ICArabe promove encontro em solidariedade à Palestina
Mediado pelo jornalista Arturo Hartmann, o debate reuniu acadêmicos como Saad Chedid, diretor da Cátedra de Estudos Palestinos da Universidade de Buenos Aires e Editor da Revista Holy Land Studies, da Universidade de Edimburgo, e José Arbex Jr., diretor de Imprensa do ICArabe, João Brant, assessor de gabinete da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, e Luiz Armando Bagolin, diretor da Biblioteca Msrio de Andrade.
Entre leituras de trechos das obras de Said e poesias, os convidados ressaltaram ao público presente a urgência de conscientizar a sociedade e mobilizar a opinião pública contra os ataques de Israel aos palestinos, que já mataram quase 900 palestinos.
Ao dar as boas-vindas ao público, Luiz Armando reafirmou o papel da Biblioteca como espaço público aberto a debates de interesse tanto das sociedades paulistana e brasileira quanto da internacional. “As bibliotecas são as casas da palavra e esta é fundamental para o diálogo. A palavra continua sendo, por excelência, um instrumento do diálogo, e é só a partir do diálogo que os conflitos podem ser resolvidos sem agressão, sem feridos, sem mortos, principalmente crianças e mulheres. É inadmissível que o diálogo seja suprimido em pleno século 21.”
João Brant, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, pontuou que o Brasil não pode ficar passivo diante do massacre que acontece na Faixa de Gaza e que é preciso que a população brasileira saiba o que está acontecendo. “Precisamos fazer com que o Brasil se posicione, mas também que a população tenha acesso às informações para um debate mais plural do que esse que se faz hoje pelos meios de comunicação”. O governo brasileiro condenou, na quinta, 24, os ataques de Israel à Palestina e teve como resposta daquele país que é “Irrelevante” nesta questão.
Brant destacou ações em São Paulo para ampliação do diálogo com a cultura árabe. “Estamos fazendo algumas ações e planejando atividades de apoio à Mostra de Cinema Palestino”. Além disso, informou, estão acontecendo diálogos para viabilizar a exibição de filmes da cultura árabe nos CEUs e ampliar a discussão sobre a mesma e a questão palestina na cidade.
O diretor de Imprensa do ICArabe, José Arbex Jr., chamou atenção para o comportamento da mídia e sua parcialidade frente ao conflito. “Na verdade, há um bloqueio das informações. A opinião pública não fica sabendo o que de fato acontece na Palestina”, afirmou, acrescentando, por exemplo, que há poucos dias dois mil americanos foram incorporados ao exercito israelense, acontecimento que a imprensa não noticiou.
Segundo Arbex, o ato desta quinta não representou apenas a solidariedade. “Vai muito além. Se fizermos uma reflexão sobre o Brasil, que vive situações similares a de uma guerra, com cerca de 200 mortes diárias, em grande parte, de negros e pobres, veremos que discutir a repressão aos palestinos e as práticas de terror que estão sendo utilizadas tem refração direta para nós, porque são as mesmas técnicas que se aplicam nas favelas do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, na contenção do que eles chamam de ‘insurreição urbana’. Logo, discutir a Palestina é também discutir o Brasil.”
O jornalista lembrou ao público o discurso condicionante da forma de ver o mundo que acompanha a historia do Brasil e a nossa formação intelectual. “É a narrativa daquilo que Edward Said qualifica como orientalismo, uma forma de narrar o mundo, a história que nos torna insensíveis, cegos, incapazes de perceber o que esta à frente. É por isso que não percebemos o massacre que está sendo perpetrado aqui. Estamos cegos para isso, assim como o mundo está cego para aquilo que está acontecendo na Palestina.”
Saad Chedid enfatizou, entre outros aspectos, uma grande virtude de Edward Said. “Ele foi um intelectual militante e eu seus pensamentos se converteram em um pensamento do povo. Suas ideias devem ser difundidas pelo mundo.”
O estudioso informou que na Argentina estão sendo criadas Cátedras de Estudos Palestinos em distintas universidades como forma de preservar a historia e a geografia da Palestina. “Os universitários devem ser mensageiros do pensamento de Edward Said. Esta é a única maneira de ajudar o povo palestino. Só o povo pode salvar o povo.”
O diretor de Cultura do ICArabe, Geraldo Adriano Godoy de Campos, falou ao público sobre o encontro, que integra as comemorações de 10 anos do ICArabe, e ressaltou a importância de Edward Said e Aziz Ab´Saber para o Instituto. “O humanismo de Edward Said e do Prof. Aziz reflete-se em nossas atividades, na Mostra de Cinema, nos cursos, nas exposições e saraus. O ICArabe trabalha pela cultura árabe. E defender a Palestina é também defender esta cultura. Não podemos permitir que um povo e sua cultura desapareçam.”
No encerramento do encontro, Luiz Armando Bagolin anunciou, sob aplausos, um gesto de solidariedade: a fachada da Biblioteca Mario de Andrade ganhará novas cores: as cores da Palestina.