O ICArabe apresenta mais um verbete da série especial criada para ampliar o conhecimento sobre o mundo árabe. A iniciativa reforça o compromisso do Instituto em difundir informações de qualidade, promover a diversidade cultural e colaborar para a desconstrução de estereótipos, incentivando uma compreensão mais crítica e abrangente da sociedade.
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Pan-arabismo
Em seu sentido mais genérico, o pan-arabismo designa tanto uma ideologia quanto um movimento cultural. Ele se refere aos povos árabes que habitam uma área situada na Ásia Ocidental, Norte e Chifre da África . Como ideologia, preconiza a unidade política árabe, assentada sobre a defesa de supostas causas e interesses comuns. Como movimento cultural, cultiva uma identidade resultante de interações ocorridas entre etnias e grupos ao longo de milênios, incluindo idioma, usos e costumes (arquitetura, culinária, música, literatura, poesia, filosofia).
O pan-arabismo, expressão do Renascimento Árabe (Nahda), começou a germinar no final do século 19, em círculos intelectualizados de Damasco, do Cairo e de Beirute, como uma forma de resistência ao Império Otomano. Com o início da Primeira Guerra Mundial (1914), Hussein bin Ali, guardião (xarife) de Meca, liderou a Revolta Árabe (1916-1918) contra Istambul, articulada com o agente britânico Thomas Lawrence, em troca do compromisso britânico de apoiar a criação de um Estado árabe independente, da Síria ao Iêmen.
Mas, traindo a promessa, Londres e Paris dividiram secretamente a região, mediante o Acordo Sykes-Picot (1916), que traçou as fronteiras dos atuais estados árabes. A criação de Israel (1948) elevou ao máximo o anseio por um mundo árabe unificado contra o invasor europeu.
O auge do pan-arabismo ocorreu com o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser (1956-70), que nacionalizou o Canal de Suez em 1956 e transformou o pan-arabismo em movimento de massas anti-imperialista. Nasser promoveu a fusão entre Egito e Síria (República Árabe Unida, de 1958 a 1961), e tentou criar federações com o Iraque e o Iêmen.
O declínio ocorreu em 1967, com a derrota, para Israel, da coalizão árabe (Egito, Síria, Jordânia), na Guerra dos Seis Dias. O desastre expôs as fraturas entre os governos árabes e impulsionou a ascensão de grupos nacionalistas locais, do sectarismo religioso e do islamismo político. Hoje, a luta do povo palestino mantém vivo um sentimento transnacional de solidariedade e a percepção de um destino compartilhado entre os árabes.

José Arbex Jr é jornalista, doutor em História Social pela USP, professor de Jornalismo da PUC-SP e pós-doutor pela Universidade de Granada.
