“A luta dos jovens continua no Egito”, diz Mamede Jarouche
O professor do curso de árabe da USP, tradutor renomado e membro do Conselho Cultural do ICArabe, partiu para o Cairo dias antes do início da revolta do povo egípcio. Como em outras oportunidades, Mamede foi para realizar trabalhos acadêmicos, interação entre Universidades e, dessa vez, também para lançar o livro em língua árabe "As Noites Árabes Falsificadas", organizado por ele. Na publicação, diversos textos comentam e discutem o Livro das Mil e Uma Noites, mas também podem ser interpretados como uma alusão às noites do regime ditatorial.
Ao telefone, ele contou para o ICArabe suas percepções sobre os fatos vistos pela janela, nas ruas e nos canais locais de televisão. Segundo o professor, ao contrário do que muitos veiculam, a revolução está sendo promovida pelos jovens e é secular. “Eles protestam com vigor, gritando ‘Ele que se vá, nós não iremos’. Infelizmente hoje (2 de fevereiro), Mubarak respondeu com violência e enviou para as ruas cerca de 11 mil criminosos libertados por ele e que marcharam, montados em cavalos e armados com chicotes”, descreveu Mamede.
De acordo com o professor, a infraestrutura passou a ser precária, “é compreensível”, opina. A imprensa tem dificuldades de se comunicar, a internet esteve cortada, a TV Al Jazeera foi proibida pelo governo. “Mas isso não é problema, os egípcios já encontraram maneiras de driblar a censura e a TV voltou a pegar, a mesma coisa para a internet. Várias coberturas estão sendo feitas e a da BBC, provavelmente, é a mais completa”, acredita. Os bancos estão fechados, o Euro subiu rapidamente e falta comida. Em uma de suas saídas em busca de alimentos, ele contou que encontrou um egípcio, que esperava havia horas por um pão. “Ao me ver, o homem se aproximou e me ofereceu uma parte do pão dele. A solidariedade é enorme, os egípcios se ajudam, se protegem e sabem que precisam de união para dar conta do que parece ser uma das maiores revoluções dos tempos modernos”, afirmou Mamede.