Líbano: indecisão estagnada
O Líbano, desde o término do mandato do Presidente Emile Lahoud, em 24 de novembro de 2007, está sem Chefe de Estado, com o seu dia-a-dia sendo tocado, nos termos de sua Constituição, pelo governo. Porém, um governo que não se reveste de legalidade, por não ser paritário e não incluir membros de todas as confissões religiosas que compõem o intricado conjunto da sociedade libanesa.
A sociedade libanesa, no entanto, está numa situação de indecisão perfeitamente definida pelo filósofo norte-americano William James (1842-1910), fundador, em Harvard no ano de 1876, do primeiro laboratório psicológico de seu país cujo conceito filosófico repousa sobre o antiintelectualismo e o pragmatismo, quando afirma: “Não há homem mais infeliz que aquele em quem nada é habitual senão a indecisão”.
Fico em casa para definir a estagnação na qual se encontra o Líbano, ao citar um libanês autêntico e brasileiro por opção, Abrahim Farhat (1890-1977), que dizia, ao tentar impedir seus filhos de ir nadar nas águas estivais do Mediterrâneo: “Não vão! O mar está numa calmaria de azeite de oliva, prenúncio de tempestade”.
É lamentável, mas é verdade: a indecisão do Líbano o aproxima cada vez mais da explosão da tormenta.
Mais uma vez o Líbano está sujeito a sair da crise por intervenção vinda do além-fronteira. Tal como a insensata guerra civil que durou de 1969 a 1990 e teve que ser resolvida, felizmente, pela cooperação de países árabes, e não pelos eternos interessados alienígenas em tumultuar a vida do país do cedro. O resultado foram os Acordos de Taëf, que alteraram a Constituição libanesa e deram-lhe fôlego para viver em paz até a guerra do verão passado, quando Israel, mais uma vez, agrediu o Líbano e foi repelido pelas forças de uma aliança nacional tendo à frente o Hizbullah.
Amr Moussa, Secretário Geral da Liga dos Estados Árabes, cujo discurso ouvimos meses atrás em jantar em sua homenagem, no Esporte Clube Sírio, aqui em São Paulo, é o novo pombo da paz, correndo de seca em Meca para levar uma solução à atual situação libanesa, para que após treze adiamentos, seja a eleição presidencial libanesa finalmente realizada em 11 de fevereiro próximo.
Ao plano árabe de solução da crise libanesa parece não haver alternativa. O plano, com três pontos, adotado durante a última reunião dos ministros das relações exteriores dos países árabes, reunidos no Cairo dia 6 de janeiro deste ano de 2008, está sendo discutido por Moussa com todos os setores libaneses, sem exceção, em circunstâncias difíceis e desesperadoras. O plano árabe preconiza a eleição imediata, pelos deputados, do chefe das forças armadas, general Michel Suleiman, reconhecendo-lhe um papel de árbitro supremo entre as facções e a formação de um governo de união nacional cuja composição seja tal que nenhuma das partes, atuais situação e oposição, possa impor ou bloquear qualquer decisão. Em caso de desacordo, o Presidente da República terá a última palavra.
A maioria parlamentar chamada de “Movimento 14 de Março”, que a chancelaria norte-americana e suas seguidoras chamam de pró-ocidental – o mais certo seria chamá-la de vendilhã da pátria aos interesses dos Estados Unidos e Israel - e a oposição formada pelo Hizbullah e seus aliados, os mesmos que derrotaram Israel no último verão, chamada de “Movimento 8 de Março” - que os acima mencionados chamam de pró Síria, pró Irã e o escambau - estão de acordo sobre a escolha de Suleiman.
Teremos assim um supremo juiz salomônico e, não obstante as sábias e criteriosas palavras e demonstrações de Suleiman que se tem acompanhado, a única certeza para o libanês consciente é que a solução proposta é provisória, até que se adote uma nova lei eleitoral, e novos Parlamento e Presidente sejam eleitos.
Até lá, só nos resta a esperança de que no dia de 11 de fevereiro de 2008 os deputados libaneses, cujo desempenho durante a atual legislatura não recomenda, cumpram com o seu dever.