Livro de Raphael Karan retrata viagens ao redor do mundo sobre duas rodas
A aventura é contada ao longo de 336 páginas ilustradas com 120 fotos, que vão além dos roteiros turísticos: com linguagem simples e divertida, Raphael constrói sua narrativa envolvendo o leitor em sua viagem de descobrimento, na qual viveu experiências, durante oito anos, com diversas culturas, entre aborígenes australianos, hospitaleiros iranianos, místicos sadhus indianos e despossuídos africanos subsaarianos. A narrativa vai revelando, a cada nova parada, detalhes da jornada, como as dificuldades enfrentadas nas fronteiras e a forma como preparava suas motos para um novo embarque.
Foram mais de 160 mil quilômetros rodados e 60 países visitados por Karan pelo Oriente Médio, Ásia, África, América do Sul, Central e do Norte, Europa e Oceania. "Uma das minhas preocupações neste livro foi propor uma reflexão também sobre os aspectos sociais de cada uma das civilizações por onde passei, sem deixar de mencionar as causas e os efeitos das muitas intervenções estrangeiras a esses povos", explica o autor, que também é colunista da Revista OS.
Confira o depoimento de Raphael Karan ao ICArabe sobre momentos de sua aventura pelo mundo:
A experiência no Oriente Médio
O Oriente Médio povoa meus sonhos desde criança. Durante os almoços de domingo, meu pai, que nasceu em Baskinta, Líbano, punha na “vitrola” para tocar seus discos com canções árabes. Lembro-me das fotos das capas com camelos, pessoas com túnicas, mesquitas e tamareiras. O velho Nametalla, este era seu nome, nunca teve oportunidade de regressar ao seu país. Eu acabei fazendo isso por ele e por mim. Caso tivesse que usar apenas uma palavra para descrever o Oriente Médio, seria: hospitalidade! Na verdade essa característica pode ser observada desde que se cruza o Bósforo. Turquia, Irã (a hospitalidade corre nas veias deste povo), Síria (idem), Líbano, Jordânia são exemplos de países onde, mesmo não necessitando de auxílio, ele lhe é oferecido. Pessoas ao ver a bandeira do Brasil hasteada na traseira da moto paravam-me e convidavam a pernoitar em suas casas: “venha para minha casa, lá você poderá descansar, minha mulher lavará sua roupa e lhe fará comida”. Neste momento, outro que escutara a conversa disse: “Vá, seja seu hóspede”. Aquilo que eu entendia por hospitalidade, era elevado exponencialmente a um nível para mim desconhecido. Eu agora cruzava os desertos, conhecia as incontáveis ruínas das primeiras civilizações, apreciava a deliciosa culinária local e fazia contato com aquele povo tão amável. Fui sim, a Baskinta ver as neves do Monte Sannin, que meu pai tanto contava, e achei numa igreja de pedra o livro que continha, há exatos 100 anos (foi em 2009), a certidão de batismo do meu saudoso pai.
Momento de maior tensão
Desde que atravessara o Estreito de Gibraltar, já havia cruzado 9 países africanos: Marrocos, Saara Ocidental, Mauritânia, Mali, Burkina Fasso, Gana, Togo, Benin e estava na Nigéria solicitando o visto no Consulado de Camarões, quando reencontrei um casal de sul-africanos que havia conhecido no Benim e que viajava num Land Rover. Ambos estavam muito assustados pela morte de um suíço que havíamos conhecido no Mali e viajava com sua esposa num enorme 4X4. Contraíra malária da pior espécie, aquela que ataca o cérebro e que, em poucos dias, se não tratada, pode ser letal, como foi. Conversamos demoradamente, fomos almoçar e após a retirada dos vistos combinamos de seguir viagem juntos, bem cedo, no dia seguinte. Voltei para a minha barraca onde estava acampado e não sei se fiquei sugestionado com a trágica história do suíço, mas o fato é que comecei a sentir uma leve dor de cabeça, algo que dificilmente tenho. Sintoma básico de malária. No dia seguinte, ao acordar, me sentia absolutamente fraco e mal podia ficar em pé. Fui a um hospital público e o diagnóstico foi que havia contraído não só malária, mas também tifoide (febre), consequência de ter cozinhado e também bebido água, apesar de fervida, de um poço no Benin.
Momentos marcantes
Neste período de viagem, ocorreu a dissolução do meu primeiro casamento, o falecimento de minha mãe, o final da minha carreira profissional como executivo e a dor da saudade dos familiares e pessoas do meu convívio. Porém, jamais teria conhecido habitantes locais de países tão longínquos, culturas tão diversas, experiências tão enriquecedoras, se houvesse optado por estar no conforto e segurança do meu lar e do meu trabalho. O balanço final é extremamente positivo e a sensação de realização é plena. Se soubesse que o resultado final seria esse, teria partido antes. Mas essa é a magia dos sonhos e das decisões. Optarmos pelo incerto, acreditando que há uma chance de concretizarmos nossos sonhos, nos faz tirar os planos da gaveta e colocá-los em prática. Tantos escritores nos dão seu exemplo de vida, mostrando que o sonho é possível e que as oportunidades devem ser criadas por nós e não dadas à revelia da sorte. Assim como eu fui inspirado por eles décadas atrás, gostaria também que o “Projeto 5 Continentes” fosse exemplo de sonho materializado para tantas pessoas que têm planos de tirar seus sonhos da prateleira e pô-los em prática.
Serviço:
Lançamento do livro “Projeto 5 Continentes - Uma Viagem de Descobertas Pelos Confins da Terra” (Editora RV- Richard Veiga)
Quando: dia 5 de novembro, terça-feira, das 18h30 às 21h30, com talk show às 20h
Onde: Livraria da Vila - Rua Fradique Coutinho, 915, Pinheiros.
O livro “Projeto 5 Continentes - Uma Viagem de Descobertas Pelos Confins da Terra” está disponível nas livrarias ou pelo site www.raphaelkaran.com.br