Livro conta a história da TV Amazonas, fundada por descendentes de imigrantes árabes
Assim como em outras regiões brasileiras, a história dos imigrantes árabes na Amazônia é rica em episódios vitoriosos. E a fundação da rede de rádio e TV Amazonas, por Phelippe Daou, em 1972, é um dos símbolos dessa trajetória, contada em “Rede Amazônica: 40 anos de comunicação na Amazônia”, do jornalista e historiador amazonense Abrahim Baze, membro do ICArabe.Descrevendo o período vivido no Brasil a partir de 1860, quando imigrantes de várias partes do mundo, como portugueses, alemães, italianos, árabes e judeus, chegaram ao país, atraídos pela a borracha, o “ouro negro” brasileiro, Baze vai descortinando o cenário que seria palco, décadas mais tarde, da fundação da primeira emissora a transmitir em cores no país, segundo o autor. Na ocasião, Phelippe Daou, associado ao jornalista Miltom Cordeiro, ao primo Robert Fhelippe Daun e ao publicitário Joaquim Margarido, persistiu na concretização do projeto, embora o grupo não dispusesse de recursos financeiros. “Na época eles eram pobres. Mas fizeram no banco um empréstimo de 350 mil dólares e construíram a maior rede de TV do Norte e Nordeste do país, que hoje está em cinco estados: Rondônia, Roraima, Amapá, Acre e Amazonas”, ressalta o jornalista, que também escreveu sobre o grupo televisivo em seu trigésimo aniversário.
Baze conta em seu livro histórias de imigrantes árabes que fincaram raízes em Manaus, no Amazonas, constituíram família, trabalharam, impulsionaram a economia do Estado, conseguiram seu espaço e ajudaram a construir a região. Foi o que aconteceu com a família Daou. “O orgulho árabe é fundamental para não perdermos nossa identidade. Existem muitas famílias cujos descendentes obtiveram sucesso em suas profissões, alguns prosseguiram na medicina, outros na economia, no comércio. Com sua emissora, Phelippe Daou mantém viva essa história do sangue árabe”, afirma o autor, que tem se dedicado a documentar a economia amazonense, que esteve, por 200 anos, sob o controle de portugueses, árabes e judeus. “Eles se aventuravam na floresta, criando espaços, construindo cidades. Como historiador, tenho procurado reconstruir essa memória. Não só do Amazonas, mas também do Belém do Pará e do Acre”, destaca.
Segundo Baze, a imigração árabe na região, principalmente de jovens palestinos, que vêm em busca de trabalho e de paz, continua intensa. “Eles vêm trabalhar, sobreviver com dignidade e respeito e entrar em contato com outras etnias neste país que sempre os recebeu de braços abertos. Os árabes muçulmanos agora também podem cultivar sua religiosidade, pois há uma mesquita em Manaus”, revela.
Para o escritor, a união da comunidade árabe é fundamental para o fortalecimento e a preservação da cultura. E o ICArabe, segundo ele, tem sido referência ao cumprir este papel. “Participar de um projeto, de uma instituição que mantém viva a história, as raízes árabes, para nós, é muito importante, porque permite a ligação do Norte do país com São Paulo. Temos que criar vínculos, laços de amizade, para podermos partilhar informações. E que essa ligação seja profícua e duradoura, e que não percamos nossa identidade de brasileiros-árabes. Estamos juntos nesta finalidade de preservar nossa memória.”
Preservação da Amazônia
Além da origem árabe, Abrahim Baze orgulha-se do esforço que o Amazonas empreende para preservar 98% da floresta, que possuir o segundo parque industrial do país sem chaminé, graças a investimentos em novas tecnologias. O Estado tem ainda o maior número de etnia indígena do Brasil. “Hoje os indígenas estão quase todos aculturados. Convivem com a modernidade, dividindo espaço com o homem branco. Por isso temos que preservar o que resta de nossa identidade inicial. Precisamos respeitar a presença indígena e, ao mesmo tempo, preservá-la.”, conta Baze.
Parte desse esforço foi a criação, pela Rede Amazônica, do AmazonSat, um canal via satélite especializado em temas da Amazônia que abrange, além do Brasil, mais de 150 países. “É o único canal temático do mundo. São 120 programas falando da Amazônia 24 horas por dia”, enfatiza. O jornalista apresenta dois programas no canal: “Literatura em Foco”, que apresenta a produção literária regional, e “Documentos da Amazônia”, que aborda o patrimônio histórico, cultural e social da região.
Sobre Abrahim Baze
Nasceu em 27 de agosto de 1949, em Manaus. É jornalista, historiador, escritor e diretor do Hospital Beneficência Portuguesa de Manaus. É membro do Instituto Geográfico Histórico do Amazonas, da Academia de Medicina do Amazonas, da Academia Amazonense de Letras e exerce a função de Adido Cultural do Consulado de Portugal em Manaus. Publicou 26 livros, dois deles na Europa.