As eleições e o Líbano
No dia 9 de junho, os resultados oficiais da eleição libanesa foram divulgados, dando notícia da vitória da coligação 14 de Março. O 14 repetiu o desempenho de 2005 e tem hoje os mesmos 71 deputados na Câmara. A coligação de oposição, 8 de Março, liderada pelo partido Hizbollah e o ex-general cristão Michel Aoun, viu ir por água abaixo a chance de conseguir a maioria do Parlamento de 128 cadeiras. Ficou com as mesmas 57.
O processo eleitoral deste junho de 2009 foi o ápice de um processo difícil que trouxe ao país antigas tensões sob um novo Pacto Nacional que ainda procura sua formação. Apesar dos fatos impactantes e inacreditáveis que ocuparam o cenário dos últimos anos (nova guerra com Israel, retomada das relações diplomáticas com a Síria, formação do Tribunal sobre o assassinato de Rafic Hariri, paralisação das instituições durante meses e meses, controle militar de Beirute pelo Hizbollah, conferência de Doha, e a lista não para por aí...) e da nova lei eleitoral, que não mais a velha lei de 1960, os resultados de 2009 vão ser tristemente iguais aos de 2005. Triste, não porque fulano ganhou, porque cicrano perdeu. Triste porque - todo o processo sem fraude, o mundo pode desabar - os resultados não mudam. O que acontece no Líbano parece mais ser um censo étnico do que um exercício democrático. Desesperador.
Agora, teremos a indicação para o cargo de primeiro-ministro, obrigatoriamente um sunita, e a composição de um novo governo, dividido entre cristãos e muçulmanos. Parece que desta vez, Saad Hariri – o filho – vai querer assumir diretamente as responsabilidades no lugar de Fouad Seniora. A participação da oposição no governo é outro ponto a ser discutido. A indecisão sobre o assunto já levou a uma paralisação do país e pode levar ainda a um bis repetitat. A constituição de um grupo “centrista” ao redor da figura do atual presidente, Michel Suleiman, ou uma tomada de atitude dos “moderados” dos dois lados pode constituir uma saída e ajudar a atenuar a divisão entre o 8 e o 14.
Mas o jogo eleitoral (onde a oposição teve, em termos absolutos, ignorando-se as divisões distritais, quase cem mil votos a mais, mas menos deputados!) trouxe também boas novas: pela primeira vez, depois de 60 anos, as eleições aconteceram em um único dia (antes eram espalhadas por três domingos, o que sugeria a possibilidade de o governo de turno “reajustar” a eleição em função dos primeiros resultados). Outra boa: pela primeira vez, desde a independência provavelmente, a participação pulou dos tradicionais 45% para mais de 55% (e teria sido ainda maior se a votação de muitas das 26 circunscrições não tivesse ocorrido sem qualquer concorrência e, em alguns casos, de forma consensual). Terceira boa: os perdedores não demoraram a reconhecer a derrota e tiraram rapidamente seus partidários das ruas para evitar atritos e confrontos. Já os vencedores não exageraram nas comemorações. Tudo isso pelo menos nas ruas, pois na internet... Quarta e última: apesar de todos os tipos de intervenções e intimidações, os “padrinhos” internacionais de ambos os bandos se comprometeram a respeitar o resultado das urnas, fosse qual fosse. Antes do pleito. Depois, claro, não tem mais nenhum valor.