Desembargador analisa conflitos árabes em palestra
O magistrado observou que os grandes erros que levaram o Oriente Médio a se tornar uma região de constante instabilidade são resultado da influência do Ocidente na região. “A intromissão do Ocidente sempre traz conseqüências nefastas. Vejam as invasões do Afeganistão e do Iraque. Os valores são muito diferentes. Não se pode impor valores a outro povo”, disse. Razuk afirmou ainda que não vê solução para o conflito entre Israel e Palestina devido, entre outros motivos, ao fato de que Israel conta com apoio incondicional dos Estados Unidos em defesa de seu território.
“Nesta apresentação eu quis dar uma contribuição simbólica a partir do meu interesse pela história. Ela é fundamental para compreendermos o presente e evitarmos cometer novos erros”, afirmou Razuk à ANBA ao fim do evento.
Em sua apresentação, Razuk fundamentou sua opinião ao contextualizar os eventos do passado que levaram aos conflitos e desafios atuais. Ele lembrou da negociação secreta sobre a partilha da região realizada em 1916 pelos diplomatas François Georges-Picot, da França, e Mark Sykes, do Reino Unido, conhecida como Acordo Sykes-Picot.
Outro fator que já indicava o interesse em influenciar a política do Oriente Médio foi a carta enviada pelo secretário britânico dos Assuntos Estrangeiros, Arthur James Balfour, ao líder da comunidade judaica na Grã-Bretanha, Walter Rothschild, em 1917. Nela, Balfour expressava o apoio do governo do Reino Unido ao estabelecimento de um lar nacional para o povo judeu na Palestina. Tanto o acordo de Sykes-Picot como o envio da carta de Balfour a Rothschild ocorreram durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Em 1919, Estados Unidos, Reino Unido, França e Itália comandaram a realização da Conferência de Paz de Paris, em que determinaram as punições de guerra à Alemanha, derrotada no conflito. Naquela ocasião também foi criada a Liga das Nações, instituição que precedeu as Nações Unidas e que teve suas regras constantemente violadas pelas potências mundiais. Após esses fatos seguiu-se a independência de diversos territórios árabes: Iraque, em 1921; Transjordânia (região em que fica a Jordânia), em 1922; Líbano, em 1943; e Síria, em 1945. A Palestina, porém, não se tornou independente.
Em meio às duas grandes guerras e negociação pela partilha de territórios, afirmou Razuk, países árabes fizeram acordos secretos com Israel, que não resultaram na divisão igualitária de dois estados independentes. Os palestinos não tinham representação. Síria e Líbano ficaram sob comando francês até sua independência, já na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e o Iraque, ao se tornar independente, reuniu em seu território pessoas de crenças distintas. Muçulmanos sunitas, muçulmanos xiitas e curdos.
“Acho que foi uma omissão da Conferência de Paz de Paris não pensar em um território para os curdos. O Curdistão é uma região quase autônoma do Iraque, com cerca de 20 milhões de habitantes, e fonte permanente de atritos”, disse Razuk. Neto de libanês, ele afirmou que a solução dos conflitos é difícil e improvável no contexto atual, mas lembrou que sempre há o inesperado: “Eu não imaginava que veria o Muro de Berlim cair. E ele caiu (em 1989, com o fim da União Soviética)”.
A palestra de Razuk integra o Ciclo de Palestras da Câmara Árabe, que a cada mês recebe um especialista em uma determinada área do conhecimento. Economistas e historiadores já se apresentaram no encontro. Do evento de terça-feira participaram o presidente da Câmara Árabe, Marcelo Sallum, o diretor-geral, Michel Alaby, e o organizador do Ciclo de Palestras e ex-diretor da instituição, Mário Rizkallah, além outros diretores e vice-presidentes.