A Causa Nacional Palestina... (4 de 7)
O Oriente Médio diante da Nova ordem Mundial
Houve (e ainda há) quatro importantes questões políticas regionais de impacto global que marcaram o fim da Guerra Fria e o início do século XXI no Oriente Médio: 1) a invasão do Kuwait pelo Iraque em 1990, que levou à “guerra do Golfo” contra os EUA em 1991...Houve (e ainda há) quatro importantes questões políticas regionais de impacto global que marcaram o fim da Guerra Fria e o início do século XXI no Oriente Médio: 1) a invasão do Kuwait pelo Iraque em 1990, que levou à “guerra do Golfo” contra os EUA em 1991; 2) os acordos de paz de Oslo entre israelenses e palestinos (e os demais subseqüentes) de 1993 a 2000, bem como seu fracasso; 3) os ataques da al-Qaeda em 11 de setembro de 2001; e 4) a ocupação e a guerra anglo-estadunidense do Afeganistão em 2001-2 e do Iraque desde 2003. As tensões mal resolvidas ou não resolvidas dos dois primeiros problemas contribuíram decisivamente para os eventos de 11 de setembro e para as guerras do Afeganistão e do Iraque. Assim, esses dois últimos conflitos significam a culminação de tensões que permaneciam em aberto desde o fim da Guerra Fria, tanto em termos internacionais quanto em nível regional, e que, neste caso, assumiram profunda relevância nas agendas políticas dos Estados do Oriente Médio e nas relações sociais internas de cada uma dessas formações sociais.
Segundo alguns autores, como o historiador britânico Fred Halliday, a Guerra Fria começara a definhar, no Oriente Médio, muito antes de seu derradeiro fim no resto do planeta entre 1989 e 1991. Para Halliday (2005), esse processo teria se iniciado pelo menos uma década antes com a Revolução Islâmica iraniana de 1978-9 e com a guerra Irã-Iraque de 1980-88, quando teve início uma cooperação pragmática entre Washington e Moscou (Afeganistão está excluído) que culminaria, em 1991, no pós-Guerra Fria, com a consagração de um sistema mundial unipolar das relações internacionais encabeçado pelos EUA e apoiado por seus aliados (Canadá, Europa ocidental, Japão, Israel).
Ao apoiarem e armarem o Iraque laico, secular e herdeiro de um “socialismo árabe” em declínio contra o Irã revolucionário dos “aiatolás”(1), os EUA e a URSS buscavam impedir a repercussão do que viam como um exemplo de regime islâmico, nacionalista e anti-imperialista para o Oriente Médio e os países muçulmanos. O regime iraquiano, por sua vez, ao aproximar-se do Ocidente, buscava obter ganhos territoriais sobre o Irã, assim como respaldo para tornar-se uma liderança regional.
Assim, na primeira metade dos anos 1980, o fim da rivalidade nuclear estratégica e geopolítica entre o leste soviético e o oeste estadunidense e o fenômeno da “globalização” levariam, ao final da década, à reconfiguração das relações inter-estatais regionais e mundiais, especialmente no sentido de uma difusão de um modelo político-econômico neoliberal para novas áreas, que até então haviam estado sob o domínio ou a influência soviética. Esse fenômeno, associado a um processo de uma suposta eliminação de barreiras econômicas e fronteiras políticas entre os Estados nacionais, também conhecido pelo nome de “mundialização”, seria acelerado pelo colapso da URSS e pela distensão ideológica da “Guerra Fria”, que culminaria no biênio 1989-91.
Parecia, portanto, que a economia por si só “dava as cartas do jogo” e, assim, a partir da década de 1990, pretendeu-se impor uma solução principalmente econômica aos conflitos e problemas do Oriente Médio. Porém, e conforme veremos, a história mostraria que a política ainda seria um elemento mais decisivo e determinante do que se poderia imaginar. De fato, antes da ascensão plena dos EUA à condição de nação hegemônica (o que somente ocorreria após a derrocada final da URSS em 1991), houve uma espécie de “acidente de percurso” que poderia pôr em risco a salvaguarda de importantes interesses da política externa estadunidense no Oriente Médio, assim como prejudicar o novo cenário geopolítico que rumava para a unipolaridade internacional, se os EUA e seus aliados não tomassem as medidas adequadas para resolver o novo foco de tensão que irrompera em 1990. A invasão do Kuwait.
1 A expressão, que literalmente significa “sinal de Deus”, é o título dado a mais elevada autoridade político-jurídica e clerical do Islã xiita, sobretudo iraniano.