um pouco do círculo de discursos que marcam estes encontros sem que haja um grau de continuidade. Tem como intuito fortalecer o intercâmbio de pesquisa entre professores e estudantes dos dois países.
Para Khatlab, é essencial que haja esta troca de informações para que se gere mais conhecimento entre o Oriente e a América Latina, região que mais recebeu imigrantes árabes no mundo e que, por isso mesmo, deveria receber uma maior atenção através de suas ligações culturais, sociais, políticas e econômicas. Para isto, a Universidade de Saint -Esprit criou o Centro de Estudos e Culturas da América Latina que, entre outras atividades, criará a Biblioteca Latino Americana no Líbano, fato inédito naquele país.
Em sua palestra, o pesquisador fez um histórico da vinda desses imigrantes ao Brasil, que começou oficialmente depois da viagem do Imperador Pedro II ao Líbano, Síria e Palestina, em 1876. O imperador, percebendo que o Brasil precisava fazer interligações entre as várias regiões brasileiras com baixas densidades demográficas, viu na figura do comerciante libanês – o mascate – a figura ideal para esta função.
“Com seu ‘armarinho’ nas costas, o mascate carregava todo tipo de mercadoria - da roupa ao alfinete. Desbravava as trilhas e sertões do Brasil, correndo todo tipo de perigo e encarando a solidão que marca a vida do imigrante quando sai de sua terra natal para enfrentar o desconhecido. Este foi o início de vida da grande maioria dos imigrantes árabes no Brasil”, disse Khatlab em sua palestra. Depois de juntar o primeiro capital com a mascateação, este imigrante abria uma pequena lojinha na cidade mais desenvolvida por onde passava.
Muitos se tornaram grandes comerciantes e industriais. Nomes como os da família Jafet, Murad, Maluf, Jereissati, Saad, Maksoud , Abdallah, Khoury, Dib, Sady, Nader, Sarkis, Duailibi e outros, ajudaram a construir a história econômica do Brasil. Eles também contribuíram nos campos da medicina e da literatura. Muitos jornais e revistas foram fundados e serviram como ponto de união e de referência entre a colônia em todo o país.
Durante a palestra, Khatlab mostrou fotos de imigrantes, a chegada nos portos, as hospedarias, as condições de viagens nos navios, a figura do mascate e de seu armarinho, suas primeiras lojas e documentos como passagens ou vistos de permanência de alguns desses imigrantes. A palestra do historiador atraiu um grande número de pesquisadores, estudiosos, políticos, empresários, construtores, além de estudantes de economia da FGV. Estiveram presentes ainda várias pessoas da colônia libanesa, entre outras Hubert Gebara, Mohamad Mourad, Maria Helena e Evlyne Beyruti , Miguel Maouad, Anesio Abdallah, Dirce Sousa Pinto, Cristiana Roviralta, Marcia Moussalem, Luiz Eduardo, Willian Atui, Salma Zogbi Simão, Lody Brais e Nouha Nader.
Ao final deste ano, o historiador Roberto Khatlab lançará um livro que contará em detalhes a viagem que o imperador brasileiro Pedro II fez aos países árabes em 1871 e 1876. Baseado no próprio diário de bordo do imperador, o livro trará fatos inéditos sobre a personalidade do primeiro governante brasileiro a viajar por países do Oriente e será publicado pela Editora Zahle, que tem sede no Piauí. (www.editorazahle.com).
Hoje, a colonia libanesa(incluindo os descendentes) no Brasil tem cerca de cinco milhões de pessoas, número superior à populção do Líbano que é de três milhões e meio de habitantes. Vale lembrar que as comemorações dos +130 anos de Imigração Libanesa para o Brasil - uma promoção da Associação Cultural Brasil-Líbano, que tem como presidente a senhora Lody Brais, com sede em São Paulo - foram inseridas no “Ano Internacional para a Aproximação entre as Culturas”, projeto proclamado pela ONU e que integra também o “Calendário Oficial de Eventos da Cidade de São Paulo”.
O professor Luiz Carlos Merege, da Fundação Getulio Vargas, foi quem organizou e abriu a palestra de Khatlab na Fundação. Merege também tem origem libanesa.