Israel reconhece a derrota e poupa culpado
O jornal libanês AS-SAFIR estampa, há poucos dias, uma manchete anunciando que o relatório Winograd admitiu a total derrota de Israel na guerra do Líbano do último verão e a TV AL-MANAR não deixa por menos e informa em seu noticiário noturno que o reconhecimento veio tarde, pois desde os primeiros dias da agressão, há muito tempo programada pelo governo israelense, já se tinha certeza de que o Estado judeu seria humilhantemente desbaratado em sua tentativa de intervir no processo político no Líbano, nesta aventura em conluio ultramarino.
A Comissão Winograd foi apontada pelo governo israelense para investigar e tirar lições daquilo que se chama em Israel da Segunda Guerra do Líbano. O relatório preliminar divulgado pelo presidente da comissão, juiz aposentado Eliyahu Winograd, em 30-04-2007, criticou duramente a cúpula governamental, o que foi um ato de coragem e isenção.
Esperava-se então uma condenação daqueles que tramaram a guerra, sem levar em consideração a força representada pela resistência libanesa, com pleno apoio popular.
Mas não foi o que aconteceu e a Comissão, em seu relatório final, divulgado dia 30-01-2008 “lambeu sua assinatura” - como se diz no Líbano - e submeteu-se a considerações políticas, quem sabe até a suborno, isentando Ehud Olmert de culpa.
Coube a um membro da comissão, professor Yehezkel Dror, dar as explicações e estas não passaram de desculpas esfarrapadas, o que torna válida a suspeita de submissão à política e talvez suborno. Disse ele em entrevista ao tablóide israelense MAARIV: “Se pensarmos que o Primeiro Ministro promoverá o processo de paz, isto é uma consideração muito respeitável. Um processo de paz se for bem sucedido, salvará muitas vidas e tem grande peso. Vocês têm que pensar nos resultados. O que preferem vocês? Um governo Olmert-Barak ou novas eleições que resultem na chegada de Benjamin Netanyahu ao poder?” Em entrevista à rádio militar israelense Dror disse que suas declarações são de cunho pessoal, não da Comissão.
Opinião dele sozinho ou da Comissão, não importa, tanto faz. Como também não importa quem está ou estará à cabeça do governo de Israel: Olmert, Barak ou Netanyahu, pois, para nós, deste lado do novo muro da vergonha, todos são iguais, farinha do mesmo saco!
Importa, isto sim, a declaração do deputado israelense do Partido Likud, Gilad Erdan, ao jornal MAARIV, afirmando que a Comissão Winograd “é uma comissão corrupta contaminada por considerações de política externa” enquanto o deputado do Partido Trabalhista, Sheli Yehimovitch, pediu a criação de uma nova comissão, pois “ficou evidente que no mínimo um dos membros da Comissão operou à base de motivações políticas, enquanto o público acreditava que fosse imparcial”.
A Comissão Winograd qualificou a Guerra do Líbano como “uma oportunidade perdida” e que isto sirva de aviso, alto e claro, aos Deputados libaneses, para que cumpram com seu dever na próxima reunião do Parlamento e não fiquem “passeando na floresta enquanto seu lobo não vem”.