Refutando a ideia de opressão e desrespeito às mulheres muçulmanas

Qui, 08/04/2010 - 16:42

Desde pequenas, as crianças ocidentais aprendem que o senhor do universo criou primeiramente o homem, “e formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”(Gênese: 2, 7), para depois, de uma costela sua, criar a mulher, “Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu: e tomou um das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; e da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher: e trouxe-a a Adão” (Gênese: 2, 21 e 22). Aprendem ainda que Eva foi quem cometeu o primeiro erro quando comeu o fruto proibido e induziu Adão (o homem) a comer também: “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu” (Gênese: 3, 6). A ideia de que a mulher foi a causadora desse “erro gravíssimo” é corroborada mais à frente com o seguinte trecho: “Então, disse o homem (Adão): A mulher (Eva) que me deste por esposa, ela me deu da árvore e eu comi”(Gênese 3, 12). Analisando bem essas passagens bíblicas, alguém pode perfeitamente indagar, porque a mulher foi à causadora dos problemas da humanidade e não o homem? Porque o homem não foi tentado, ao invés da mulher? Será que este fato levou a mulher a ser desprezada e satanizada ao longo dos séculos?

Talvez, esta seja uma forma sutil de colocar a mulher em um degrau inferior da criação humana. Ao logo dos séculos, a mulher foi sinal de mau agouro, tentação, pecado, permissividade, e houve ainda quem a associou ao demônio. Sua fragilidade, sua beleza e suas silhuetas eram para muitos uma armadilha perigosa que tinha o objetivo induzir o homem a praticar atos “pecaminosos”, como a luxúria e a imoralidade. Por isso, ser mulher era estar sempre aprisionada, pulando da teia de uma aranha para as presas de uma serpente. E foram algumas religiões que mais sustentaram e divulgaram essas ideias misóginas.

A condição da Mulher será analisada nesse trabalho na perspectiva islâmica, baseando-se no que diz o Alcorão. A ideia dessa pesquisa surgiu a partir da conversão de uma aluna curso de ciências sociais da Universidade Federal Rural de Pernambuco, que começou a usar roupas tipicamente islâmicas, causando inquietações e curiosidade dentro academia. Contrastando com o clima quente do nordeste - e até mesmo com a ideia defendida por Gilberto Freire, de que quanto mais quente o lugar, menos roupas deveriam ser usadas -, ela jamais deixou de usar o véu e roupas longas, por convicção e livre e espontânea vontade. Por que alguém, que outrora tinha um estilo de vida cristão-ocidental, não se incomodou em usar roupas islâmicas, e mais ainda, relevar os julgamentos pré-concebidos das demais pessoas? Tentaremos entender como isso acontece e como a mulher é vista e tratada no Islã.


1. A MULHER NAS VÁRIAS CIVILIZAÇÕES

Homens e mulheres, desde a aurora dos tempos, têm diferentes papéis, funções e responsabilidades de acordo com o ethos de cada civilização. Passeando por algumas destas, veremos qual era o local, o papel e a importância da mulher.

Entre os gregos, a mulher era totalmente desprovida de qualquer direito, inclusive o de administrar seus próprios bens, pois isso ficava a cargo do marido, que também tinha o direito de vendê-la se assim desejasse. Alguns homens chegavam a ter medo das mulheres, acreditavam que elas eram obra do satanás.

Para os antigos indianos, era comum a mulher ser servida como oferenda. Isso acontecia com os adoradores das árvores, quando queriam agradar sua deusa, ofereciam uma moça. Nas diversas crenças existentes na Índia, todas têm em comum o desprezo e a humilhação das mulheres.

Entre os antigos romanos, os homens sempre esperavam que suas esposas tivessem um filho, quando ocorria de nascer uma filha, caso não fosse desejada pelo pai, poderia ser deixada em praça pública para morrer. Caso fosse criada, quando chegasse à mocidade, ficava obrigada a permanecer sob autoridade do chefe da família até se casar.

Para os antigos judeus, era comum a mulher sempre se casar com alguém da sua tribo. Caso ela se casasse com alguém de uma tribo diferente, não poderia levar sua herança, provavelmente para evitar o enriquecimento da outra tribo. Segundo a Torá, a mulher foi quem pecou primeiro ao comer o fruto proibido, “E vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela” (Gênese. 3: 6). E mais à frente mostra que Adão não teve culpa alguma, “Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi” (Gênese 3:12). Portanto, mais uma vez a mulher foi a causadora dos problemas da humanidade.

Para os primeiros cristãos, a figura da mulher também era associada ao pecado e ao satanás. Santo Teotônio chegou certa vez a dizer: “A mulher é uma porta através do qual o satanás penetra na alma do ser humano, é destruidora das leis de Deus e prejudicadora da imagem de Deus”. Assim como Teotônio, Santo Agostinho também reproduziu um discurso misógino ao dizer: “A mulher é um mal indispensável, um problema desejado e representa perigo contra a família e o lar. Ela é amada perigosa e uma calamidade camuflada.” (WAHDAN, s/d. p. 21 à 22)

No século V, durante o Concílio de Macon, discutiu-se se a mulher era um corpo provido ou desprovido de alma. E a conclusão à qual a Igreja chegou foi que a mulher não tem uma alma livre do inferno, com exceção de Maria, mãe de Jesus. (CUNHA, 1995)

Segundo Mustafá Assibá’i, em 586 d.C, em um congresso na França, chegou-se a cogitar a possibilidade de a mulher não ser humana, mas acabaram concluindo que ela foi criada apenas para servir ao homem. (1)

Outro evento curioso aconteceu na Rússia Czarista, por volta de 1790. Na época havia um ditado que dizia: “Assim como uma galinha não é um pássaro; a mulher não é um ser humano”. (ROSA. s/d)

Na Arábia pré-islâmica não era diferente das outras culturas. O desprezo, a humilhação e o desrespeito eram rotinas para a mulher. Muitas vezes, quando nascia uma menina, com medo de que ela fosse sequestrada por tribos inimigas ou que pudesse, no futuro, fazer algo que desonrasse a família, os pais a enterravam viva. No Iêmem e em Yatrib (atual Medina), era de costume a mulher fazer parte da herança, podendo inclusive, ser herdada por duas pessoas. E cabia a ambos o destino dela. Tanto podia casar-se com o filho do falecido como comprar sua liberdade, caso tivesse condições suficientes para isso. A mulher era tida literalmente como um objeto. Este sistema só acabou com a revelação do Islã, que passou a proibir o procedimento, como explica o Alcorão (Surata: 4.19): “Ó vós que credes! Não vos é lícito herdara às mulheres, contra a vontade delas. E não as impeçais de se casarem de novo (...)”



2. A MULHER E O ISLAMISMO:

A condição da mulher é hoje muito discutida em congressos e fóruns mundiais que têm a mulher como eixo central dos debates. O ocidente costuma dirigir muitas críticas ao Islã por tratar, na sua visão, a mulher com desrespeito e humilhação. Quem faz tais afirmativas desconhece por completo o islamismo. Poucas pessoas sabem, por exemplo, que o primeiro muçulmano, foi uma mulher, Khadija, esposa do Profeta Muhammad (chamado de Maomé nas línguas latinas). Ela foi a primeira pessoa a quem o Profeta falou da Revelação e foi quem o apoiou nos momentos mais difíceis, incentivando-o nas pregações ao povo. Portanto, Khadija foi a primeira pessoa a aceitar o Islã. (ABD’ALLAH. 1989).

O Alcorão, livro Sagrado do Islã, assegura uma série de direitos às mulheres, direitos que outrora inexistiam, em qualquer que fosse a sociedade ou religião. Inclusive, alguns direitos, apenas ela possui, refutando a ideia de que a mulher é desprovida de direitos que assegurem sua dignidade no islamismo. O livro ainda reserva uma Surata, mais precisamente a quarta, inteira só para a mulher, a chamada Suratu An-Nissá (A sura das mulheres). Para facilitar uma melhor compreensão, o texto será separado em três âmbitos: social, econômico e espiritual.

2.1 A mulher no contexto social:


A vida
O primeiro e fundamental direito de qualquer ser humano é o direito à vida, e o Alcorão assegura esse direito:

“...Quem mata uma pessoa, sem que esta haja matado outra ou semeado corrupção na terra, será como se matasse todos os homens. E quem lhe dá a vida será como se desse a vida a todos os homens...” (Surata 5:32)

A proteção e a reputação
Era costume de alguns homens, quando não queriam mais suas mulheres, caluniarem e difamarem sua honra, causando severas punições a elas. O Alcorão tem uma lei que proteje a mulher desses incidentes:

“E aos que acusam de adultério as castas mulheres, em seguida, não fazem vir quatro testemunhas, acoitai-os com oitenta açoites, e, jamais, lhes aceiteis testemunho algum; e esses são os perversos.” Surata (24:4)

O trabalho
Dentre os vários argumentos que os detratores do Islã usam está o de dizer que a mulher muçulmana não pode trabalhar. O Islã diz que o homem é quem tem obrigação de cuidar e prover uma família, mas isso não impede que a mulher trabalhe, desde que seu trabalho não a impeça de cuidar da família e da educação dos filhos. Isso porque ela é a fonte de alegria, de carinho e dos bons valores. O trabalho dignifica o ser humano, independendo do sexo, e o Islã é uma religião que incentiva o trabalho e a instrução. Na história do Islã houve grandes mulheres que trabalharam, como Khadija, primeira esposa do Profeta, era uma grande comerciante na Arábia. Zaynad, outra esposa do Profeta, era uma grande artesã, além da senhora Rafida al Asslamia, que dedicou a vida a cuidar dos doentes e feridos na Mesquita do Profeta. Contam que na época do califa Omar Ibn al Khattab, a fiscalizadora geral do mercado era Axiffá, uma sábia mulher. Portanto, dizer que a mulher no Islã é proibida de trabalhar é um embuste. (WAHDANI, s/d).

A educação
No mundo islâmico, a educação também é assegurada a todos, homens e mulheres, além de ser gratuita, como a saúde. Ambas são de boa qualidade. Esse hadice (2) deixa isso claro: “Buscar o conhecimento é um dever de todo muçulmano e muçulmana (3)”. Contam que Aisha era especialista em leis que tratavam de herança e sobre o que era lícito e Ilícito. Ela foi muito mencionada por diversos juristas por ter convivido bastante com o Profeta Muhammad. Chegaram até a dizer que ela era a mais eloquente dos árabes. (WAHDANI, s/d). A educação sempre foi prioridade no mundo islâmico. O Profeta costumava dizer: “Buscai o conhecimento até na china” e ainda “Procurem a sabedoria do berço até túmulo.”

O direito de falar e ser ouvida:
Durante séculos a mulher foi proibida de opinar sobre qualquer assunto, sua opinião era jamais consultada e sua voz jamais ouvida. E isso aconteceu até alguns poucos anos atrás. O Islã deu liberdade de expressão às mulheres, sobre qualquer assunto que desejassem opinar. O próprio Profeta consultava sua esposa Khadija sobre tudo e sempre seguia seus conselhos e ficava alegre ao ouvi-los.

O direito de escolher seu marido:
Apesar disto ter sido incomum em muitas culturas, inclusive na Arábia pré-islâmica, o Islã proibiu categoricamente que a mulher fosse forçada a casar-se sem o seu consentimento. Ninguém poderia forçá-la, fosse o pai, o irmão ou o tutor. Percebemos o zelo que o Profeta Muhammad tinha com as mulheres quando disse (4):

"Quanto mais cívico e amistoso for um Muçulmano para com a sua esposa mais perfeita é a sua fé." (Hadice compilado por Tirmidhi).

"Os crentes mais perfeitos são os melhores em conduta, e os melhores de entre vós são aqueles que são melhores para as suas esposas." (Ibn Hanbal).

"É o generoso (em caráter) aquele que é bom para as mulheres, e é fraco aquele que as insulta".

Para o Profeta, a mulher não é "um instrumento do demônio", mas, sim, uma "Muhsanah", ou seja, uma fortaleza contra satanás.

Isonomia na lei entre homens e mulheres:

A lei islâmica não faz distinção entre homens e mulheres, ao contrário do acreditam algumas pessoas. Veremos o que o Alcorão diz sobre o adultério, o roubo e o assassinato:

“À adúltera e ao adúltero (5), açoitai a cada um deles com cem açoites. E que não vos tome compaixão alguma por eles, no cumprimento do juízo de Allah, se credes em Allah e no Derradeiro Dia. E um grupo de crentes testemunhe o castigo de ambos”. (Surata: 24:2)

“E ao ladrão e à ladra, cortai-lhes a ambos, a mão, como castigo do que cometeram, e como exemplar tormento de Allah. E Allah é Todo-Poderoso, Sábio” (Surata: 5:38)

“Ó vós que credes! está-vos preceituado o talião para o homicídio: livre por livre, escravo por escravo, mulher por mulher. Mas, se o irmão do morto perdoar o assassino, devereis indenizá-lo espontânea e voluntariamente. Isso é uma mitigação e misericórdia de vosso Senhor. Mas quem vingar-se, depois disso, sofrerá um doloroso castigo”. (Surata: 2:178)

Depois destes versículos, fica claro que não existe privilégio para o homem, a lei é aplicada a quem a transgride, independentemente da condição social, da cor ou do gênero.


2.2 A mulher no contexto econômico:

Herança
Se a mulher era desprovida do direito, inclusive, de se expressar, nem se cogitava a possibilidade dela possuir algum bem. O direito de herança foi assegurado à mulher pelo Islã, pois era de costume deixá-las despossuídas, sempre dependendo de maridos, filhos ou irmãos.

''Aos filhos varões corresponde uma parte do que tenham deixado os seus pais e parentes. Às mulheres também correspondem uma parte do que tenham deixado os pais e parentes, quer seja exígua ou vasta, uma quantia obrigatória” (Surata: 4:7)

“Allah recomenda-vos, acerca da herança de vossos filhos: ao homem cota igual à de duas mulheres. Então se foram mulheres, duas ou acima de duas, terão dois terços do que deixa o falecido. E, se for uma, terá a metade.(...)” (Surata 4:11)


O Mahr (Dote)
É costume entre homens muçulmanos presentearem suas futuras esposas com o mahr, que equivaleria a uma espécie de dote. Na verdade, o mahr é um presente matrimonial, incluído no contrato nupcial e intransferível, pertencendo somente à esposa e não aos pais ou tutores como acontecia na Europa, na Índia e na Arábia pré-islâmica.

“E Concedei às mulheres, no casamento, seu mahr, como dádiva. E, se elas vos cedem, voluntariamente, algo destas, desfrutai-o, com deleite e proveito” (Surata: 4:4)

O Direito de Trabalhar:
Não existe nenhuma regra no Islã que proíba a mulher de trabalhar, sempre que houver necessidade. Na sociedade muçulmana a mulher tem um papel extremamente essencial, o de mãe e de educadora dos filhos. Ela é a fonte de exemplos e boas maneiras. O Islã ensina também a divisão do trabalho, para que trabalhos mais pesados, insalubres e fora de casa fiquem a cargo dos homens. É bom frisar que o trabalho da mulher não deve violar sua natureza pura e casta.

Se por longos anos, os teóricos religiosos sustentaram a ideia de que a mulher (Eva) trouxe o inferno para a terra, no Islã ela (a mulher) abriu as portas para se chegar ao paraíso. Segundo o Profeta Muhammad: "O Céu encontra-se sob os pés da tua mãe" (7).


2.3 A mulher no contexto espiritual


A Mulher, criação divina e possuidora de alma.
Nas tradições islâmicas, Maria, mãe de Jesus, é muito respeitada e citada várias vezes no Alcorão. Para os Muçulmanos, ela é um exemplo de mulher a ser seguida, sendo referência de idoneidade e pureza. Por suas qualidades foi escolhida por Deus para dar à luz Jesus, um dos mensageiros de Deus, “e lembra-lhes, Muhammad, de quando os anjos disseram: ‘Ó Maria! Por certo, Allah te escolheu e te purificou, e te escolheu sobre as mulheres dos mundos” (Surata: 3, 42). Outro fato interessante é a existência de uma Surata no Alcorão intitulada de Suratu Maryam (A Sura de Maria).

O Alcorão cita ainda uma série de mulheres exemplares que se sobressaíram em diversas atividades, tanto em atividades profanas como religiosas, como é o caso da mãe do Profeta Moisés e das duas esposas de Abraão. (WAHDAN, s/d)

A mulher não é culpada:
Algumas culturas e escrituras religiosas condenaram Eva a uma pena demasiadamente longa e degradante. O Alcorão nos mostra que, diferentemente da Bíblia, Deus fala com Adão e não com Eva: “E Satã sussurrou-lhe perfídias. Disse: ‘Ó Adão! Queres que te indique a árvore da eternidade e um reino, que jamais perecerá?” e mais adiante, “Então, dela ambos comeram...” (Surata 20: 120 e 121). Portanto, para o Islã, a culpa foi dos dois, que desobedeceram as ordens divinas, todavia se arrependeram, como mostra a Surata 7 versículo 23 “Disseram: ‘Senhor nosso! Fomos injustos com nós mesmos e, se não nos perdoares e não tiveres misericórdia de nós, estaremos, em verdade, dentre os perdedores”.

Assim sendo, para o Islã, Eva (a mulher) nunca foi culpada da queda do paraíso. A mulher não pode pagar por um erro que ela não cometeu, pelo menos, para os muçulmanos.

3. A INDUMENTÁRIA ISLÂMICA NOS DIAS ATUAIS:

As roupas costumam conter vários significados para diferentes povos. Em qualquer cidade ou país, a roupa representará grupos ou categorias. Ela fala bastante sobre nós, sobre como pensamos, nossos conceitos e até nossas posturas políticas. É comum as pessoas começarem a adotar um determinado tipo de roupa inspirado em seus ídolos ou líderes. Mohandas Gandhi, o grande líder do povo indiano, ao começar a usar a túnica branca, produzida manualmente por ele para boicotar as roupas inglesas, tanto inspirou as pessoas a fazerem o mesmo, como também fez com que elas adotassem uma postura política contrária ao domínio ocidental inglês. Também na Índia, o líder dos muçulmanos, M. A. Jinnah, fez o mesmo, ao deixar de lado os trajes ocidentais e usar roupas islâmicas, que representavam sua cultura, sua religião e sua postura diante do domínio inglês.

Durante alguns séculos, o véu foi sinônimo de sensualidade, de erotismo e de charme, pois remetia a ideia dos haréns do oriente, tão famosos nas Mil e Uma Noites. E esta imagem do oriente foi até bem pouco tempo cultuada. Hoje, quando as pessoas vêem uma mulher de véu, inevitavelmente associam à “opressão” sofrida pela mulher muçulmana (8).

A imagem de mulheres usando longos vestidos pretos e de rostos cobertos, sem poder andar sozinhas pela rua, sem voz e sem direitos, representa, hoje, a prática do Islã para o ocidente. A burca tornou-se até um símbolo da repressão, da submissão e do “atraso”. O que acontece com a mulher no Afeganistão, como também em algumas regiões do Paquistão, sobre a forma de se vestir, não tem embasamento islâmico, se considerarmos que o Alcorão não manda a mulher cobrir o rosto.

As vestimentas femininas são explicadas na Surata 24, versículos 31, onde é recomendada que a mulher deva cobrir o pescoço, o colo, os braços e os tornozelos.

O uso do hijab (véu), e de outros trajes islâmicos, são muitas vezes uma vontade da mulher afirmar sua identidade cultural, de se reconhecer como muçulmana, e de seguir os preceitos de sua religião. Não são raros, mulheres que fazem questão de usar o véu por iniciativa própria.

Os exegetas muçulmanos defendem que o hijab, como as outras roupas femininas islâmicas, valoriza as qualidades intelectuais e morais das mulheres, evitando que os homens as olhem apenas com interesses carnais. Numa sociedade hedonista como a nossa, onde o corpo é mais cultuado do que o espírito, onde os valores morais quase que inexistem, onde, a priori, observam-se as mulheres como objeto de consumo, não é de se achar incomum pessoas construindo discursos islamofóbicos em defesa das mulheres, mas que, na verdade, as próprias muçulmanas rejeitam esta pseudo-defesa.

O uso da indumentária islâmica, assim como qualquer outro tipo de roupa que a mulher deseje usar, cabe apenas a ela decidir, independentemente de ser uma roupa que remeta a uma religião, ninguém tem o direito de criticar. Pois, em países onde mulheres são vendidas como prostitutas, precisam trabalhar seminuas em alguns empregos ou se prostituem apenas para acumular capital, não pode ditar normas de conduta moral ou de moda para sociedade nenhuma.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Pesquisar sobre a mulher é uma difícil tarefa, mais ainda, quando ela está inserida dentro de um contexto religioso. E quando partimos para analisar uma religião ou alguém ligado a ela, devemos sempre contextualizar a situação, pensar e nos pôr no lugar do outro, para tentar entender as formas de comportamento, de hábito e costumes.

As pessoas que acreditam que exista uma imposição, uma intolerância e um desrespeito do Islã para com as mulheres muçulmanas, pouco conhece desta religião. Acreditar também que existe uma aceitação total, por parte das mulheres, da indumentária islâmica, é ingenuidade, pois ninguém nunca está satisfeito por completo, seja com a roupa, com o corpo ou com a sociedade. O que não podemos é fazer generalizações, tirar conclusões precipitadas pelo que comumente vemos na televisão e nos jornais, principalmente os ocidentais que, muitas vezes, têm interesses embutidos em suas reportagens.

Se as mulheres muçulmanas estão insatisfeitas com algo, se é que estão, depois do que lemos nesse trabalho, cabe a elas buscarem as soluções. E mais, estas soluções devem ser encontradas no bojo de sua cultura, não podem e nem devem ser importada de outras culturas.

Entender o outro não é fácil, e talvez nem agradável, mas é preciso conhecer o “exótico”, conhecendo o outro estaremos também nos conhecendo. O conhecimento liberta, é esclarecedor, só ele tira o homem das trevas da ignorância. Portanto, deve ser buscado até na China, como sabiamente falava o Profeta do Islã.


NOTAS

1) Mustafá Assibá’i. “Al Mar-á Bain Al Fiquih wal Kanum” (A Mulher Entre A Jurisprudência E O Código) Pág 20, Al Mactab Al Isslami. Beirute – Líbano.

2) O termo significa os ditos, a ações e exemplos do Profeta Muhammad.

3) Hadice compilado por Ibn Mája.

4) http://www.islam.org.br/a_mulher_no_islam.htm

5) Trata-se do adultério cometido entre pessoas não comprometidas pelo casamento, já que, o adultério cometido após este, é punido com apedrejamento.

6) O Islã concede ao homem, na herança, o dobro que à mulher partindo do pressuposto de que o homem é quem tem quer arcar com as despesas da casa, da família e dos filhos, além do mais a mulher, quando casa, recebe o mahr, (um dote), então no fim das contas, ela acaba ganhando mais que o homem.

7) http://www.islam.org.br

8) http://www.bocc.ubi.pt - (Modernidade e Indumentária: As Mulheres Muçulmanas). Maria Johanna Schouten. Universidade da Beira Interior.

9)Termo relativamente novo que designa ódio ao muçulmano e aversão e ao islamismo



REFEÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS:

ABD’ALLAH, Ali. Islam: A Síntese do Monoteísmo. Ed Recife. Centro Cultural Islâmico. 1989.
ALCORÃO – Tradução do Sentido do Nobre Alcorão para a Língua Portuguesa. Complexo de Impressão do Rei Fahd. Medina. Arábia Saudita. 1430/2009
ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada: Traduzida em Português, Revista e Atualizada no Brasil. 2ª Ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
ARMSTRONG, Karen – A Biografia do Profeta Maomé. SP: Cia das letras, 2001.
___________________ - Uma História de Deus. SP: Cia das letras, 2001.
___________________ - O Islã. Rio de Janeiro. Objetiva, 2001.
ASSIBÁ’I, Mustafá. “Al Mar-a Bain Al fiquih wal Kanum” (A Mulher Entre a Jurisprudência e o Código). Al Mactab al Isslami – Beirute – Damasco. s/d. s/e
BASTOS, José Gabriel Pereira e Susana Pereira Bastos. Portugal Multicultural: Situações e Estratégias Identitárias das Minorias Étnicas. Lisboa. Fim de Século. 1999.
CUNHA, Elaine Romero(org.), Corpo, Mulher e Sociedade, Editora Papirus, Campinas, 1995.
EL HAYEK, Samir. Compreenda o Islã e os Muçulmanos. Centro de Divulgação do Islam para América Latina. 2002.
HADDAD, Jamil Almansur. O que é Islamismo. São Paulo: Brasiliense, 2000.
QUTUB, Mohammad. Islam – Uma Religião Mal Compreendida. Trad: Prof. Samir El Hayek. Centro de Divulgação do Islam para América Latina. São Paulo. 1990
ROSA, Ubiratan (org), Enciclopédia do Conhecimento Sexual, Editorial Amadio, São Paulo, s.d.
SAID, Sheikh Mabrouk El Sawy. Os Pilares da Fé na religião Islâmica. Recife. 3º edição. 2009.
SILVA, Maria Cardeira da. Um Islã Prático: O quotidiano feminino em meio popular muçulmano. Oieras: Celta. 1999
WAHDAN, Cheikh Hussein. A Mulher Entre as Civilizações. Tradução: Prof. Samir El Hayek. s/d. s/e.


SITES VISITADOS:

ACADEMIA ISLÂMICA – http://www.academiaislamica.org.br. -Acesso: 18/11/2009
BRASIL DAS ARÁBIAS - http://www.brasildasarabias.com.br - Acesso: 18/11/2009
COMUNIDADE MUÇULMANA DE FOZ DO IGUAÇÚ - http://www.islam.org.br - Acesso: 18/11/2009
HISTÓRIA ISLÂMICA - http://www.historiaislamica.org – 22/11/2009
INSTITUTO DA CULTURA ÁRABE - http://www.icarabe.org – 22/11/2009
SOCIEDADE BENEFICENTE MUÇULMANA DO RIO DE JANEIRO – http://www.smbrj.com.br – 22/11/2009