O Instituto da Cultura Árabe – ICArabe lança mais um verbete da série especial voltada a aprofundar o entendimento sobre o mundo árabe. A ação reforça a missão do Instituto de difundir conhecimento confiável e promover a valorização da diversidade cultural, contribuindo para quebrar estereótipos e ampliar a consciência crítica da sociedade.
Ta’thir
Ta’thir (caráter, humor, temperamento) é o termo árabe para o estudo da influência da música sobre os seres humanos.
A música afeta as pessoas através de suas vibrações, provocando reações diversas e, por causa desse poder, a frequência dos sons é cuidadosamente estudada, para ser utilizada corretamente.
A cultura oriental árabe pressupõe que tudo está interligado através de um sistema de correspondências: macro e micro, visível e invisível.
Os tratados musicais, a partir dessas correspondências cosmológicas, sistematizam e estabelecem analogias entre a música e a medicina, os estados de alma, as reações corporais, as proporções matemáticas, os movimentos planetários, as cores, os perfumes, entre outros.
A prática de unir a música à harmonia do Universo, e assim promover a cura, é antiga e comum a vários povos. Em razão desse poder era usual a presença de músicos em hospitais.
A grande sistematização da música árabe, também em relação ao Ta’thir, veio com Al-Kindi (805-873), que elaborou a Risala fi ajza khabariyat al-musiogi “O tratado acerca das partes instrutivas da música”, com o intuito de ajudar os médicos-músicos a realizarem seu trabalho com mais eficácia.
Nesta obra, Al-Kindi relaciona as quatro cordas do alaúde a outros fenômenos, como as fases da lua, os quatro elementos, direção dos ventos, estações do ano, semanas do mês, períodos do dia, fases da vida, humores, faculdades da alma e propensões a determinadas ações externas. O conhecimento destas correspondências faz com que a música produzida segundo estes critérios atinja o corpo e o cérebro do paciente de forma a alterar seu estado.
Ta’thir tem o propósito de, por meio da música, desenvolver as pessoas do ponto de vista físico, mental, espiritual e social, produzindo não apenas seres humanos melhores, como cidadãos melhores.
Fonte: DIB, Marcia. Música Árabe: expressividade e sutileza São Paulo: Marcia Camasmie Dib, 2013.
Marcia Dib é bailarina, professora, coreógrafa e pesquisadora desde 1998. Estudou dança e música (oriental e ocidental) desde a adolescência. Dá aulas regulares de danças árabes e musicalidade, além de palestras e consultoria em cultura árabe em geral. Mestre em Cultura Árabe pela FFLCH/USP, autora do livro Música Árabe: expressividade e sutileza. Diretora do Mabruk! Companhia de Danças Folclóricas Árabes. Sendo descendente de sírios, procura pesquisar, divulgar e valorizar a cultura de seus ancestrais.
Colab: @dib.marcia