Reflexões de um semita considerado antissemita
Houaiss tem sua origem na mesma aldeia de meus antepassados diretos, do sul de Beirute, e somos semitas, não importando, muito pelo contrário, ser descendente de árabes cristãos.
Saladino, como é conhecido Salah ad-Din Yusuf ibn Ayyub (1137-1193) cujo nome era Yusuf (José) e Salah ad-Din era um epíteto que significa em árabe justiça da fé. Ele era kurdo sunita e se tornou, apoiado por suas vitórias militares e conquistas regionais, o primeiro sultão e fundador da dinastia ayyubida que dominou, durante os séculos XII e XIII, Egito, Síria, norte da Mesopotâmia, Hijaz (que é a região da costa leste do que é hoje a Arábia Saudita, margeando o Mar Vermelho), Iêmen, costa norte africana até as fronteiras do que hoje é a Tunísia, a maior parte do Reino de Jerusalém dos Cruzados francos e as terras além do rio Jordão. Saladino nos expulsou da região de Alepo, por sermos xiitas que ele detestava mais que aos Cruzados que combatia à frente dos exércitos que enfrentavam a tentativa europeia, liderada pela Igreja de Roma, para ampliar seus domínios e obter lucros econômicos, nada tendo a ver com a Religião.
O termo ‘antissemita’ foi agredido e se tornou qualificativo daquele que fala a verdade contra as barbaridades que vêm sendo cometidas pelo estado patife de Israel, seus apoiadores e os atos de ambos; ou aquele que inversamente defende a Palestina e os palestinos e seus direitos sobre as terras que, no mínimo, foram um dia parte do Império Árabe Islâmico, no século VII, ou mais recentemente parte do Sultanato Ayyubida. Por estas razões, sou e me orgulho de ser ‘antissemita’, mas continuo em minha convicção inabalável de que a terra da Palestina é dos palestinos e de que eles foram e estão sendo privados de seu direito sobre sua terra e de possuir um estado soberano com fronteiras definidas e defensáveis.
Sou ‘antissemita’, é claro, quando assisto à falta de vergonha do governo israelense repetindo a cada eleição legislativa, como se fosse novidade, uma troca de tiros diários por parte dos partidos da minúscula faixa de Ghazza contra os grileiros de com armamento pago pelo comparsa de sempre, o governo – e não o povo, dos Estados Unidos e os estados que este puxa como cães obedientes.
Seja eu ou não ‘antissemita’, o fato é que posso provar que minha família e muitas outras vivem continua e pacificamente há mais de 800 anos na terra síria (hoje Síria, Líbano, Palestina ocupada e Jordânia) e meus detratores nem que antepassados seus viveram ininterruptamente na mesma terra durante os últimos duzentos anos sequer podem provar. Se o direito à terra é adquirido pela conquista e tentativa de dizimar os seus habitantes valer, absurdo dos absurdos, os sionistas deveriam então reconhecer o direito à Palestina, não somente aos palestinos que eles expulsaram de lá à força, mas também aos muitos e muitos povos que a conquistaram. Seria mais ou menos o caso dos kurdos que deveriam reivindicar a posse da Palestina com base no domínio lá exercido pelo sultanato ayyubida. Que tal a Santa Sé reivindicar o território onde em seu nome se estabeleceu o Reino de Jerusalém, entre outros resultantes das Cruzadas.
As tentativas deles de me destratar com agressões verbais, chamando-me de ‘antissemita’ não irão apagar os crimes de Israel e não vão resolver os problemas que os aflige. Israel não precisa de inimigos, pois está se suicidando e sua derrota virá como resultado de suas ações criminosas. O resultado da auto derrota de Israel o tornará, tomando-se como verdade o que sacam contra mim, o maior ‘antissemita’ de todos os tempos.
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