O rei poeta e o poeta rei

Seg, 02/10/2006 - 00:00
Al Mu’tamid, rei da taifa de Sevilha, era um poeta inspirado. Protagonista de passagens que marcaram sua trajetória como líder, poeta e homem sensível, foi também um verdadeiro cavalheiro. Corria a tarde. Contam que ele passeava à beira do Guadalquevir, com o vizir Ibn Ammar, também poeta, quando lhe propôs que continuasse o verso que recitava: "A brisa transforma o rio num rastro entrelaçado". Porém, antes que Ibn Ammar respondesse, uma jovem que passava seguiu o verso na medida exata: "Em verdade, que belo tecido se o gelo o tornasse sólido!" Surpreso, o rei se virou para ver de onde vinha o que ouviu e avistou uma moça do povo, especialmente bonita, que lançara sua poesia sobre as águas correntes. Al Mu’tamid enviou um dos seus serviçais atrás dela. Seria um presente delicado do destino? A jovem se apresentou com seu verdadeiro nome, I’timad. Contou que era mais conhecida como Rumaykiyya, por ser escrava e condutora de mulas de um senhor chamado Rumayk. À parte beleza e poesia, tinha talento e originalidade. Como não era casada, o rei procurou seu senhor, pagou por sua liberdade e a pediu em casamento. Leal e marido dedicado, ao longo da vida fez de tudo por ela, sendo o primeiro a satisfazer o que fosse de encontro ao um grande desejo seu. Contam que sempre foram parceiros, pois além da afinidade poética, a jovem trazia no nome o selo de um relacionamento sólido: I’timad quer dizer "confiança".