Confira mais um verbete da série especial do ICArabe – uma iniciativa dedicada a ampliar o conhecimento sobre o mundo árabe com rigor e responsabilidade. O projeto reafirma o compromisso da instituição em oferecer informação de qualidade e combater estereótipos, fortalecendo a construção de uma sociedade mais consciente, plural e bem informada.
Confira a lista completa de verbetes aqui.
Cristianismo ortodoxo
Refere-se a tradições e instituições cristãs que não estão formalmente vinculadas ao catolicismo romano. O termo “ortodoxo” (do grego orthós = correto, dóxa = opinião) começou a ser usado após o Concílio de Calcedônia (451), convocado pelo imperador romano Marciano para resolver a controvérsia sobre a natureza de Cristo. O Concílio de Calcedônia rejeitou a doutrina monofisista que afirmava ter Jesus apenas uma natureza (divina), após a encarnação. Neste concílio ecumênico, definiu-se que Cristo possui duas naturezas — humana e divina — unidas em uma só pessoa. Esta posição tornou-se oficial no Império Romano e as comunidades que a seguiram passaram a ser conhecidas como calcedônias ou ortodoxas, em contraste com os grupos que rejeitaram essa definição. No Oriente, as igrejas calcedônias eram representadas, principalmente, pelas tradições greco-bizantinas.
O uso do termo “ortodoxo” foi consolidando-se ao longo dos séculos e tornou-se oficial com o Grande Cisma de 1054, quando houve a separação definitiva entre as igrejas calcedônias do Ocidente, que passaram a adotar a identidade de Igreja Católica, e as do Oriente, que passaram a se identificar formalmente como Igrejas Ortodoxas. Como consequência, esta Igreja passou a ser organizada administrativamente sem a participação de Roma, que antes do cisma fazia parte da antiga pentarquia — composta por Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém — com Constantinopla assumindo a posição de honra entre os patriarcados.
A expansão do cristianismo ortodoxo ocorreu, também, por meio do surgimento de patriarcados autônomos, como os da Bulgária (927), Geórgia (1008), Sérvia (1375), Rússia (1589) e Romênia (1925), além de diversas igrejas autocéfalas ou autônomas, como as da Grécia, Macedônia, Ucrânia, Japão e China, e das comunidades formadas nas Américas pela diáspora.
É importante ressaltar que o cristianismo ortodoxo não se limita à tradição bizantina. Outras confissões orientais também utilizam o termo, como a Igreja Ortodoxa Copta, a Igreja Ortodoxa Armênia e a Igreja Ortodoxa Siríaca. Essas denominações passaram a adotar formalmente o nome “ortodoxa” para se distinguir dos grupos chamados “uniatas”, que se uniram à Igreja Católica Romana, mantendo seus ritos próprios.
O cristianismo ortodoxo possui raízes profundas no mundo árabe, com importantes comunidades no Líbano, na Síria, Palestina, Jordânia e no Egito. A migração árabe para o Brasil trouxe esses fiéis, que fundaram igrejas e mantêm práticas ortodoxas em várias cidades brasileiras, preservando tradições litúrgicas e identitárias.
Mini bio
Rodrigo Ayupe Bueno da Cruz é doutor em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Pesquisador do Núcleo de Estudos do Oriente Médio (NEOM-UFF), leciona no Instituto de Educação Continuada da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Atua, também, como pesquisador no Memorial da Imigração Libanesa em Minas Gerais, promovido pela FULIBAN. É autor do livro Primos em Minas (Autografia, 2018) e de diversos artigos e capítulos de livros dedicados ao estudo do Oriente Médio e das diásporas árabes no Brasil.