19ª Mostra Mundo Árabe de Cinema abre em São Paulo com o filme “O Professor” e sala lotada

Dom, 01/09/2024 - 22:32
Publicado em:

 

Uma noite de emoção e celebração do cinema árabe. O CineSesc, em São Paulo, lotou, na última quinta-feira, para a abertura da 19ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, trazendo a diversidade dos países árabes para cenário cultural brasileiro.

Com 11 filmes inéditos e curadoria de Arthur Jafet, a Mostra é uma realização do Instituto da Cultura Árabe (ICArabe) e do Sesc São Paulo – Serviço Social do Comércio, com patrocínio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Casa Árabe e do Instituto do Sono.

Produção conjunta da Palestina, do Catar e do Reino Unido, “O Professor”, filme da abertura, que terá mais uma exibição na Mostra no dia 4 de setembro (veja aqui a programação completa https://mundoarabe2024.icarabe.org/ ), conta a história do professor palestino Basem, que enfrenta a devastação pessoal após um trágico incidente envolvendo seu filho. Sua vida toma um rumo inesperado quando ele estabelece uma conexão profunda com Adam, um de seus alunos, ao mesmo tempo que desenvolve um vínculo com a assistente social britânica Lisa. Simultaneamente, um importante advogado americano e a sua esposa procuram o regresso do seu filho, um soldado israelense mantido em cativeiro por um grupo de resistência. A exigência do grupo por uma troca de prisioneiros cria tensões com as autoridades, intensificando a busca pelo soldado e levando a vizinhança de Basem e Adam à turbulência. A diretora indicada ao Oscar, Farah Nabulsi, entrelaça essas histórias díspares, mas interconectadas, em um drama emocionante marcado poe reviravoltas inesperadas e ancorado pela atuação poderosa de Saleh Bakri (assista aqui ao

trailer: https://youtu.be/obNeQELnLWY?si=k81jRYmJtGmGMyfd ).

2

3

 

Celebração do cinema árabe

A abertura contou com participação de representantes do ICArabe, do Sesc, e da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, além do diretor português Carlos Gomes, que estreia mundialmente seu filme “O Poeta Rei” nesta edição.

todos

 

Simone Yunes, coordenadora de programação do CineSesc, saudou o sucesso da Mostra nesses 19 anos. “Estamos aqui desde a 1ª edição. É sempre uma alegria recebê-los”.

Natalia Nahas Calfat, secretária geral do ICArabe, ressaltou duas comemorações importantes nesta edição: “A gente celebra uma data muito importante hoje: os 20 anos do Instituto da Cultura Árabe. E também estamos celebrando o Centenário de Aziz Ab´Saber, que é o nosso presidente de honra e é o grande patrono do ICArabe. Acho que nada mais faz parte do espírito do próprio Instituto, é a própria existência, o próprio diálogo cultural, é a própria produção cultural.  É ter filmes, obras e produtos artísticos que nada mais fazem do que dialogar, nada mais do que mostrar a existência, mostrar que os seres humanos são justamente isso, humanos. Eles não são limitados por determinada cultura, não são determinados em nenhuma religião específica”. Eu queria mais uma vez, como já feito pelos nossos colegas, agradecer os nossos parceiros porque, sem eles, a gente não consegue montar essa Mostra. Não consegue oferecer essa Mostra que é tão bem aceita pelos paulistanos, que é tão bem aceita aqui na nossa comunidade, não só árabe, mas para todos os outros. Então, obrigada à Casa Árabe, à Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, ao Instituto do Sono, ao Sesc e ao CineSesc”.

O diretor Carlos Gomes lembrou que participou da Mostra em 2017, realizando um concerto na Sala São Paulo em homenagem a Al-Mu’tamid, o Poeta Rei. “O ICArabe nos recebeu muito bem. Foi um momento emocionante e inesperado com relação à Mostra. É um prazer estar aqui de novo com a sala cheia. Muito obrigado ao ICArabe, a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, que também foi apoiadora desse projeto. Muito obrigado à Mostra por trazer o filme. Obrigado a todos”.

Silvia Antibas, vice-presidente de Marketing da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, representou o presidente Osmar Chohfi e ressaltou a importância da parceria para a realiação da Mostra. “Somos parceiros desde o início da Mostra Mundo Árabe de Cinema. Embora seja uma Câmara de Comércio, a gente entende a importância de ter também um lado cultural e promover a cultura árabe de maneira que as pessoas possam entender e respeitar o outro, principalmente, em tempos difíceis como a gente vive hoje”.

 

Curadoria: sintonia com a atualidade do mundo árabe

O curador da Mostra, Arthur Jafet, ressaltou a atualidade dos temas. A mostra tem um ponto em comum que parece um início aos filmes, são todos realizados por uma juventude que pretende libertar-se dos clichês políticos e sociais que o cinema internacional costuma confinar em cima do mundo árabe. Trata-se de uma verdadeira mostra de força realizada por uma nova geração ávida por colocar o mundo árabe no macro do cinema. Longe de qualquer estigma, essa geração pretende descontruir os clichês e alargar os limites dos debates”, ressaltou. Leia abaixo a íntegra do discurso de Arthur: 

"A 19ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, para além de qualquer referência  identitária, tem um ponto em comum que parece unir os seus filmes: são realizados por uma juventude que pretende libertar-se dos clichés políticos e sociais em que o cinema internacional costuma confinar a cinematografia do mundo árabe. Trata-se de uma verdadeira amostra de força, realizada por uma nova geração, ávida por colocar o mundo árabe no mapa do cinema. Longe de qualquer estigma, esta geração pretende desconstruir melhor os clichés e alargar ainda mais os limites do debate.

O filme Lyd, produzido por Roger Waters, e escrito por um palestino de Lyd (hoje, Lod), e uma judia- americana, propõe um debate urgente para este momento, aprofundando-se na história da Nakba de 1948, segundo a perspectiva dos palestinos que a sobreviveram.

Quanto a “O Professor”, embora  filmado há certo tempo, inteiramente em território palestino ocupado por Israel, adquire uma urgência e ressonância pulsantes à luz da guerra em andamento em Gaza.  Não é à toa que a produção que estreou em setembro no Festival Internacional de Cinema de Toronto deu o prêmio do júri para a diretora Farah Nabulsi e o troféu de melhor ator para Saleh Bakri no recente Festival Internacional de Cinema do Mar Vermelho em Jeddah.

O egípcio, A Leste do Meio-Dia -  uma suntuosa obra cinematográfica,  captura a angústia juvenil sob um regime autocrático. O surrealismo lindamente montado da imagem é suficiente para transformar esta história de revolta juvenil em uma sátira fervorosa e evocativa, capaz de lidar com assuntos tabu.

Derivado de uma citação do documentário “Whispers”, de Maroun Bagdadi, que narrou a decadência do Líbano dos anos 1980 durante a Guerra Civil Libanesa, “À Beira do Vulcão”,  se refere à necessidade de encontrar simplicidade e normalidade mesmo em tempos precários. Esses tempos precários retornaram em 4 de agosto de 2020, quando uma explosão de materiais inflamáveis armazenados precariamente em uma doca de Beirute levou à destruição generalizada.

Estrelando a libanesa, Nadine Labaki, e a francesa, Fanny Ardant, mãe e filha se reencontram em um filme encantador e instigante, passando por bairros pitorescos de Cairo e Alexandria, para discutir sobre nostalgia, terra natal e confronto com traumas passados.

Em “A Mãe de Todas as Mentiras”, da marroquina Asmae El Moudir, que brilhou na categoria (Um Certo Olhar), em Cannes, vencendo o prémio de melhor realização e o “O Olho de Ouro” de melhor documentário, Asmae El Moudir torna-se assim a primeira mulher marroquina a ganhar este prémio e a segunda mulher árabe a ganhar esta distinção.

A coprodução suíço-iraquiana, “Imortais” é uma visão das esperanças e dos sonhos desfeitos de uma nova geração que não conheceu nada além da guerra desde a ocupação liderada pelos EUA.

O jordaniano, Inch’Allah Um Menino pretende ser o apelo de uma mãe viúva contra a opressão patriarcal numa sociedade onde a herança vai por direito aos homens da família.

“Um Fardo” é o primeiro filme iemenita a ser exibido no Festival de Berlim nos seus 73 anos de história. O tema deste filme é uma questão polêmica em todo o mundo: aborto. As razões pelas quais o casal precisa desesperadamente não ter outro filho são incrivelmente específicas e completamente universais; e a empatia pela situação deles é impressionante. O filme será objeto de debate domingo.

Dando sequência ao concerto ocorrido em parceria com o ICArabe e a Sala São Paulo em 2018, o filme "O Poeta Rei" sobre a vida de Al-Mu'tamid, que representou o diálogo entre os povos da Península Ibérica e a influência que exerceram os mouros sobre eles, ganhou o apoio do Instituto de Cinema e Audiovisual Português, permitindo que celebremos a vinda do diretor, Carlos Gomes, aqui presente, brindando-nos com a sua saudação.

Agradeço ao ICArabe e sua equipe, à Câmara de Comércio Árabe-Brasileira,  ao Sesc e ao Instituto do Sono por proporcionarem mais esta bela edição de filmes que estreia em São Paulo, e desejo a todos uma ótima sessão". 

 

--------------------------------

A Mostra fica em cartaz até 4 de setembro, no CineSesc.

Saiba mais aqui https://www.icarabe.org/cinema/19a-mostra-mundo-arabe-de-cinema-com-11-filmes-ineditos-e-estreia-internacional-edicao-2024

E confira a programação no site https://mundoarabe2024.icarabe.org/

 

Serviço:

19ª Mostra Mundo Árabe de Cinema

Onde: CineSesc – Rua Augusta, 2075, Cerqueira César - São Paulo | telefone: (11) 3087-0500 | sescsp.org.br/cinesesc

Abertura: 29 de agosto (quinta-feira), às 20h, com o filme “O Professor” (em sessão gratuita; os ingressos podem ser retirados a partir das 18h30 na bilheteria).

Em cartaz: de 29 de agosto a 4 de setembro

Programação: https://mundoarabe2024.icarabe.org/

Ingressos

Segunda a domingo R$ 24 (inteira); R$ 12 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor de escola pública com comprovante); R$ 8 (trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo, com credencial plena do Sesc e seus dependentes).

Formas de pagamento: dinheiro, cartões de crédito e débito.

Acessibilidade para cadeirantes e obesos.

Capacidade: 279 lugares

Programação completa no site www.mundoarabe2024.icarabe.org

Realização: Instituto da Cultura Árabe

Correalização: Sesc São Paulo

Patrocínio: Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Casa Árabe e Instituto do Sono

Apoio: Unifesp|Cátedra Edward Said de Estudos da Contemporaneidade|Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Unifesp, CineFértil  e Editora Tabla