Os Iraquianos e as promessas da Casa Branca
Algo que me chamou a atenção foi a declaração do presidente americano Barack Obama sobre a retirada das forças americanas do Iraque depois de sete anos de ocupação. Essa retirada porém não vai ser total, mas se trata de redução de 150 mil homens para 50 mil. O interessante é a forma como essas declarações são normalmente colocadas, como se fosse uma doação. Muita gente achava que, com a queda do ex-regime e as promessas americanas de democratizar o país, poderia haver esperança para um povo cansado das guerras e do desperdício da sua renda, já que o Iraque é um dos maiores produtores de petróleo do mundo.
Mas, o que o povo não esperava, era a continuação da mesma farsa de promessas, apenas com slogans novos. O ex-regime prometia glória e vitória aos iraquianos nas guerras, enquanto que as promessas do governo americano eram de democracia e de liberdade. Um olhar não especialista pode dizer hoje que o cidadão iraquiano não está preocupado com a glória e menos ainda com a democracia que chegou ao país em latas estadunidenses, contaminadas com diversos escândalos.
Essa ideia de democracia nasceu de uma inseminação artificial entre o governo norte-americano e a oposição iraquiana, que voltava para o país de origem depois de muitos anos em terras estrangeiras, de forma que não teria e não teve saúde para sobreviver à herança de uma nação com tantas feridas de ditadura, guerras, sanções econômicas, ocupações estrangeiras e conflitos internos.
Apesar disso, nesse teatro chamado Iraque a farsa continua e não pode parar. A declaração do presidente estadunidense veio apenas para cumprir sua promessa de campanha de encerrar as atividades militares no Iraque em agosto desse ano. Obama prometeu que, e a partir de agora, transformar as atividades militares no Iraque em compromisso “civil liderado pela diplomacia”. De acordo com ele, isso inclui apoiar e treinar as tropas iraquianas contra o terrorismo. As palavras de Obama são, sem dúvida, promissoras e cheias de esperança.
A situação atual do Iraque, mesmo nas imagens transmitidas pelas próprias agências de notícias americanas, não deixa espaço para otimismo. O país está mergulhando cada vez mais nas divisões e nos conflitos. Somente no mês de julho, 535 pessoas foram mortas tornando o mês com o maior número de vítimas desde 2008. A preocupação da Casa Branca é muito mais com a preservação da vida dos soldados do que com a soberania do Iraque, afinal o país é um ponto estratégico em uma região de muita tensão.
Os americanos estão deixando o país talvez militarmente, mas sua presença política está muito longe para se encerrar. O símbolo dessa dominação pode ser notado pela construção da maior embaixada americana do mundo na capital Bagdá. Essa colonização pré-moderna, se podemos chamá-la assim, não precisa mais ser militar, basta dominar politicamente e controlar a riqueza de um país, e quem sabe, até os próprios sonhos do seu povo.