Os muros do medo
O aniversário de 20 anos da queda do Muro de Berlim, em novembro último, me fez lembrar outros muros históricos.
O aniversário de 20 anos da queda do Muro de Berlim em novembro último me fez lembrar outros muros históricos. Desde a antiguidade, muitos foram símbolo de proteção contra perigo externo, como a grande Muralha da China. Ao mesmo tempo, os muros criaram o ambiente e ajudaram no desenvolvimento de cidades antigas.
Com o tempo, os velhos muros desapareceram como forma de proteção, deixando no lugar os mapas modernos e suas divisões. As barreiras construídas na atualidade acompanham essa lógica e, diferentemente das antigas muralhas, são conhecidas por segregar, isolar e dividir mais do que proteger as cidades e seu povo. No mundo contemporâneo, os muros ganharam o apoio de equipamentos da alta tecnologia. São prisões ao ar livre que separam pessoas e as condenam a conviver isoladas umas das outras.
A chamada "cerca da separação" na Cisjordânia é um exemplo. Israel, sob a alegação de que sua construção visava impedir atentados suicidas, iniciou-a em 2002, na divisa com a cidade palestina de Qalqilia. São oito metros de altura em algumas partes e apenas uma abertura de seis metros para a passagem de pessoas e veículos, transformando a cidade em uma prisão. A construção foi condenada pela ONU (Organizações das Nações Unidas), e por artistas israelenses e palestinos chamados de “artistas sem barreiras”. Para protestar, eles fizeram grafites nos dois lados do mundo.
Em Bagdá, o exército americano construiu vários muros com cerca de 3,5 metros de altura cada, circundando áreas chamadas de “oásis de segurança”. O objetivo foi isolar algumas partes da cidade de bairros mais violentos, em uma divisão sectária. O plano foi aceito pelo governo, mas o povo iraquiano se posicionou contrário a ser dividido por muros de concreto e forçado a atravessar postos militares nas ruas. Alguns artistas iraquianos reagiram da mesma forma que os palestinos e israelenses. Na tentativa de cobrir a face agressiva dos muros que cortavam a capital iraquiana Bagdá, eles fizeram pinturas nos muros. Neste ano, o governo iraquiano decidiu retirar as barreiras, o que foi antecipado pela última explosão de um ataque terrorista e mostrou a impotência de qualquer muro a não ser para segregar a população. O atentado deixou 45 pessoas mortas e 295 feridas.
Os muros de hoje são os fantasmas do passado, mas de má fama, por dividirem as pessoas. São a prova da falha humana no mundo atual, que tem dificuldade de lidar com seu próprio medo de aceitar o outro. Os novos muros se parecem mais com labirintos e criam uma sensação de perplexidade e impotência em um mundo considerado mais civilizado e globalizado. No entanto, o homem ainda reage de forma primitiva quando não consegue lidar com o próprio medo do outro. Para se proteger, ele volta para o local que sente mais segurança: entre as paredes da sua antiga caverna