26 anos de Cultura árabe em Campinas

Seg, 01/10/2007 - 21:00
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Semana passada, lembramos os 25 anos do massacre de Sabra e Chatila, em setembro de 1982, no Líbano. Esta semana, para não dizer que “não falei de flores”, quero lembrar aos leitores, 26 anos ininterruptos de divulgação da Cultura árabe na cidade de Campinas, através do Instituto Jerusalém.Semana passada, lembramos os 25 anos do massacre de Sabra e Chatila, em setembro de 1982, no Líbano. Esta semana, para não dizer que “não falei de flores”, quero lembrar aos leitores, 26 anos ininterruptos de divulgação da Cultura árabe na cidade de Campinas, através do Instituto Jerusalém. Ali El Khatib Não me lembro bem do momento exato em que conheci Ali na cidade de Campinas. Mas isso já deve fazer perto de 30 anos. Ali é dessas pessoas que cativam logo no primeiro contato. Alegre, bem falante – e fala com gestos e trejeitos faciais. É o que alguns costumam dizer e chamar carinhosamente de “lutadores sociais”. Mas a qual luta específica Ali tem se dedicado nessas três décadas que o conheço? A talvez a mais justa e correta luta que todos os povos do mundo deveriam se dedicar hoje: a do povo palestino na busca de sua paz, de sua terra usurpada, pelas liberdades, pelo seu estado nacional. Mas mais do que isso: Ali tem se dedicado a preservar a cultura de um povo, o povo árabe! Ali é administrador de empresas por formação e sociólogo por profissão. Atuou desde 1970 no SESC na área de atividades culturais, sendo essa a sua maior especialidade. É filho de libaneses. Tive a honra de conhecer o seu pai, Ahmed El-Khatib, quem lhe inspirou, desde pequeno, a disposição e a vontade da luta em defesa dos palestinos. Os contatos com Ali se iniciam quando ainda estudante, no Congresso da UNE de Piracicaba, em 1980. Lá o camarada e hoje deputado federal, Aldo Rebelo foi eleito presidente da UNE (era então secretário-geral da gestão de Ruy César, a primeira de reconstrução da entidade, no congresso de Salvador, BA em 1979). O escritório da OLP – Organização para a Libertação da Palestina no Brasil havia sido instalada fazia no máximo um ano e seu primeiro embaixador nomeado era o médio, Dr. Farid Suwan, meu amigo também de quase 30 anos, hoje embaixador na Argentina. Dr. Farid convoca Ali para o trabalho na embaixada desde 1981. O projeto era ambicioso: criar no Brasil um movimento de juventude palestina, que fortalecesse os elos dos filhos e netos de palestinos residentes no país, com a pátria de seus antepassados, pais e avós, que foram expulsos de lá a partir de 1948, quando da criação do Estado de Israel. Também nesse sentido, me aproximei muito de Ali. Fundamos em 1984, logo depois da realização do grande Congresso Latino-Americano e do Caribe, que reuniu palestinos e descendentes de todo o subcontinente, na cidade de São Paulo, quando conheci o lendário Faruk kadumi, uma espécie de número dois da OLP, organizamos a Federação SANAUD. Essa palavra, em árabe, quer dizer “Voltaremos”. Formávamos uma espécie de núcleo duro da juventude. Eu, o hoje engenheiro Emir Mourad de São Paulo e a enfermeira Fátima Ali, do RS. Tanto emir como Fátima, são valorosos militantes comunistas e da causa árabe-palestina. Emir, filho de libaneses e Fátima, filha de palestinos. Fátima será inclusive candidato a uma vaga na Câmara Municipal de Porto Alegre e tudo farei para que se eleja. Fátima foi a primeira presidente e eu e Emir éramos diretores. Ali foi o nosso grande mentor desse belo projeto. A partir de 1981, ali, já como uma espécie de adido cultura da embaixada, começa o seu périplo no país e no subcontinente, para a difusão da cultura área-palestina no Brasil e em SP, sua cidade de adoção. Foram inúmeras semanas culturais, shows, teatro, ballet nacional árabe e palestino, poesia, culinária. Diversos restaurantes árabes abriram em Campinas incentivados por Ali. Hoje as mostras que ele realiza, vão passar a integrar o calendário artístico e cultural da cidade, por iniciativa do combativo vereador comunista Sérgio Benassi, cuja lei foi sancionado pelo também combativo e competente prefeito Hélio Santos, cuja esposa, Roseli Nacim é descendente de árabes. Com Ali organizamos o grande ato público em repúdio ao massacre dos palestinos nos acampamentos de Sabra e Chatila, de que comentei semana passada lembrando os 25 anos. Ali sempre morou no Brasil. Mas, visitou pessoalmente vários países árabes em suas muitas viagens ao Oriente Médio que realizou, a primeira delas em 1981, quando conheceu pela primeira vez o saudoso líder da revolução palestina, Yasser Arafat, com quem esteve por diversas outras vezes. Ali esteve no Líbano, na Síria, na Jordânia, na Arábia Saudita e, claro, na Palestina. Hoje Ali, um pequeno empresário que incentiva o turismo internacional, especialmente para o Oriente Médio, segue nas atividades de difusão da cultura árabe. É fundador e atual superintendente do Instituto Jerusalém, uma ONG cujo objetivo é, entre outros, a defesa da cultura árabe milenar e particularmente apoiar a luta dos palestinos pela sua terra. Assim, quero dedicar esta coluna semanal a não só apoiar de público as realizações deste meu colega sociólogo, como convidar a todos os moradores da cidade de Campinas, minha cidade por adoção também, a participarem de todas as atividades culturais árabes e palestinas, que terão sua abertura oficial no próximo dia 11 de outubro, quinta-feira, no Centro de Convivência Cultural, com a presença do nosso prefeito e apoiador de todas as atividades. Como dizem os chineses, desejo “Vida longa ao camarada Ali”, em seu “Sendero Luminoso”, levando a cada dia que passa, para milhares e milhares de pessoas, uma pequenina parte desta que é das maiores culturas e patrimônio da humanidade, que é o legado que os povos árabes e o palestino deixam para toda a humanidade. Obrigado, camarada Ali pelo seu trabalho.