Especialistas se reuniram no Centro MariAntonia, em São Paulo, para abordar o tema sob diversas perspectivas: geopolítica, filosófica, jornalística e literária.
O Instituto da Cultura Árabe (ICArabe), em parceria com o Centro MariaAntonia, da Universidade de São Paulo (USP), e Cátedra Edward Said de Estudos da Contemporaneidade, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), realizou na última terça-feira, 21 de outubro, o seminário “Dois anos do 7 de outubro: balanços, Nakba continuada e o futuro da Palestina”.
O evento, aberto ao público, ocorreu no Centro MariAntonia, na capital paulista, e contou com mediação de Natália Calfat, presidente do ICArabe, e da diretora do Instituto, Christina Queiroz. O debate teve palestras de Ratib Al Safadi (fotojornalista de guerra), Salem Nasser (Direito – FGV), Hussein Kalout (Relações Internacionais – USP), Peter Pál Pelbart (Filosofia – PUC-SP) e Safa Jubran (Letras – USP).
Com o 7 de outubro, “o Direito Internacional, valores democráticos e o chamado eixo da resistência sofreram golpes severos, como a própria banalização do arrasamento de Gaza e, talvez, uma nova ordem regional com a queda de Bashar al Assad na Síria, o assassinato o secretário geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, a destruição no sul do Líbano, a celeridade na instalação de um novo governo (e qual governo) e até os bombardeiros contra o Irã”, detalhou Natalia Calfat no evento. “Todas essas questões têm sido brilhantemente expostas e discutidas pelos nossos convidados, que são referência nas diferentes áreas e que nos oferecem uma análise complexa, nuançada e muito bem trabalhada – para além do que se pode encontrar na mídia tradicional”.
“O objetivo dessa mesa era que pudéssemos oferecer ao público um espaço para balanço e diálogo a respeito dessas questões políticas e geopolíticas, mas também de forma mais ampla, pensando em debates filosóficos, identitários, de representação e também artísticos. Falamos de arabidade, de resistência, de humanismo, trauma e memória”, destaca Natalia.
A diretora de Comunicação e Imprensa do ICArabe, Christina Queiroz, explicou ao público que a intenção da organização da mesa era abordar questões factuais e concretas, mas também fazer um balanço pensando nos impactos do 7 de outubro no imaginário.
E citou o intelectual Edward Said, inspiração para a criação do ICArabe (que faria 90 anos no próximo dia 1 de novembro), no livro Cultura e Imperialismo: “assim como nenhum de nós está fora ou além da geografia, da mesma forma, nenhum de nós está totalmente ausente da luta geográfica. Essa luta é complexa e interessante porque não se restringe a soldados e canhões, abrangendo também ideias, formas, imagens e representações”.
Considerando especificamente os desdobramentos do 7 de outubro, o imaginário coletivo foi fortemente impactado pelas imagens das atrocidades do genocídio que circularam pelas internet e pelas redes sociais, frisa Christina. “Imagens devastadoras que muitas vezes conseguiram furar as barreiras colocadas pela grande imprensa e, de certa forma, ajudar a criar uma outra narrativa sobre os fatos”.
As palestras trouxeram diversas perspectivas: Ratib Al Safadi abordou o fotojornalismo no exílio e as imagens do conflito; Salem Nasser e Hussein Kalout discorreram sobre os impactos do 7 de outubro na geopolítica do Oriente Médio e o que esperar para o futuro; o palestrante Peter Pál Pelbart falou sobre as implicações filosóficas do 7 de outubro para a judaicidade e como pensar trauma e memória pós-Gaza; e a Palestina na literatura foi o tema de Safa Jubran.
