Milton Hatoum fala sobre literatura na USP

Qui, 19/11/2015 - 12:04
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O manauara e descendente de libaneses Milton Hatoum conversou com cerca de 60 pessoas sobre seus livros e a literatura de hoje no mundo na última quarta-feira (18), em evento na Universidade de São Paulo. O encontro encerrou o ciclo "Diálogos entre História e Literatura", realizado pelo Grupo de Pesquisa em História Intelectual do DH/USP  e a Revista Intelligere, em parceria com a Biblioteca Brasiliana Mindlin e o Programa de Pós-Graduação em História Social da USP. A conversa ocorreu na biblioteca.

“Falam que há um pessimismo machadiano (em minhas obras), mas é um pessimismo da literatura. No planeta em que vivemos, é difícil pensar em uma literatura mais edificante e menos amargurada”, afirmou. “O que eu tentei e ainda tento fazer, modestamente, é construir obras que transcendam a experiência individual”, salientou, sobre uma experiência do cotidiano que também tem relação com o coletivo.

Para o escritor, é preciso ser critico com o próprio trabalho. “Se eu escrever uma página por dia, isso deve estar um horror. Depois que acabar o romance, você vai fazer o que da vida, com o tédio?”, disse, provocando risos dos presentes. Ele também defendeu mais crítica na literatura. “No tempo que a gente vive, todo mundo é escritor. Da Bruna Surfistinha a outros. É fundamental a crítica, se não a literatura vira pastelaria. (O livro) “50 tons de Cinza” hoje é (considerado) romance”, criticou. “Hoje tudo é relativizado, tudo é arte, é preciso fazer uma intervenção artística”.

“Dois Irmãos” e “Órfãos do Eldorado”

Hatoum falou sobre seu livro “Dois Irmãos” e suas impressões sobre a boa recepção pelo público. “Uma coisa misteriosa da literatura é o leitor. Sabe quem formou o público (do livro)? Cheguei à conclusão que foram os professores, o trabalho em sala de aula. O livro também foi objeto de teses e ensaios nas universidades”.

Para o escritor, a obra, de 2000 - que conta a história de trama, ciúme, inveja e morte dos gêmeos Yaqub e Omar – mostra o “problema da ideologia”. “Se eles foram guiados por algum tipo de certeza, não haverá espaço para erros, traições, o que há de mais imponderável na alma”.

Os professores Julio Pimentel e Francine Legelski abriram o evento elogiando o livro, entre outras obras. “A leitura dos livros de Milton Hatoum é sempre igual e diferente. Tudo é divisão no romance Milton Hatoum”, disse Pimentel. Francine também falou sobre a oposição entre os protagonistas da história. “(São) dois irmãos com a aparência física igual, mas com comportamentos diferentes. Nasceram perdidos”, comentou ela, citando frase da personagem Domingas.

Ao site do ICArabe, Hatoum ainda falou sobre o filme “Órfãos de Eldorado”, que está em cartaz nos cinemas e é baseado em obra sua homônima. “Foi escrito um roteiro que contempla o essencial do livro, mas que opta mais por uma história de amor. Achei um filme bonito, com ótimas imagens, não é preciso comparar (os dois formatos)”, disse.

Para a professora de literatura Nathália Soares, 25, o melhor do encontro foram as reflexões do escritor sobre literatura. “(Gostei da) fala sobre as escolas e os professores. Divulgo muito as obras de Hatoum. Falta repertório (literário) hoje para os jovens”, afirmou.

Leia mais sobre o filme “Órfãos de Eldorado”: http://www.icarabe.org/noticias/orfaos-do-eldorado-milton-hatoum-na-telona