O Levante Cultural

Qua, 18/03/2009 - 21:00
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O Levante é um termo geográfico tradicionalmente utilizado por historiadores e arqueólogos dos períodos pré-histórico, antigo e medieval, para descrever um vasto território da Ásia ocidental, formado pelas regiões à leste do mar mediterrâneo que se estendo ao norte até as Montanhas de Toros e ao sul até o deserto da Arábia, incluindo o vale fértil entre os rio Tigres e Eufrates, e a antiga Anatólia. Este termo é bastante elástico conforme as diferentes culturas e especificidades geográficas a que se aplica, mas costuma designar, de modo geral, o Mediterrâneo ao leste da Itália. Foi cunhado, na verdade pelos franceses, cuja palavra levant indica também o Oriente, pois se refere à direção em que se presencia o nascer do sol (o levante). Menos idílica é a história desta região entre os Bálcãs e a Ásia, palco de disputa de diversos impérios – desde os persas, mongóis, bizantinos, cruzados, turco-otomanos, soviéticos e etc, até as guerras evitadas (ou provocadas?) pela OTAN em nosso presente século, cuja destruição de servios, croatas, bósnios, albaneses, macedônios, armênios (novamente), azeris, e outros, se deve muito a construção de um gigantesco oleoduto para drenar o petróleo das profundezas do mar Cáspio e arredores (leia-se uma parte da Geórgia, Turcomenistão, Rússia, Azerbaijão, Irã, Cazaquistão...). Um dos mais tristes e conhecidos episódios foi o massacre dos armênios, em 1915, perpetrado pelos turcos, cujo exemplo foi tragicamente seguido pela Alemanha no genocídio de judeus, ciganos e outros povos durante o 3º. Reich alemão. Entristece ainda a etnofobia israelense contra palestinos e árabes, cujo saldo foi de 15 contra 1000 (ou mais) no início deste ano, um crime de estado inaceitável para um povo cujo extermínio (premeditado) sofrido é ainda tão recente. O “mar dos Kazares” é como os iranianos chamam a bacia do rio Volga ao desaguar no Mar Cáspio, ao norte, onde os especialistas indicam que esteja Itill, a antiga capital do Império Kazar: um império não-eslavo, cujos governantes eram judeus e teriam imposto o judaísmo como religião oficial. Uma grande polêmica envolvendo desde arqueólogos até geneticistas se acendeu em torno de evidências que indicam que a maioria dos judeus de povos indo-europeus e não só de semitas. Isto nos faz levantar muitas questões sobre a suposta ascendência comum entre palestinos e judeus, principalmente usada para justificar um certo direito histórico dos israelenses àquelas terras dadas a Abraão e seus descendentes ... e quantos dos israelenses de hoje não vieram da Rússia, diretamente da terra dos Cazares! Incrível coincidência. Quanto ao termo Levante, também costuma ser empregado, em história medieval ou mesmo na atualidade, para a região disputada durante as Cruzadas, especialmente no que se refere aos eventos, povos, nações e estados na mesma região, isto é, Israel, territórios palestinos, Jordânia, Líbano e Síria. Levante cultural Com algumas destas considerações em foco, e partindo de uma prática artística voltada para a paz, diversos artistas de culturas orientais e mediterrânicas criaram o Levantine Cultural Center (Los Angeles) uma recente e interessante iniciativa que junta pesquisadores e artistas cuja proposta, secular, multi-étnica e multi-cultural traduz não somente uma visão de mundo plural, mas uma clara intenção de preservação cultural e criação artística para o fomento da paz, especialmente unindo culturas que estão em risco, pelos conflitos militares e políticos que as envolvem. Israelense e palestinos, turcos e armênios, iranianos, azeris e outros povos tem um campo aberto para o a investigação e preservação artísticas das características culturais que os unificam, como alternativa às razões que os levam à guerras.