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O Oriente Médio em mudança: os grandes impactos
Na ausência de uma expressão mais precisa voltamo-nos para o conceito clássico de Pierre Renouvin de “forças profundas” para destacar as grandes tendências em movimento na região. Nós trataremos agora para os dados concretos da demografia social e religiosa, da situação geográfica, da riqueza disponível e, enfim (mas, de forma decisiva), a orientação da população nas relações vis-à-vis entre as nações ( os diversos sentimentos populares e suas representações ). No caso do Oriente Médio a última década, grosso modo, foi de importantíssimas mudanças. Para facilitar a caracterização de tais mudanças, e apenas para efeito didático, vamos fazê-lo em dois movimentos. De um lado os fatores exógenos que impactaram a região e, de outro, os fatores endógenos que moldam as tendências atuais de mudança e que, por sua vez, impactam as relações globais.
Entre os fatores externos que impactaram duramente as chamadas “forças profundas” na última década estão:
1. A quase total retirada da Rússia do jogo político regional do Oriente Médio (antes forte em países como Iraque, Síria, Yemen, Somália e com grande pressão sobre as bordas da Ásia central, como Irã e Afeganistão); no momento atual sua presença é circunscrita à Síria, um regime em plena crise e que a manutenção do apoio gera um imenso desgaste diplomático, em especial na ONU e frente à opinião pública mundial. O papel de Moscou no “Quarateto Diplomático” é residual, na medida em que o prórpio “Quarteto” está paralisado no seu papel de negociador do conflito Israel-Palestina.
2. A invasão norte-americana, e de seus aliados da OTAN, no Afeganistão em 2001, com um impacto de grandes proporções no Paquistão e no prórpio Irã, além de aumentar as desconfianças da Federação Russa e da China Popular acerca dos interesses americanos em obter uma posição permanente no coração da Ásia Central (uma retomada das teses geopolíticas de Halford Mackinder (1904) e de Nicolas Spykman (1942), originou, depois de 2001, um novo simulacro do “Grand Jeu”, do século XIX[1]. O resultado mais claro foi uma íntima aproximação entre China e Rússia, alterando radicalmente os dados estratégicos do final da Guerra Fria (conflito sino-soviético) e unindo as duas potências asiáticas (Pacto de Shangai [2]);
3. O fracasso das mediações do conflito Israel-Palestina considerado, por muito tempo, um produto da Guerra Fria (1945-1991), mostrou tratar-se, em verdade, de um conflito nacional, enraizado na emergência de um forte sentimento nacional palestino (que se forja largamente em relação direta com a ocupação israelense), diferenciado e autônomo em face dos países árabes (não mais como uma “arma” ou ferramenta manipulada no Cairo ou Damasco contra Israel), e frente ao qual as entidades internacionais tais como a ONU, bem como as iniciativas multilaterais e de mediação (como a Conferência de Madrid [3], os Acordos de Oslo [4], o “Quarteto” [5]e a permanente presença americana) não conseguiram avançar depois dos Acordos de Camp David de 1979;