Alicerce para estudos árabes

Sex, 18/12/2015 - 15:05
Colocar nas mãos dos leitores e pesquisadores obras literárias que sirvam de referencial teórico e metodológico para estudos da cultura árabe e islâmica. Com essa proposta, a editora paulistana Ateliê Editorial mantém há cerca de oito anos a Coleção de Estudos Árabes.Já foram lançados quatro títulos como parte da iniciativa e mais dois devem se juntar a eles no primeiro semestre de 2016, segundo informações do curador da Coleção, Mamede Mustafá Jarouche, que é professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).Os livros da coleção trataram até hoje de literatura, arte e filosofia. Nos próximos meses um dos lançamentos previstos é Arábia Brasília, com estudos sobre escritores brasileiros de origem árabe, de autoria do professor de literatura brasileira da Universidade do Porto, Alberto Sismondini.Outra obra a ser lançada no período é Leão, o Africano, do professor de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Murilo Sebe, que trata da trajetória do muçulmano Al-Wazzan. Ele foi capturado por piratas em 1518 e tornou-se criado do Papa Leão X, para o qual escreveu um tratado histórico geográfico em italiano. O documento foi traduzido por Murilo e será publicado com o livro.Já fazem parte da Coleção de Estudos Árabes os livros O Simbolismo dos Padrões Geométricos da Arte Islâmica, de Sylvia Leite, O Intelecto em Ibn Sina, de Miguel Attie Filho, A Arte do Zajal, de Michel Sleiman, e Na Senda das Noites, de Christiane Damien.O livro de Sylvia Leite é uma reflexão sobre a arte muçulmana e suas relações com a morfologia derivacional da língua árabe, com ponto de partida na arquitetura de Alhambra, um bairro na cidade espanhola de Granada. No livro de Ibn Sina, Attie Filho estuda o conceito de aql ou intelecto no filósofo.Michel Sleiman escreveu sobre o gênero poético do zajal, desenvolvido na Andaluzia, com foco no poeta árabe-islâmico Ibz Qyzman, e Damien publicou um estudo sobre a influência das Mil e Uma Noites, em especial da tradução francesa de Galland, sobre um autor romântico francês, Charles Nodier.Jarouche afirma que embora qualitativamente substanciosos, são poucos os títulos. “Não lidamos, por exemplo, com cultura japonesa ou judaica, cujos governos e colônias se preocupam de fato com a promoção de suas culturas e a estimulam financiando a publicação de livros”, disse para a ANBA.De acordo com ele, os únicos apoios foram, além da boa vontade do editor, órgãos públicos de estímulo à pesquisa, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que é federal, e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que é estadual.Por enquanto todos os autores com obras publicadas são brasileiros. Com o livro de Sismondini, italiano, a Coleção passa a ter também autores estrangeiros. E Jarouche revela que mais para o final de 2016 deve ser lançado o livro Os Arabismos e Outras Vozes Médio-Orientais do Dicionário Houaiss, do arabista espanhol Federico Corriente Córdoba. “Um minucioso trabalho etimológico-filológico sobre os arabismos no português, com resultados surpreendentes”, diz o curador.Também está em produção a edição de trechos das Mil e Uma Noites traduzidos por D. Pedro II diretamente do árabe ao português pela pesquisadora catarinense Rosane de Souza, que encontrou os manuscritos, e por Jarouche.A Coleção de Estudos Árabes foi criada após a aprovação pela Capes da pós-graduação em árabe na USP. “A bibliografia em português é bem escassa”, afirma Jarouche, sobre o material disponível para estudos em cultura árabe e islâmica. O objetivo é dar suporte teórico a esses estudos, encorpando um pouco a bibliografia em português. “A escolha dos títulos se pauta por sua importância acadêmica, uma vez que se trata de pesquisas.”, diz o curador.A coleção se enquadra na proposta da Ateliê Editorial, que foi criada em 1995 pelo editor Plinio Martins Filho, com a proposta de levar ao leitor livros de alta qualidade editorial, em edições que primam pela atenção ao conteúdo, à forma e à expressão. O foco é a literatura, com ensaios, crítica literária e outras matérias de natureza acadêmica, comunicação e artes, arquitetura, edição de clássicos da literatura e estudos sobre o livro e seu universo.Os livros podem ser adquiridos em redes de livrarias em quase todo o território nacional e no site da própria editora (www.atelie.com.br). A Ateliê publica em média 30 novos títulos ao ano. Suas publicações já ganharam prêmios nacionais e internacionais, como Jabuti, Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e IDA International Design Awards, dos Estados Unidos. O curador Jarouche também ganhou os prêmios APCA, Jabuti e Paulo Rónai, da Biblioteca Nacional.Contato:Ateliê EditorialSite: www.atelie.com.brBlog: blog.atelie.com.brTelefone: +55 (11) 47025915