Processo de paz entre Israel e Palestina está paralisado

Ter, 25/10/2011 - 14:30
O conflito Israel Palestina será um dos temas abordados pelo curso "Mundo árabe - conjuntura atual e perspectivas", que começa na próxima quinta-feira, 27 de outubro.

Para introduzir a questão, conversamos com o Prof. Salem Nasser (FGV) sobre alguns assuntos que serão discutidos em sua aula. Leia a seguir a entrevista.

Quais foram as principais mudanças no cenário do conflito Israel-Palestina nos últimos anos? Estamos mais próximos de uma solução que contemple as reivindicações e necessidades do povo palestino?

Os últimos anos foram caracterizados por uma paralisação do chamado processo de paz. Se algo vier a atender, em alguma medida, as reivindicações palestinas, esse algo não será o resultado de quaisquer sucessos acumulados nos últimos anos, que não existiram. Quanto ao que pode vir a ser atendido, deve-se dizer que há várias visões do que são as reivindicação e do que são as necessidades. Parte dos palestinos, à frente dos quais está a Autoridade Palestina, já abriu mão de algumas reivindicações históricas e está disposta a aceitar aquilo que se pensa ser o mínimo possível. O fato novo, criado pela AP, é o pedido de entrada na ONU. Com isto talvez se caminhe alguns passos no sentido de conseguir esse mínimo, mas não há qualquer garantia. Esse gesto era quase uma última carta na mão e ela foi jogada. Para além disso, talvez se possa dizer que os últimos anos vêm trazendo um relativo enfraquecimento da posição de Israel e uma resiliência do povo palestino. Talvez isso seja sinal de que uma solução mais justa pode ser possível, ainda que em longo prazo, e à condição de que não haja
tragédias no meio do caminho.

Houve alguma mudança no comportamento dos EUA em relação ao conflito no governo de Barack Obama?

Na substância, nada mudou. Obama fez alguns discursos, que não diziam muito, mas que se quis ler como corajosos. No entanto, logo em seguida era lembrado das limitações de seu poder no que diz respeito aos interesses de Israel, como percebidos nos Estados Unidos.

Caso o Estado Palestino seja formalmente reconhecido por Israel, isso significará a possibilidade de retorno dos refugiados que estão espalhados por diversos países? Como seria configurado este Estado? Quais seriam suas fronteiras?

Essas perguntas estão todas em aberto. Do modo como as coisas se apresentam hoje, se Israel viesse a reconhecer um Estado Palestino, só o faria em acordo que lhe desse grande controle sobre o território do
novo Estado, cujas fronteiras Israel desenharia, e certamente não aceitaria o direito de retorno ao que seria definitivamente território israelense.

Na última Assembleia Geral da ONU, a presidenta Dilma Rousseff se declarou a favor do reconhecimento do Estado Palestino. De que forma esse posicionamento pode contribuir para a solução do conflito Israel-Palestina?

O Brasil, ao se posicionar como vem fazendo, está dizendo claramente que somos favoráveis, como país, à solução de dois Estados e que o Estado palestino deve existir nas fronteiras pré-67. Também presta seu apoio político aos palestinos, e particularmente à AP, reforçando a sua posição. Finalmente, o Brasil está também mandando a mensagem de que está disposto a assumir um lugar de maior relevância no mundo e de que não pode se furtar de influenciar essa que é uma das questões centrais da política mundial.

Paralelamente, o Brasil tem firmado pactos comerciais com Israel. De que forma esse tipo de acordo influi no posicionamento em relação à questão palestina? Trata-se de uma contradição?

Do ponto de vista do governo brasileiro, não há contradição. O Brasil reconhece Israel e tem boas relações com esse país. Como, nos últimos anos, nos aproximamos mais dos países árabes, incrementando as trocas comerciais e estreitando laços políticos, ao celebrar o tratado com Israel, indica-se que o Brasil não está transformando Israel em seu inimigo e que, como país, temos a intenção de adotar posição de equilibrio, buscando solução justa. Isso não nos impede de dizermos, de forma razoavelmente clara, que consideramos ser hoje Israel o principal óbice à paz