Na rota dos fenícios

Qui, 15/07/2010 - 12:02
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Eles viveram muito antes que Roma pudesse existir como império e deixaram o seu rastro por quase todo o Oriente, chegando até a África por meio do Mediterrâneo (chamado depois pelos romanos -em sua descabida pretensão - de ‘Mare Nostrum’), como exemplo da força de seu império.

Estou falando dos fenícios, aqueles grandes navegadores e comerciantes que aparecem em tudo que é livro de história antiga e que a gente estuda, estuda, mas acaba sem saber a dimensão exata do que eles representaram para o mundo. Uma realidade que ainda transborda as páginas de qualquer livro pelos feitos, coragem e criatividade que tiveram. Foram os primeiros desbravadores dos mares antigos e fundaram colônias do Mediterrâneo ao Atlântico, chegando até as ilhas britânicas e, segundo alguns historiadores, ao mar Báltico. Há quem acredite que eles chegaram até o litoral brasileiro. Padre Emile Edde é um deles. Ele veio, no dia 22 de junho, a Teresina ministrar uma palestra a convite da Brigada Mandu Ladino e da Editora Zahle (que edita a revista Mercado do Imóvel). O tema da palestra foi “Fenícios no Brasil?”, assunto polémico, que ainda divide a comunidade científica pela falta de vestígios, apesar de inúmeras evidências.

Mas padre Emile, um libanês de 74 anos, representante da igreja maronita de São Paulo, é um estudioso do assunto e trouxe na bagagem fortes evidências da passagem deles por nossas terras. Uma das mais significativas está na área da linguística, devido ao tipo de escrita que foi encontrada em vários pontos do litoral do Brasil e o tipo de escrita inventada por eles, fenícios. Também no começo do século passado, uma expedição arqueológica formalizada para esse fim encontrou no fundo da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, duas enormes ânforas de estilo e inscrições fenícias. Muitas outras evidências foram citadas na palestra.

Depois, um breve e interessante debate se travou com a plateia, formada por historiadores, arqueólogos, escritores, jornalistas, médicos, advogados e representantes da colônia sírio libanesa do Piauí, que também deu apoio ao evento através da Sociedade Sírio-Libanesa no  Piauí.

Padre Emile é um estudioso com passagem pela Universidade de Salamanca  (Espanha) com licenciatura em Filosofia e Teologia, pós graduação em Paris, com mestrado em Pastoral e História e com Doutorado em Ciências Teológicas. É autor de 15 obras traduzidas para o árabe, francês, espanhol e português e mais de 800 artigos publicados em revistas e jornais. Além disso, é uma figura ímpar. Irrequieto, curioso, conversador, alegre, padre Emile conquistou a simpatia e a admiração de todos que assistiram à sua palestra e o acompanharam durante a permanência em Teresina.

Ele visitou a Paróquia Mãe de Deus (Teotókos), a única igreja de rito  ortodoxo do Piauí, onde teve a oportunidade de conhecer um pouco o trabalho que o Padre Vale desenvolve junto com a colônia árabe.  Provou a típica culinária piauiense, o famoso 'escondidinho' (arroz misturado com carne seca) e o capote do Favorito Comidas Típicas e aprovou, com louvor, a nossa famosa cajuína, uma bebida não alcoólica, feita com o sumo do caju. Deliciosa!

Nascido em Biblos, uma das cinco cidades fenícias do Líbano, atualmente ele mora no Brasil, e é assessor de Dom Edgard Madi, Arcebispo Maronira do Brasil. Sua vinda fez parte de uma série de palestras que a Brigada Mandu Ladino promove mensalmente em um núcleo de estudos para discutir e divulgar a pré-história do Piauí. Assim como parte das comemorações
dos mais de 130 anos da Imigração Libanesa para o Brasil. Gostaria de agradecer a Sra. Lody Brais, presidenta da Associação Cultural Brasil-Líbano, com que mantive contato para viabilizar a sua vinda. A Editora Zahle tem a intenção de publicar um livro com o resumo de todas as palestras ministradas neste núcleo, que é aberto a todas as pessoas que tenham interesse neste assunto.

Nosso mar
 A expressão ‘Mare Nostrum’ foi criada pelos romanos em cerca de 30 a.C., para nomear o mar Mediterrâneo, dando um exemplo da força do império. Em 2010, a mesma expressão está sendo usada por um projeto da Comissão Européia (CE) para unir seis cidades da região, antigos portos fenícios, promovendo o resgate da cultura local, o  desenvolvimento do turismo e a troca de conhecimento entre países. Trata-se da versão moderna do ‘Mare Nostrum’, que traça uma rota comum entre Tiro (Líbano), Tartus (Síria), Cartago (Tunísia), Siracusa (Sicília, Itália), Rodes (Grécia) e Lavalletta (Malta).